Livros, vídeos e filmes para conhecer melhor a pornochanchada

Muito além de Dona Flor e Dama do Lotação, tudo o que você precisa pra entender os filmes que marcaram uma época do cinema brasileiro

A pornochanchada não é gênero de cinema. No Brasil, esse formato transformou-se em estilo de vida, tendo cravado raízes em parte de nossa história e cultura. Uma expressão artística derivada da liberação dos costumes dentro de uma explosão do mercado cinematográfico comercial no país.

As limitações orçamentárias, logo no início, deram ao gênero um, digamos, charme. Um charme bastante peculiar, que foi mantido mesmo com o crescimento de investimentos. Havia uma assinatura e ela precisava ser mantida. Logo, as produções experimentais não possuíam o menor pudor na hora de provocar o telespectador com cenas, ângulos e diálogos intensos, na contra-mão de qualquer paumolice do cinema tradicional.

"Ainda Agarro Esta Vizinha” e “A Viúva Virgem”, dois dos maiores sucessos da história do cinema brasileiro já traziam no título o despertar de estranheza que a pornochanchada promovia, gozando de uma comédia popular urbana de fácil identificação.

É claro que o tom muitas vezes apelativo e grosseiro trouxe inimigos. Grupos se formaram em meados da década de 70 para impedir a distribuição dos filmes. Porém, algo de extrema importância mantinha a produção frequente: o lucro. Havia mercado para o gênero que insistia em produções focadas na humanização do erotismo cotidiano.

Assim, ficaram os grandes personagens desenvolvidos na Boca do Lixo, no bairro da Luz, em São Paulo, com 9 das 25 maiores bilheterias do cinema brasileiro no final dos anos 70. Filmes que influenciaram durante bons anos a cultura e o cinema brasileiro.

Estes, felizmente, registrados em livros, documentários que, para quem deseja conhecer melhor esse capítulo da nossa produção artística, merecem o reconhecimento.

Livros

A Autobiografia do Rei da Pornochanchada

David Braga era o Pelé da Pornochanchada. O Elvis Presley. O Jader Pires. Nesta famosa autobiografia, ele conta bastidores das mais de 80 produções que participou. Histórias que atravessam décadas do cinema nacional.

Boca de São Paulo

Quarto trabalho da escritora Nicole Puzzi. Ela relata o universo das produções nacionais e destaca a importância do gênero para o desenvolvimento do cinema brasileiro. Fala também sobre olhar da censura vigente na época.

Documentários e Vídeos

Boca do Lixo: a Bollywood Brasileira

Link Youtube

Talvez, um dos melhores compilados sobre a nossa pornochanchada.

São cinco episódios de 26 minutos produzidos pelo Canal Brasil com entrevistas, imagens da época e muitas histórias.

Do Triunfo à Queda

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Documentário bastante sincero sobre a Boca do Lixo. Relatos que só reforçam a loucura que foi viver aqueles anos e fazer história no cinema brasileiro.

As 10 Maiores Pérolas da Pornochancada

Link Youtube

Trabalho bastante honesto dos nossos amigos do Lista 10, com frases marcantes da década de 70. Certamente você já recebeu um dessas por aí. Um copilado e tanto.

Filmes Indispensáveis

Qualquer lista de melhores é arriscada no PapodeHomem e na selva (Internet). Mas vamos arriscar.

Aqui vai a nossa lista de 7 melhores filmes de pornochanchada de todos os tempos.

Segura esse caralho voador.

7. A Viúva Virgem

O coronel Alexandrão é um rico fazendeiro de Minas Gerais que morre na lua-de-mel, deixando viúva (e virgem) a jovem Cristina. Para superar a tristeza, ela vai para o Rio de Janeiro passar uns tempos, no apartamento que herdara do coronel.

O imóvel, porém, fora invadido por Constantino, sua irmã Tamara e o amante dela, Paulinho. Antes de Cristina chegar, o grupo desocupa o apartamento, mas Constantino resolve conquistar a viúva e dar o golpe do baú. Para isso, passa-se por milionário. O fantasma do coronel, porém, não está disposto a permitir que outro homem se aproxime de sua amada.

6. A Super Fêmea

Uma bela modelo é contratada para fazer a campanha de uma pílula contraceptiva para homens. O problema é conquistar a confiança do público alvo, uma vez que todos desconfiam que o tal produto pode causar impotência.

Com Vera Fischer, Perry Salles e Silvio de Abreu.

