era uma vez um homem rico que pediu a um mestre zen um quadro com uma mensagem inspiradora sobre sua família.
o mestre pegou tinta e papel e, em uma caligrafia bela e elaborada, escreveu:
avô morre.
pai morre.
filho morre.
o homem ficou furioso:
“está louco? por que está rogando praga contra a minha família?!”
e o mestre respondeu:
“não é o praga. é a maior felicidade que um homem pode desejar: tornar-se avô e morrer antes de seus filhos e de seus netos. e quer maior felicidade para uma família que nenhum pai morra antes de seu filho?”
* * *
outro dia, passando pela praia, fiquei maravilhado:
“que céu azul, que mar lindo, que dia perfeito. pena que daqui a pouco eu vou ter que morrer e não vou mais poder ir à praia, né?”
parei um pouco pra digerir a enormidade disso, e me bateu a porrada:
“e se eu fosse morrer amanhã, ou na semana que vem, o que eu gostaria de estar fazendo hoje, agora?”
aí, eu joguei pro alto a besteira que eu ia fazer, saltei do ônibus e fiquei ali mesmo.
se alguém tivesse me perguntado:
“alex, por que você desmarcou aquele compromisso e passou a tarde inteira na praia?”
minha única resposta sincera seria:
“porque eu vou morrer.”
* * *
as pessoas dizem que sou mórbido.
talvez.
mas vivo cercado de pessoas não-mórbidas, que acham que não vão morrer nunca, e passam horas e dias e semanas enfurnados em escritórios fazendo coisas que não gostariam de estar fazendo, porque querem acumular dinheiro para comprar objetos que não precisam e economizar para uma aposentadoria que pode nunca chegar.
* * *
quando eu dava aulas em uma universidade e as pessoas alunas começavam a surtar antes da prova final, eu dizia algo mais ou menos assim:
“pensem comigo. somos todas primatas sem alma, vivendo vidas sem sentido, presas na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pelo vazio do espaço, destinadas a morrer em breve, junto com todas nossas pessoas queridas, assim como nossos países, nossas culturas e nossos idiomas, que vão desaparecer também, aquecidos por um sol que logo se auto-destruirá, levando com ele tudo o que já conhecemos. então, sinceramente, no grande esquema das coisas, que importância pode ter essa prova?”
* * *
quando lembro que vou morrer, tudo fica mais simples, mais gostoso, menos estressante. a caixa do banco foi grossa comigo? o outro motorista me cortou? o garçom trouxe a sopa fria?
“é, mas e daí? eu vou morrer, em breve e para sempre. então, tudo bem.”
* * *
todo dia, o facebook nos inunda com mensagens inspiradoras e motivacionais:
mensagens que nos inspiram a um egocentrismo cada vez maior (afinal, somos únicas e especiais!)
mensagens que nos motivam a nunca viver em sua plenitude o momento presente (afinal, tudo vai dar certo e o futuro será incrível!)
para as pessoas que, como eu, estão insatisfeitas com essas mensagens e buscam outras inspirações e outras motivações, ofereço as imagens abaixo:
podem compartilhar à vontade.
(imagens by william alves, da coruja comunica.)
* * *
para acompanhar meus textos e ler tudo em primeira mão, assine o meu newsletter.
por que escrevo em minúsculas? por isso.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.