Minha vida vem sendo marcada por momentos inusitados. Um recente foi o sonho que tive em setembro. Sabe aquela manhã na qual você acorda e o sonho está vivo, lúcido e todos os detalhes são palpáveis? Pois então.

Acordei tendo a certeza de uma meta: preciso ir para um país de língua espanhola viver a rotina de um estudante local. Nos minutos seguintes revivi as principais cenas do sonho e tive a certeza de que o cenário era o Chile, país que, sei lá por que, sempre tive vontade de conhecer. Era o momento.

Minha reação foi agir. Abri meu laptop e enviei um e-mail para meus dois sócios: Gustavo Gitti e Guilherme Valadares. Informei que tiraria 18 dias de férias e viajaria para estudar espanhol no Chile . Como relatei nesse post, acho um tesão planejar viagens em cima da hora.

Quando falo em planejar uma viagem não me refiro a reservar hotéis e/ou passeios indispensáveis. Os detalhes precisam ser orgânicos. Essa máxima transformou uma viagem que poderia ser mais uma na minha vida em uma das aventuras mais marcantes que já vivi.

Fazer uma viagem sem roteiros é como iniciar o parágrafo de um relato

Sempre prefiro hostels

Tenho 29 anos foi há pouco mais de dois que fiquei em um hostel pela primeira vez. E me arrependo. Pois ficando em hostels eu conheci pessoas interessantes e de vários lugares do mundo. Enfim, interagi. E ando de saco cheio de hotéis, com toda aquela pompa e finesse.

No Chile não foi diferente. Ao receber a “dica de ouro” de pessoas que já tinham ido e conheciam Santiago, encontrei o lugar. Chamava-se Aji Hostel. Decidi que não iria fazer reservas antecipadas. Se não houvessem vagas, eu procuraria outro lugar. Afinal, aventura que é aventura pede o mínimo risco.

Né?

É.

Mas óbvio que eu me dei mal.

O recepcionista europeu avisou de bate pronto que não havia vaga. Entretanto, haveria uma vaga no próximo dia. Me indicou outro hostel que eu poderia encontrar disponibilidade chamado Terras Extremus. Após caminhar deliciosas 10 quadras em um calor de 35 graus, cheguei ao bendito local e me instalei.

Minha estratégia de hospitalidade foi mudar de hostel sempre que possível. Dividir as 18 noites que eu tinha à disposição para conhecer diferentes hospedarias, bairros e, principalmente, pessoas. Fiquei hospedado em três hostels nesse tempo. O que foi uma experiência marcante pois mudei de ares sempre que senti vontade. Sem planejamento. Ação.

O terceiro hostel que acabei caindo de paraquedas se chamava Dominica. Me fez sentir aquela sensação de, “putz, bem que eu devia ter vindo para cá antes”. Vou contar como a sincronicidade dos eventos me levaram até ele.

Lugar certo na hora certa. Destino ou apenas sorte?

Eu tinha saído para jantar com uma argentina que conheci nesse mesmo hostel. Passamos por um bar e ele me chamou a atenção. Não pela arquitetura, mas por uma questão de pura energia. Decidi entrar para tomar uma chela (a “Cerva” no Chile). Lá encontrei um sofá confortável posicionado frente a um telão de 6 metros de largura. Pensei no mesmo instante: pronto, isso que é home cinema. A partir desse dia, fui quase que diariamente para esse bar.

Durante algumas chelas, o garçom, um australiano quase albino não parava de falar, perguntando de onde eu era, o que fazia com aquela gata argentina e mais tudo o que vocês podem imaginar. Moral da história: ficamos amigos. E eu disse que no outro dia precisaria sair do hostel que estava porque não havia mais vagas. Nesses momentos, ele disse:

– Felipe, porque você não vai para o hostel que eu trabalho? É aqui na esquina e vagou uma cama ontem. Tenho certeza que vais gostar, o lugar é incrível, tem aventureiros de todo o mundo.

