Marilyn Monroe | Mulheres que você deveria conhecer #7

Muito mais do que um ícone de sensualidade, Marilyn Monroe era apaixonada por literatura e, sim, seria feminista

Conhecida mundialmente como Marilyn Monroe, no dia 1º de junho de 1926 nasceu Norma Jean Mortenson ou Norma Jean Baker, em Los Angeles.

Norma Jean não foi sempre a Marilyn que conhecemos

O problema com o sobrenome veio de Gladys Pearl Parker, sua mãe, que na época era casada com Edward Martin Mortensen, mas havia tido um caso com o companheiro de trabalho, Charles Stanley Gifford. Ela não sabia quem era o pai da menina; Mortensen sempre negou a paternidade e Gladys teria confidenciado a pessoas na época que Gifford seria o pai verdadeiro de Norma.

Gladys sofria com a esquizofrenia e passou boa parte da vida em instituições psiquiátricas enquanto Norma e seus irmãos cresceram entre lares adotivos e orfanatos. Diziam que ela tinha vergonha da situação da mãe e preferia dizer que era órfã.

Aos 16 anos, casou-se  com James Jim Dogherty na tentativa de se livrar da vida do orfanato.

Com a eclosão segunda guerra mundial, quando o marido foi à guerra, ela começa a trabalhar em uma fábrica de equipamentos militares. Lá conhece um fotógrafo que a inicia na carreira de modelo. Depois de posar nua por apenas 50 dólares para um calendário clicado por Tom Kelley, seu rosto começa a ganhar destaque pelos Estados Unidos. Calendário esse que foi vendido em 1953 para a Playboy em uma edição especial.

De Norma a Marilyn

Aos 20 anos e já divorciada, a agora modelo é chamada para um teste para começar a atuar em filmes da Fox Films, onde enfrentou seu primeiro desafio: provar que uma mulher que posa nua poderia se tornar estrela de Hollywood, especialmente numa época dicotômica que relegava a mulher o espaço doméstico ou a devassidão, sem meio termo.

A questão foi levantada pelo produtor e um dos fundadores da emissora, Darryl Zanuck, que sugeriu à Norma um nome mais atrativo - Marilyn Monroe - com a premissa de ser mais um rostinho bonito.  

Ela ganha papéis nos filmes A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz e O Segredo das Joias, de John Huston. Seu rosto ganha destaque e a Fox decide investir de verdade na estrela, que se submete a fazer uma mudança radical no visual: adota os cabelos platinados, faz cirurgia nos seios e no rosto e vira a figura icônica que conhecemos.

Nos primeiros grandes papéis, aceita encarnar o estereótipo da loira burra. É o caso dos títulos Só a Mulher Peca, Torrente de Paixão, Como Agarrar Um Milionário, Os Homens Preferem as Louras, O Pecado Mora ao Lado, entre outros.

Em 1954, em meio ao auge do sucesso, Marilyn se casa com o astro do baseball Joe DiMaggio, que era conhecido pelo ciúme possessivo. As brigas do casal eram sempre assunto para a mídia na época. O livro A vida secreta de Marilyn Monroe, de J. Randy, conta que Joe teria batido na atriz em seu quarto de hotel após as filmagens de uma das cenas mais famosas de sua carreira: seu vestido subindo com o ar do metrô, em O Pecado Mora Ao Lado. O casamento durou apenas nove meses.

No ano seguinte, Marilyn decide tentar se livrar da imagem de mulher fatal atrelada à sua figura para mostrar ao mundo que é muito mais do que um corpo. A atriz se cansa do estereótipo repetitivo do qual a Fox não lhe permitia sair e dos salário injusto, muito inferior a outros profissionais da área como Frank Sinatra.

Mulher, atriz e empresária

Muda-se então para Nova York e ingressa na escola de atores Lee Strasberg. A atriz, que sempre administrou seus negócios sozinha, funda sua produtora, a Marilyn Monroe Productions, que tinha mais da metade do quadro de funcionários formada por mulheres.

Depois de engrenar com sua produtora e ingressar também no Actors Studio para estudar arte dramática, Marilyn comprou uma briga judicial com a Fox por quebra contratual - ela não estava satisfeita com as condições de trabalho que, na época, pagava muito pouco e não a deixa ter domínio de suas produções.

Foi ridicularizada pela imprensa por conta da sua atitude, mas saiu por cima ao ganhar a briga e ser chamada de empresária astuta pela revista Time. O acordo foi um novo contrato de sete anos que incluía quatro filmes, ao preço de 100 mil dólares por cada um e autonomia do conteúdo, diretores e produtores das produções.

Em 1956, a atriz casa-se com o dramaturgo Arthur Miller, e mais uma vez foi alvo de críticas, já que o casal era retratado pelos tabloides estadunidenses como a “loira burra” e o “cara inteligente”.