5. Ainda Agarro Esta Vizinha

Nessa história há um publicitário que não gosta de trabalhar e está constantemente sem dinheiro – quando a gente diz que a pornochanchada retrata o cotidiano, tá falando sério.

O cara aluga o apartamento para casais. Certo dia, ele avista pela janela de outro apartamento a bonita Teresa e se apaixona por ela. Mas a moça mora com sua madrinha Olga, que quer que ela se case com Bob Simão. Teresa se interessa por Tatá e aos poucos, aceita namorar com ele, mesmo a madrinha o ameaçando.

Juro que é massa.

4. Bem Dotado, o Homem de Itu

Um clássico com Nuno Leal Maia. O pobre caipira ingênuo de Itu é levado a São Paulo para trabalhar em casa de alta classe. Mas é seu outro "dote" que acaba interessando.

3. As Histórias que Nossas Babás não Contavam


 

Uma sátira espetacular da história da Branca de Neve. Clara das Neves, é a filha de um rei que acaba de morrer e, em decorrência da morte do pai, seu protetor, ela passa a ser perseguida por sua madrasta, uma malvada ninfomaníaca invejosa. O caçador torna-se amante da bela princesa e sem coragem de matá-la, deixa-a na floresta, na companhia dos sete anões.

Leia essa sinopse e me diga: tem como esse filme ser ruim?

Tem não.

2. As Cangaceiras Eróticas

As filhas de um cangaceiro morto pela polícia são escondidas num orfanato. Quando as duas viram adultas, partem para a vingança usando a melhor arma que conseguem: o sexo. Com Sonia Garcia e Helena Ramos.

1. Nos Tempos da Vaselina

Mais uma tremenda sátira do cinema americanos. O alvo da vez: Greese, com John Travolta). No enredo do filme brasileiro, um caipira vai ao Rio de Janeiro tentar se dar bem com as mulheres cariocas. A direção é do José Miziara, que também fez Oscaralho: O Oscar do Sexo Explícito.

Mas por que a pornochancada acabou?

Enfraqueceu, na verdade. E por uma série de fatores. Entre eles, a saturação do tema, o esgotamento estético e a diminuição de investimento em cinema brasileiro na metade da década de 80. Outro fator determinante foi a popularização do pornô hardcore em VHS, afetando drasticamente o consumo e o público em salas de cinema do país.

É claro que o cinema brasileiro também surfou nessa onda. Em 1984, Raffaele Rossi lançou “Coisas Eróticas”, considerado o primeiro filme pornô brasileiro e um fôlego para o gênero no país. Foram mais de 4 milhões de espectadores, incentivando as produtoras a apostarem no gênero. Contudo, atores consagrados na pornochancada, como Alfredo Sternheim, Álvaro Moya, Antônio Meliande, David Cardoso e Fauzi Mansur recusaram participações em filmes mais hardcores.

Com custo ainda mais baixo, o pornô explícito abocanhou o mercado com facilidade, enfraquecendo a pornochanchada até o seu completo esquecimento.

Esquecimento nas bilheterias e cartazes, claro. Afinal, estamos falando de histórias. Daquelas que, nas mãos de um bom contador, só reforçam a importância desses desbravadores do cinema. De quem incentivou muita gente boa a produzir e atuar.

E de frases ótimas. Com erotismo e humor. Algo que conhecemos bem e perdura no nosso jeito de fazer cinema.

É por isso que nós fazemos o melhor cinema brasileiro do mundo. Porque não esquecemos de onde viemos.

Mecenas: Magnífica 70

Link Youtube

Quando a realidade se torna insustentável, a ficção é a única saída.

A década de 1970 representou anos incríveis: se a realidade era dura, a solução era encontrar fugas. Fossem elas as músicas de Jimi Hendrix; as atuações de Marlon Brando; as jogadas de Pelé; ou a liberdade sexual. Imersa nessa atmosfera,Magnífica 70 mostra o confronto entre o desejado e o proibido, a vontade e a repressão, a liberdade e o preconceito.

Na primeira temporada disponível na HBO GO, Vicente é um paulistano que leva uma vida acomodada e reprimida até começar a trabalhar na produtora de filmes Magnífica e se envolver em golpes e triângulos amorosos. Mas Dora, uma atriz sedutora e viciada, retorna nesta segunda temporada para enfrentar seus dilemas, tentar se livrar da polícia e entregar a conta da farra.

A segunda temporada de Magnífica 70 será transmitida todos os domingos às 22h na HBO Brasil, e os episódios também estarão disponíveis na HBO GO simultaneamente.


publicado em 20 de Outubro de 2016, 00:05
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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