Metal Open Air: o pesadelo vira realidade

O Metal Open Air foi anunciado em novembro do ano passado como um sonho para os fãs brasileiros de Heavy Metal. O país ainda não havia presenciado nada nos moldes dos grandes festivais à céu aberto na Europa e a promessa desse evento trouxe ânimo a muita gente que se mobilizou, viajou de outros estados (e até de países) vizinhos para ver as bandas que tocariam em São Luis – Maranhão.

Era quase bom demais para ser verdade. O festival seria um marco na história do estilo. E foi.

O que era pra ser o maior festival de Metal do Brasil, com um line up de fazer brilhar os olhos de qualquer marmanjo tatuado, se tornou um fiasco sem tamanho.

O festival poderia ser lembrado por apresentações como a do Anvil, mas...

O cheiro do ralo

À partir da madrugada de quinta-feira, surgiram três anúncios oficiais por parte das bandas Venom, Hangar e Terra Prima, informando sobre o cancelamento de suas apresentações alegando falta de pagamento dos cachês, transporte, hospedagem e comunicação com os organizadores. E isso foi só a fumaça começando a aparecer.

Os fãs que chegavam se deparavam com as seguintes informações: a área de acampamento estava demarcada em um estábulo que sequer havia sido higienizado e o local reservado para banho era, na realidade, um bebedouro de cavalos. Além disso, faltava água, energia, caixas eletrônicos, banheiros e a praça de alimentação estava mal abastecida, contando com apenas algumas vendas.

Enquanto isso, uma após a outra, as atrações foram confirmando seus cancelamentos e motivos pelos quais estavam desistindo, todos relacionados a falhas de organização.

Desta vez, infelizmente, a coisa chega a um final muito triste aqui em São Luís. Devido a grandes problemas técnicos e administrativos, fomos forçados a cancelar o show de hoje.
Pelo que entendemos, parece que a produção local não tem sido capaz de garantir um ambiente próprio de festival. As coisas estão muito desorganizadas. Estamos muito tristes com esta situação totalmente insatisfatória, mas os erros cometidos pelo promotor local são enormes.
–Blind Guardian

Infelizmente, este foi o show que se viu

O primeiro show, na sexta-feira(20), que estava marcado para as 10h, teve início apenas às 15h, com os canadenses do Exciter. As bandas que deveriam tocar pela manhã e começo da tarde supostamente seriam remanejadas para outros dias. Apesar disso, o primeiro dia foi o menos problemático, por causa de uma forcinha do Dave Mustaine. Ainda havia, de alguma forma, a esperança de melhorias.

No sábado(21), houve outro atraso e as desistências das bandas já mostravam que o caminho talvez não tivesse volta. O cancelamento do festival era iminente. No entanto, ainda houve alguma resistência e uma tentativa de fazer o festival funcionar, apesar de sequer haver atrações para continuar.

No domingo(22), finalmente foi anunciado o cancelamento do festival. Não havia mais bandas, seguranças, som, iluminação ou qualquer estrutura. O que ainda não havia sido retirado, estava sendo desmontado sem que o público fosse sequer avisado. Era o fim.

Debandada das atrações

Durante o festival, o público não tinha acesso a informações por parte da produção do evento. Há relatos de que, quando se perguntava a alguém sobre o que estava acontecendo, apenas dizia-se que ninguém sabia de nada. As pessoas eram obrigadas a tentar saber de algo pelo que era falado nas redes sociais. A banda Semblant, de Curitiba, que também fazia parte do line up, soltou uma nota onde conta, entre outras coisas, sobre isso.

Corremos atrás por conta própria de cada informação que fomos obtendo nestes 3 dias de preocupações. FATO: Tanto a Semblant quanto os fãs ali presentes não tiveram assistência mínima por parte de nenhum dos produtores envolvidos. Fora a sequência de problemas com o evento em relação à segurança, retirada dos camarins, péssimas condições de camping para os fãs, retirada de equipamentos de luz e som por falta de pagamento e, por último, o ocorrido de hoje (22/04/2012), que foi a desmontagem geral e cancelamento oficial do evento. Podemos apenas partilhar o mesmo sentimento das pessoas que se frustraram em ter apostado em um evento que deveria somar como nunca para o Metal no Brasil, mas que acabou se tornando o maior transtorno e a maior vergonha.

