Mavericks e a real celebração

Já era perto das 5h da manhã de segunda feira em Wurzburg quando o cronômetro em Miami zerou pela última vez. A cidade de cerca de 130 mil habitantes madrugou para acompanhar o feito de seu cidadão mais ilustre: Dirk Nowitzki.

Naquela madrugada de primavera, o jogador tornou-se o primeiro alemão a conquistar o título do melhor campeonato de basquete do mundo.

Nowitzki acordou no segundo tempo e decidiu o jogo (Foto: Reuters)

O título veio após uma série de partidas altamente equilibradas ante o Miami Heat, time badalado por contar com o big three: Dwayne Wade, Chris Bosh e LeBron James. O Dallas Mavericks, time de Nowitzki, vinha de uma vitória no jogo 5 e precisava de mais um triunfo para arrematar o campeonato. E com uma vantagem rara para a série final, assim se deu: Dallas 105 x Miami 95.

Tamanho não é documento

A partida começou nervosa, com o time da casa pressionando e pressionado. A torcida, em grande número, fez a sua parte. No entanto, pouco adiantou. O jovem técnico Erik Spoelstra não conseguiu capitalizar essa vibração extraquadra e o time se desestabilizou mentalmente.

O mais afetado certamente foi LeBron James. Depois de semanas em busca de auto-afirmação, o camisa meia-dúzia parecia anestesiado. Suas poucas enterradas e batidas para dentro não foram pares para seus lances bisonhos e displicentes. Ao final da partida, mesmo marcando 21 pontos, o “escolhido” distribuiu declarações alfinetando os críticos ao dizer que a vida deles “ainda era uma droga”. Nesse sentido, o tamanho do ego não ajudou.

Pelo lado texano, os pequenos foram notáveis. Com Dirk apagado no primeiro tempo, Jason Terry carregou o time nas costas. Anotou oito de dez arremessos, incluindo três tentativas de três pontos. Acabou o jogo com 27 tentos.

Outro “pequeno” destaque foi José Juan Barea, que ante a pressão dos bad boys de Miami não vacilou. Com velocidade e muita raça, ajudou a minar o já apático sistema defensivo do Heat. O porto-riquenho anotou quatro de cinco tentativas de três, somando 17 pontos. Sendo um par deles, uma bandeja no melhor estilo NBA Jam para caras baixinhos. Baixinho em termos, pois J.J mede 1,83 m.

J.J. Barea, o "baixinho" que se agigantou nos playoffs

Não foi só Dirk Nowitzki que realizou o sonho de sua vida. Aos 38 anos, o armador bicampeão olímpico Jason Kidd levantou pela primeira vez a taça máxima do basquete americano. Inclusive o relógio da partida zerou com a bola em suas mãos. Kidd havia sido duas vezes vice-campeão, quando jogava pelo New Jersey Nets. Ao voltar para seu primeiro time, encerra o ciclo e possivelmente a carreira com a glória do título.

Quem jogava NBA Jam no Super Nintendo, raramente escolhia o Dallas Mavericks. Tão pouco o Miami Heat. Eram times fracos sem nenhuma estrela. Fato que mudou completamente na última década.

O Mavericks surgiu no ano de 1980 e o Heat em 1988. Comparada a clubes de futebol, a ascensão desses times, além de meteórica, foi antes de tudo possível. É a prova que o sistema de franquias funciona e estimula a competitividade. Claro que há muito dinheiro envolvido nisso tudo. Mas não podemos tirar o mérito da estrutura e do formato.

Um formato que permitiu um garoto do interior da Alemanha sonhar. Permitiu também que esse sonho se realizasse. E talvez seja essa a real celebração.

 


publicado em 14 de Junho de 2011, 09:06
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Flaco Marques

Rapaz do interior de SP que vive suas desventuras na cidade grande. Poliglota valente, busca equilibrar o jeito cosmopolita de ser com a simplicidade caipira de viver.


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