A morte de Leonard Nimoy na última sexta–feira mexeu com um
universo de nerds.

Sempre fui mais #teamStarWars do que um fã inveterado de Star
Trek, mas também fui tocado pelo eterno Mr. Spock enquanto ele vivia. A calma,
a abertura, os pensamentos e as falas do ator, poeta e fotógrafo sempre foram
uma mistura do melhor que raciocínio lógico e emoções, juntos, podem nos dar.

A life is like a garden. Perfect moments can be had, but not
preserved, except in memory. LLAP

(Último tweet de @TheRealNimoy)

Durante uma viagem à África do Sul, em 2010, comprei uma
camiseta com a saudação vulcana. Sempre me senti bem ao usá-la, mesmo tendo
acompanhado pouco da série e sem saber muito sobre a origem do gesto.

Ontem, finalmente, fui atrás do porquê.

“Cinco ou seis caras subiram ao bimah – o palco – e
ficaram  à frente da congregação. Eles
colocaram os tallit sobre as cabeças
e começaram um cântico que acho que se chama Dukhanen.
Meu pai disse “não olhe”. Todo mundo cobriu os olhos com as mãos, com o tallit
sobre o rosto ou com as costas viradas para aqueles homens. Então eu ouvi um
som estranho que vinha deles. Eles não eram cantores, mas gritavam, de forma
dissonante e discoordenada. (…).

Entendi que algo grande estava acontecendo ali, e espiei. Vi
as mãos deles esticadas por baixo do tallit, desse jeito, em direção à congregação.
Pensei: ”Uou!”. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas o som e aparência
daquilo era mágico.

Essa (N.E.: o “sinal Vulcano” com as palmas espalmadas e os dedos juntosé a forma da letra Shin do alfabeto hebreu. É a
primeira letra da palavra Shaddai (antigo nome de Deus), da palavra Shalom (paz)
e da palavra Shekinah, que é o nome dos aspectos femininos de Deus. Por que não
deveríamos olhar foi algo que só veio até mim muito, muito tempo depois. Minha
mulher Susan tem um primo que é rabino aqui em Los Angeles. Contei a ele essa
história e ele disse que o motivo pelo qual não devemos olhar é que, de acordo
com a lenda, durante essa benção a Shekinah entra no santuário para abençoar a
congregação, e você não quer ver isso por que é tanto poder que pode ser fatal.
(..) Eu sobrevivi.

Nunca sonhei que faria isso algum dia, mas enquanto fazíamos
Star Trek recebemos um roteiro adorável, em que meu personagem Spock deveria
voltar a seu planeta para cumprir um acordo matrimonial (…). Eu deveria
trocar olás com a mulher que conduziria a cerimônia, mas essa era a primeira
vez em que veríamos outro ser da minha raça. Eu queria encontrar um toque que
desenvolvesse a história, sociologia ou os rituais vulcanos, e disse ao diretor
que deveríamos ter um cumprimento especial (…). Eu sugeri o gesto, e ele
disse ok.

A coisa decolou. Dias depois da exibição, as pessoas
começaram a repetir o gesto para mim nas ruas. Faz 50 anos, mas as
pessoas ainda fazem isso para mim. A maioria das pessoas, até hoje, não sabem
nada sobre o que aquilo significa.

É como um aperto de mão secreto, uma piada interna de Star
Trek, mas as pessoas não sabem que estão abençoando umas às outras quando fazem
esse sinal. É ótimo.”

É meio surreal pensar o tamanho que esse gesto ganhou e perceber, de tabela, o significado que até mesmo a cultura pop pode carregar em uma sociedade tão ensimesmada como a nossa. Os seus momentos perfeitos estão guardados na nossa memória (e em nossos gestos), Mr. Nimoy. 

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Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."