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Quem nunca entrou em uma discussão e, horas depois dela já ter acabado, pensou em uma resposta com aquela sacada genial que deixaria o oponente no chão? Dá um pouco de raiva?

Ok. Vamos voltar duas casas.

Por um lado, é legal ter em mente que a pessoa com quem você estava discutindo talvez não mudasse de ideia mesmo com a tal resposta avassaladora, e isso não a faz pior ou melhor: só mostra a existência de situações nas quais precisamos concordar em discordar. 

Por outro, essas mudanças de pensamento muitas vezes só não ocorrem porque a maneira como o diálogo é construído não permite uma troca genuína de informações, transformando tudo no famoso apontar de dedos na cara com sacadas geniais. E é aí que a coisa fica perigosa, porque isso acaba servindo mais para tornar as conversas raivosas e menos para gerar discussões que de fato sejam proveitosas. É como dissemos no texto "Aos amigos de homens birrentos":

Se a gente realmente quisesse o bem de quem gostamos invocaríamos, em poucas e necessárias ocasiões, o recurso "senta e escuta", exatamente como fazemos com as crianças. Falar o que precisa ser dito, sem camadas de raiva, inveja, ansiedade ou receio, apenas um belíssimo filé mignon de compassiva honestidade – diante do qual qualquer sujeito minimamente interessado em ser uma pessoa melhor não faria algo diferente de escutar, agradecer e devorar as palavras endereçadas a si. 

Mas não é como se o exercício da comunicação não-violenta ou a gestão das críticas e opiniões de terceiros fossem coisas simples. Elas podem trazer à tona incertezas e fazer com que comecemos a nos preocupar com coisas que até então eram imperceptíveis. 

É uma via de mão dupla enfrentada por todos: o receber críticas e o "revidar" críticas. E quando, somadas à prisões masculinas, elas ocorrem em contexto de exposição pública, a tarefa pode ser ainda mais desafiadora, abrindo espaço até para certas paranoias. 

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Esse foi um pouco do papo que tivemos com o PC Siqueira no sétimo episódio da nossa série de relatos. Youtuber, ele está constantemente exposto à comentários negativos (e positivos também), afinal são mais de 2 milhões de inscritos no canal, 800 mil de seguidores no Instagram e quase 1,9 milhão no Twitter

Conversando com a gente, ele contou sobre as inseguranças construídas pelos julgamentos de quem o assiste, compartilhou percepções a respeito de como a masculinidade, da maneira como vem sendo contada, pode afetar a forma de se comunicar e responder à mudanças, além de mandar um recado claro: na verdade, a opinião das pessoas importa. 

Se você compartilha do mesmo sentimento, fica mais importante ainda voltar aquelas duas casas, dar uma respirada e repensar como estamos construindo nossas relações. No fim das contas, o dedo do outro na sua cara não vai ser resolvido com o seu dedo na cara do outro.

Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série <a> Nossa História Invisível</a>