Brigas, acusações, sequestro e outras polêmicas

Uma situação como essa dificilmente se desenrola sem versões diferentes, posicionamentos controversos e diversos tipos de histórias mal contadas. No caso do Metal Open Air, não foi diferente. Os organizadores do evento deram um show à parte, com várias declarações no mínimo curiosas. Twitter, Facebook e imprensa foram palco de acusações para todos os lados, principalmente dos produtores entre si próprios.

Até mesmo algumas bandas também se meteram em saias justas por terem manifestado apoio à organização do evento. Foi o caso do Edu Falaschi, vocalista do Almah,  que precisou se pronunciar, numa tentativa de minimizar a polêmica.

Felipe Negri, da Negri Concerts, uma das empresas responsáveis pelo M.O.A, diz ter sofrido agressão e sequestro por parte do seu parceiro Natanael Jr, da Lamparina Produções, que nega tudo. Também trocaram acusações sobre de quem seria a responsabilidade e de onde teria vindo o grande erro que provocou o desastre todo.

Esta é a nota pública da Lamparina Produções, na íntegra.

A Lamparina Produções, relativamente ao cancelamento do terceiro dia do evento M.O.A., tem a esclarecer o seguinte:
A Lamparina Produções lamenta profundamente e anuncia o cancelamento do terceiro dia de shows do Metal Open Air. No entanto, afirma que os problemas causadores da interrupção do evento não são somente de sua responsabilidade.
As bandas todas - salvo as que cancelaram antecipadamente e cujo cancelamento foi anunciado – estavam em São Luís; aquelas que deixaram de fazer o show o fizeram por iniciativa própria, apesar de terem recebido todas as condições exigidas, tais como som, iluminação, palco back line e camarins.
Cabia à Negri Concerts o contato, a contratação e a efetivação do pagamento de todas as bandas internacionais, exceto o Rock’n Roll All Stars. À Lamparina, no entanto cabia arcar financeiramente com essas contratações, que foi feito e pode ser comprovado através de documentos. Em relação à atração Rock’n Roll All Stars, seu cancelamento se deu em razão de divergências contratuais, como, por exemplo, a não vinda do ator Charlie Sheen e adicionais de custos não previstos em contrato.
Frize-se: as bandas estão pagas! As condições técnicas para a realização do evento foram todas disponibilizadas. As alegações de falta de segurança são falsas. Registre-se que o comportamento do público foi exemplar. Não houve, em qualquer momento, qualquer tipo de ameaça oriunda da plateia.
Como se disse, todos os contatos com as bandas eram por parte da Negri Concerts. Os representantes da Negri é que ordenaram ou orientaram as bandas a não realizar os shows. Todo o clima de terror que foi instaurado entre as bandas e os técnicos foi causado pela Negri, de onde partiu a ordem de não tocar.
Sobre a suposta agressão ao Sr. Felipe Negri, em nenhum momento isso aconteceu. Ele se recusou a colocar as bandas da noite de sábado, apesar de pagas. Além disso, quis retirar sua equipe técnica e se evadir do local. Foi sim exigida a sua presença e da respectiva equipe para a continuidade e segurança dos shows, em respeito ao público presente.
São Luís, 22 de abril de 2012
Lamparina Produções

Infelizmente, quanto maiores as expectativas, maior a decepção quando algo não sai como esperado.  Num caso onde praticamente tudo dá errado, é até de se surpreender que não tenham havido reações violentas generalizadas. Ponto para o público do metal.

Só resta esperar que este fracasso e o aparente descaso das produtoras não suje o nome do estilo definitivamente e inviabilize futuras iniciativas sérias.

Para quem foi lesado, o Whiplash fez um guia de como proceder para buscar os seus direitos.


publicado em 23 de Abril de 2012, 10:17
Avatar01

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no Youtube, ouvir no Spotify e ler no Luri.me. Quer ser seu amigo no Instagram.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura