Outro dia, refletindo sobre como fazemos as coisas na agência, eu e um amigo, Diretor de Arte, nos perguntamos se não estávamos sendo pagos para ir embora. Esse questionamento surgiu quando vimos mais um trabalho saindo das nossas mãos sem que estivesse realmente bom, de acordo com nossos critérios. Se você tem a sensação constante de que poderia ter feito melhor, você está sendo pago para ir embora e não para produzir.
Isso é um erro da empresa, um erro com várias faces. E claro, culpa sua. Até porquê, ninguém erra sozinho.
Antes de qualquer coisa, esse não é mais um daqueles textos “largue seu emprego inútil e vá fazer o que sempre sonhou.” Essa lenda burguesa do século XXI já recebeu, justamente, o selo de falácia. Na vida real, onde a conta de luz continua chegando, estejamos felizes ou não, as coisas são um tantinho mais complicadas. Eu não posso simplesmente abandonar tudo e ir vender minha arte na praia, escrever belos textos no Medium e achar que sei tudo sobre a vida. Não é assim que funciona para 99% do mundo.
Por outro lado, isso não justifica, de modo algum, que alguém deva permanecer trabalhando ou se esforçando em um emprego que não irá oferecer nada, seja em relação a crescimento profissional ou pessoal. Eu já fui infeliz em alguns dos empregos que tive, e lidei com isso de formas completamente diferentes. Em cada uma deles aprendi uma coisa e no final saí com uma lição: não duvide de seus instintos.
O cérebro humano é uma máquina ultra inteligente e, por isso, não conta tudo que sabe pra gente. Não de forma simples e direta pelo menos, ele fala através de instintos. Desde os mais primitivos, como não encarar ninguém no elevador, por exemplo, aos mais modernos como aquela última dose de vodca que não deveria ser pedida, muito menos consumida. Essas mensagens vem de todas as formas, mas nem sempre é fácil interpretá-las. Pior ainda é que, na maioria das vezes, elas são ignoradas.
Qual foi a última vez que você trucou alguma dessas mensagem que seu corpo te manda e deu tudo certo? Ignorar um instinto do tipo, “isso vai te fazer mal” ou, “eu deveria sair deste emprego” vai acabar levando as coisas por um caminho, às vezes, sem volta.
Certa vez eu pedi demissão de um emprego para provar que eu estava certo. Eu havia cansado de tentar ajudar, de acabar com a minha vida fora da empresa para fazer as coisas darem certo. Como eu sabia da importância que tinha, resolvi sair, para que a diretoria visse o que eu via.
Dois meses depois, após fazerem as mudanças que eu pedi por tanto tempo, fui recontratado. Obedeci ao meu instinto, com tudo, e fiz o que eu acreditava ser o certo.
Alguns anos depois, vivendo o momento mais complicado da minha carreira e da minha vida, financeira e psicológica, aceitei um emprego em uma agência que já havia trabalhado antes, por 30% de um salário normal. Na época, faria qualquer coisa para voltar a trabalhar. Como sempre fiz, lutei muito pela melhoria do trabalho e do processo de criação. Apesar do dono da agência ser um cara legal, tinha um sócio extremamente incompetente.
Eu sabia, poucos dias depois que o novo sócio apareceu, que eu não suportaria ficar ali e deveria procurar outra coisa. Escondi esse sentimento, resolvi não ouvir meu corpo me dizendo que aquilo não iria acabar bem. Infelizmente não ouvi e deixei minha raiva com toda a situação acumular. Acabei me tornando um problema para a agência, o que culminou na minha demissão. Justíssima, eu estava infeliz e deixei que isso tomasse conta, não agi e acabei errando com alguém que havia me dado uma chance.
Nos dois casos eu era um funcionário pago para ir embora. Eu não conseguia fazer a diferença, não conseguia exercer meu potencial e todos os dias acordava com a vontade de comer agulhas a ter que ir trabalhar. Nos dois casos, meu instinto gritava para que eu agisse, no primeiro eu escutei, no segundo não. O resultado foi óbvio.
Quanto mais eu me conheço, mais consigo interpretar meus instintos e o mundo à minha volta. Essa capacidade de traduzir esse sentimento em ação se chama maturidade, que vem com experiência.
Você já sabe e sempre irá saber o que é melhor para você. Só falta a capacidade de acreditar em si mesmo. Se tiver que mudar de emprego, procure algo novo, se tiver que ficar, se reinvente, só não fique parado esperando mudar por si só, o agente da transformação tem que ser você. Tomar decisões importantes e assumir as consequências faz muito bem. Experimente.
Obs.: Este artigo foi originalmente publicado no Medium do autor.
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