Marilyn e Arthur

Dois anos depois, Marilyn aceita viver o papel de loira burra mais uma vez, mas agora com um salário maior e uma autonomia de 10% dos lucros do filme Quanto Mais Quente Melhor. A produção foi difícil, já que a atriz se atrasava muito para as gravações e não se lembrava das falas e, quando lembrava, exigia gravá-las novamente até ficarem “perfeitas”. Apesar dos problemas durante as filmagens, o  papel de Sugar lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz daquele ano.

Na mesma época do filme, Marilyn, que sonhava em ser mãe tentava engravidar a todo custo, sofreu diversos abortos e sua frustração causou atritos no casamento.

Na tentativa de inserir a mulher em um papel dramático, Arthur Miller escreve Os Desajustados. A produção foi um caos só, já que a mídia apontou que Marilyn estava tendo um caso com Yves Montand, colega de cena, e usou esse boato para divulgar o filme. Por causa de diversos problemas pessoais, que incluem atrasos na produção e conflitos com atores no set de filmagens, a Fox começa a se irritar com a atriz. Nesse mesmo período, Miller anuncia o fim do casamento de quatro anos.

Declínio doloroso

Foi aí que o colapso de Marilyn começou, com o uso excessivo de remédios controlados e álcool. Truman Capote queria dar a ela o papel de Holly em Bonequinha de Luxo, mas os produtores temiam a falta de comprometimento da atriz com o projeto.

Em seu último e inacabado filme, Something's Got to Give, do qual foi demitida pela Fox por diversos atrasos e problemas pessoais, Marilyn, visivelmente cansada de lutar contra a imagem de sex symbol, deixou ao mundo uma lembrança formidável de algo que ela sabia fazer como ninguém: chamar atenção. Apesar de suas tentativas de fugir do estereótipo sexual, a atriz cedeu e, em uma das poucas cenas concluídas do filme, Marilyn aparece nua em uma piscina. A foto, que foi capa de diversas revistas na época, como a Life, dava ao mundo uma última visão daquele ícone que nunca vamos esquecer.

Sua morte prematura, aos 36 anos de idade, vítima de uma overdose de remédios, ainda gera muita discussão, já que estudiosos e biógrafos garantem que ela não tinha motivos para se suicidar. Esses mesmos que mostraram ao mundo uma Marilyn que poucos conheciam, um ser pensante, inteligente, que amava ler e escrever.

Dentre os autores que ela mais gostava estavam nomes como Gustave Flaubert, Ernest Hemingway, Robert Frost e Edgar Allan Poe. Segundo relatos, um de seus sonhos em vida era interpretar Dostoiévsky, autor de Crime e Castigo.

Em 2011, no livro Fragmentos, foram reunidos diversos trechos de cadernos rabiscados, cartas e até poemas escritos por ela. Textos sensíveis de uma mulher que sempre esteve lá, mas era abafada pela mídia que a botava em um esteriótipo de símbolo sexual.

As contradições de Norma

Essa mesma pessoa está no documentário, Love, Marilyn, que deixa a sensualidade de lado pra falar sobre Norma Jean Mortenson, a mulher por trás do aprisionante estereótipo de Marilyn Monroe.  A versão Norma da história é defendida por diversos biógrafos da atriz, como a mais recente Lois Banner, autora de Marilyn: The Passion and The Paradox, de que ela mesma criou sua carreira e não fez o que lhe mandaram como muitos dizem.

Sua vida foi uma eterna contradição, já que Marilyn, para agarrar oportunidades, aceitou o esteriótipo de loira burra, mas cansou de ser engolida pela mídia machista que criava história demais. Sempre foi contra a picaretagem de Hollywood, que pagava salários menores às mulheres e a tratavam como uma prostituta, mas, para chegar onde chegou, teve que dormir com diversos produtores e nunca negou isso a ninguém.

Nunca saberemos o que aconteceu naquele 5 de agosto de 1962, data de sua morte. O fato é que historiadores e fãs, assim como eu, não acreditam que ela tinha motivos para tirar a própria vida. Pela primeira vez na vida, Marilyn estava aceitando quem realmente era e não escutava mais o que os outros diziam. Ela, que se fabricou para se encaixar numa sociedade machista, estava deixando Norma Jean aflorar.

Na tentativa de ser a atriz que queria ser e pela falta de meios pelos quais as mulheres podiam ser bem-sucedidas sem serem relegadas à venda de sua sexualidade, Marilyn rendeu-se. Mas sua reviravolta contra a Fox e a inteligência com a qual criou e geriu sua própria carreira dizem muito de quem esta mulher poderia ser.

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A coluna Mulheres que você deveria conhecer nasceu há pouco tempo, e desde então temos publicado textos biográficos dos mais interessantes. Se você pensou em uma mulher sobre a qual gostaria de ler e está disposto a escrever com a gente, me manda um e-mail em conteudo@papodehomem.com.br com assunto "Mulheres que você deveria conhecer | artigo".


publicado em 05 de Agosto de 2016, 10:25
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Talita de Alencar

Talita Alencar, jornalista, fotógrafa, sagitariana, cinéfila e autora do Banal e Genial. Não confia em pessoas que não tenham sonhos e ambições. Ainda sonha em casar com o Adam Levine.


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