Lições de paternidade escritas em linhas tortas

Não há um momento exato em que o homem se torna pai. Ou melhor, há sim, mas este momento não pode ser definido. Para alguns, o pai nasce junto ao filho, no instante em que seu rebento chega ao mundo. Para outros, o pai surge na educação da criança, legitimando a paternidade, por exemplo, de pais adotivos.

Sendo este momento indefinido, talvez os próprios pais não percebam que são pais. É neste momento que eles erram, que agem mal. Isso é compreensível: paternidade não vem com manual de instruções.

Algumas das falhas dos pais, inclusive, servem para tornam seus filhos homens melhores. Seja por observação, como falado no texto "O líder ensina pelas costas", ou de maneira direta, o filho absorve lições que carregará para toda a vida, mesmo que essas lições foram escritas em linhas tortas, como essas abaixo.

1. Meu pai traiu minha família. Por isso cresci moralmente.

Esta história aconteceu com um dos amigos do PdH. Ele preferiu manter-se anônimo.

"Eu tinha 10 anos quando minha família descobriu que meu pai tinha outra família. Uma mulher com duas filhas. Meu pai estava quase para adotar as meninas. Foi um caos. Uma noite, ele me chamou para dar uma volta de carro na rua. Mais que isso, faz com que os filhos cresçam mais.

— Meu filho, pais fazem cagadas.

Ele me explicou que os pais não são heróis. Que erram. Isso foi importante. Hoje eu vejo muitos pais que temem traumatizar os filhos e, por isso, os mimam. Eles não percebem que os filhos não deixarão de amá-los se fizerem alguma merda."

2. Meu pai foi um cabeça-dura. Por isso entendo a relação entre ação e reação.

Esta história foi contada por Felipe Franco.

"Meu pai já ocupou cargos altos. Ele era gerente de uma empresa de inspeção automotiva e, quando as empresas pararam de contratar este serviço terceirizado, ele foi demitido. Desde então, passou boa parte da vida pingando de emprego em emprego, pois sempre brigava com os chefes. Isso me mostrou que toda ação gera uma reação, que tudo tem consequências."

3. Meu pai me fez repetir de ano. Por isso sei me virar.

Esta história foi contada por Roberto Del Grande.

"Minha mãe sempre fazia questionário das matérias quando tinha prova no colégio. Eu sempre estudava apenas aquilo, a pergunta e a resposta que ela fazia. Passava o dia decorando todas elas e sempre me saía bem, inclusive na hora da prova. Isto foi até a sétima série.

Um dia, meu pai disse que não era para fazer mais isso, que eu precisava estudar sozinho e aprender a fazer meu próprio resumo de estudo. O corte foi drástico. Consequência: rodei no mesmo ano.

Mas depois, fui aprendendo a me virar sozinho e voltei a ter notas boas. Passei de ano e aprendi a me virar."

4. Meu pai não me dava grana. Por isso sou desapegado.

Meu pai nunca me dava grana. Por isso, eu comecei a trabalhar com 12 anos. Meio período. A função que eu exercia naquele mercado não tem nome, mas se eu fosse registrado, estaria grafado na carteira profissional “pacoteiro que tira chicletes do chão”. Eu era bom nisso. Com uma espátula na mão, era invencível. Assim, eu nunca precisei de mesada. Desde adolescente aprendi a ganhar minha grana. Isso foi fundamental para formar um homem responsável com o seu dinheiro.

Também ele vetava pizzas e junk food. Fui criado no arroz e feijão, salada e bife. Lá em casa, comer uma pizza era algo raro, reservado praticamente para ocasiões especiais. O mesmo se aplicava a refrigerante, sorvete e guloseimas. Eu também fui um dos últimos da rua a ter CD player e nunca tive um boneco do Comandos em Ação para chamar de meu. Talvez por isso eu seja desapegado ao ponto de ter um celular da última moda de 2002.

Ao meu filho, que um dia deve aportar neste mundo ultraconsumista, deixarei a mesma lição de trabalho duro e desapego.

5. Meu pai me deixou sozinho. Por isso sou independente.

Esta história foi contada por Guilherme Nascimento Valadares e eu reproduzo aqui com minhas palavras.

"Eu fui convidado ao casamento de uma menina com quem eu nem tinha muita amizade. Ela tinha 15 anos e estava grávida. Eu estava na oitava série. No dia, meu pai me deixou na frente da igreja, mas não havia gente alguma. Ele disse para eu descer do carro.

— Não, pai. Não tem ninguém ainda.

— Desce, meu filho. Um homem deve saber ficar sozinho.

Desci. E descer daquele carro enquanto estava sozinho me fez ser independente, não precisar de companhia todo o tempo."

 

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Dois filhos sortudos vão levar a adega com 23 vinhos da importadora Viníssimo. Esta é a diferença entre "lembrancinha" e "um presente para se lembrar".


publicado em 05 de Agosto de 2011, 05:02
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Rodolfo Viana

É jornalista. Torce para o Marília Atlético Clube. Gosta quando tira a carta “Conquiste 24 territórios à sua escolha, com pelo menos dois exércitos em cada”. Curte tocar Kenny G fazendo sons com a boca. Já fez brotar um pé de feijão de um pote com algodão. Tem 1,75 de miopia. Bebe para passar o tempo. [Twitter | Facebook]


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