Foi assim. Fortemente recomendo o Dominica a todos que forem à Santiago do Chile e tiverem espírito de aventura.

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Amizades fazem a diferença na vida

Já não é a primeira vez que me aventuro em outro país sem amigos ou namorada. Sinceramente, acho que a experiência de você viajar solo é única. Ela te obriga a conhecer pessoas e te faz viver coisas que, provavelmente, não irias viver em viagens em grupo. O único problema de sair solo é uma eventual solidão.

Na minha primeira noite no Chile, fui para Bellavista, zona de barzinhos com muitos turistas e estudantes universitários (na região há diversas faculdades, dentre elas a Faculdade de Direito da Universidade do Chile). Ao sentar em uma mesa, pedi uma chela bem gelada (nesse momento descobri que no Chile as pessoas não apreciam cerveja geladíssima, da forma como gostamos aqui no Brasil). Conforme os copos iam passando, eu pensava em como seria bom ter a companhia de alguém querido, para jogar conversa fora e me sentir “mais em casa”.

Nesse instante, um trio de músicos de rua começou a tocar a uns 6 metros da minha mesa. O som era algo na linha da banda de reggae Chimarruts, porém não conseguia identificar se cantavam em espanhol ou outra lingua. Após algumas canções, o vocalista, que muito me parecia com o Che Guevara, veio pedir uns trocados e começamos a conversar. Em alguns minutos eu já o tinha convidado para se sentar para tomar uma.

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Descobri que seu nome era Thiago, um brasileiro ex-líder militante, carioca, casado com uma chilena e que vivia de música. Os outros dois se chamavam Felipe e eram chilenos, estudantes de música na Universidade do Chile. Começamos a conversar e eles me convidaram para ir na casa de umas atrizes de teatro que tinham conhecido onde iria ter um carrete (palavra chilena usada para festa).

Fomos todos para apartamento da praça Itália (principal local de manifestações em todo o Chile, marco central da cidade de Santiago). Sempre achei que meu nome não era muito comum. Até esse dia somente. Na festa na casa dessas atrizes, estávamos em uns 10 caras e 6 dos 10 se chamavam Felipe. O lado positivo é que não erraram o meu nome nenhuma vez durante toda a noite. O que sobrou dessa noite foi uma amizade com Thiago, daquelas que se perduram por muito tempo.

Não existem boas histórias sem novas amizades

Há sempre espaço para mais um idioma

Minha missão era evoluir o meu espanhol. A Central do Intercâmbio me concedeu uma bolsa para estudar 10 dias de espanhol em uma escola internacional em Santiago. O local tinha a efervecência de um hostel, muito pelos estudantes serem de dezenas de nacionalidades. A escola me ajudou principalmente na base gramatical e conjugação de verbos, ponto da língua que sempre tive dificuldades.

Uma das coisas que aprendi no Chile é que uma língua é aprendida não somente na escola, mas em todos os momentos de contato possíveis e imaginários. E foram muitos, desde restaurantes de comida típica chilena à festas com turmas de argentinos e argentinas. Procurei aproveitar cada um dos 18 dias como se fosse o último e viver plenamente esse país incrível.

Proponho fazermos deste artigo um resumo de boas dicas para os próximos leitores do PapodeHomem que forem ao Chile. Procurei resumir alguns bons lugares para se hospedar. Vamos complementar esse relato com dicas de leitores que conhecem Santiago e querem compartilhar lugares imperdíveis para se conhecer.

Pois o Chile vale a pena.

Felipe Ramos

Um realizador nato, de coração sem tamanho. Transformar pedra em banquetes é a especialidade desse MacGyver gaúcho. Notório por seu apetite festeiro, nunca recuse quando for convidado a uma de suas frequentes celebrações e aventuras. O imprevisível é seu prato favorito. No Twitter, <a>@felipemktg</a>."