porque estou em cuba
estou em cuba para lançar meu livro “autobiografia do poeta-escravo“.
em 1835, o poeta cubano juan francisco manzano, então escravizado, escreveu uma autobiografia contando a história de sua vida no cativeiro. o texto foi publicado na inglaterra, em 1840, e só saiu em cuba em 1937. apesar de lido e estudado em todo o mundo, a última edição cubana foi em 1972.
ano passado, a editora hedra publicou a primeira versão brasileira da autobiografia, traduzida por mim, com uma introdução crítica e quase 400 notas explicativas, todas minhas, além de várias fotografias originais pela fotógrafa claudia regina.
a edição ficou tão caprichada que chamou a atenção de pessoas do meio editorial cubano.
por isso, amanhã, quarta, 17 de fevereiro. na feira internacional do livro de habana, o maior evento literário do país, a autobiografia do poeta-escravo será republicada em cuba pela primeira vez em quarenta anos, em uma edição caprichadíssima da ediciones matanzas.
além do texto original em espanhol, o livro conta com minha introdução e notas, reprodução fac-símile de todas as 53 páginas do manuscrito original (na própria caligrafia do poeta-escravo) e cinco vezes mais fotos da claudia regina do que a edição brasileira.
também vou aproveitar a oportunidade para dar palestras em escolas, universidades e museus sobre a trajetória do autor e sobre como pessoas subalternas, hoje e no passado, se utilizaram da palavra escrita para negociar o sistema e superar a posição inferiorizada onde tinham sido colocadas.
dia 17 de fevereiro, às 10h, como parte do seminário internacional “130º aniversário de la abolición de la esclavitud en cuba“, dou a palestra “o escravo e a palavra“, na casa de las américas, uma das mais respeitadas instituições literárias do mundo.
no mesmo dia, às 16h, na sala lezama lima do pavilhão principal da feira internacional do livro, no morro cabaña, é o lançamento oficial do livro.
já está aparecendo na imprensa cubana, aqui e aqui.
para saber mais sobre o poeta-escravo juan francisco manzano, ver todos as fotos e conferir as páginas do manuscrito, é só conferir esse site que criei.
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bienvenido a cuba!
já no saguão de desembarque do aeroporto internacional josé martí, uma surpresa.
pela primeira vez, além da imigração e da alfândega, havia também duas médicas.
quando souberam que eu era brasileiro, perguntaram sobre o zika e me deram esse gentil bilhete.
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sobre o trabalho dos cachorros
“prefiro gatos a cachorros”, disse minha amiga camila pavanelli, “porque um gato jamais trabalharia para a polícia.”
é verdade: no mundo inteiro, cachorros trabalham para a polícia — e ainda abanam o rabinho.
em qualquer aeroporto da europa ou estados unidos, lá estão eles: pastores alemães de raça, vestidos de armadura e colete a prova de balas, seríssimos e compenetradíssimos, ao lado de oficiais humanos mais sérios e compenetrados ainda.
pois cuba, já no aeroporto, já à primeira vista, mostra que é um país diferente.
o turista sai do avião, vai pegar sua bagagem… e entra em uma sala cheia de cachorros vira-lata zanzando de um lado pro outro, felizes, livres, brincando com as pessoas.
“que avacalhação!”, pensa o belga certinho, “isso não pode ser um país sério! será que tem porco e galinha nos ônibus também?!”
mas, se um desses pulguentos demonstrar muito interesse por sua mala, um oficial cubano vai surgir, aparentemente do nada, e, com muita gentileza, pedir para ver o que tem dentro.
dado que existe muito menos tráfico de drogas em cuba do que nos eua e na europa, talvez dê até pra argumentar que cachorros felizes e livres trabalham melhor.
um fato, porém, é verdade indiscutível: um gato, seja ele cubano ou chinês, jamais se rebaixaria a tanto.
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“¿cuánto por tu sombrero?”
ainda no aeroporto, o moço da casa de câmbio perguntou quanto eu queria pelo meu chapéu amarelo-ovo. respondi que não só o chapéu era novíssimo, como eu era apaixonado por ele.
no carro, comentei com meu motorista e ele respondeu:
“pôxa, eu ia te fazer uma oferta pelo seu chapéu agora.”
da última vez que estive em cuba, perdi o meu chapéu preferido, fiel companheiro de cinco anos por cinco continentes.
agora, com todo esse olho gordo, estou com medo de deixar outro chapéu em cuba.
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não sou o único “alex castro”
sou convidado oficial do instituto cubano do livro, organizador da feira internacional do livro de havana.
por isso, pela primeira vez na minha vida, em qualquer aeroporto, tinha um mocinho me esperando com um cartaz: “alex castro”
aliás, o mesmo nome de um dos filhos do fidel, famoso fotógrafo oficial do ainda mais famoso pai.
mal aí, pessoas que estavam orbitando o meu motorista, esperando o filho do homem chegar.
sou só eu.
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o pior chato é aquele que fala do clima
depois de tantos anos vindo a cuba sempre no verão, quando o maçarico fica ligado o dia inteiro, está sendo uma delícia conhecer havana no inverno. (inverno de carioca, claro: 20 graus de dia, 15 à noite.)
nunca mais volto a cuba no verão, se puder evitar.
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uma cidade de muitas filas
um hábito que peguei em cuba: vejo uma fila, eu entro.
por trás de qualquer aglomeração, sempre tem alguma coisa interessante acontecendo.
ontem, no agro da esquina, vi a fila, entrei, perguntei: tinha acabado de chegar batata e o preço estava ótimo.
(agro é abreviação de mercado agropecuário e é como chamam o equivalente cubano às nossas feiras ou hortifruttis.)
infelizmente, lembrei que, na casa onde estou, não posso usar a cozinha, e saí da fila.
a casa foi conseguida pelo instituto do livro, então, não reclamo, mas preciso encontrar outra.
não poder cozinhar minha própria comida (além de caro!) é como não poder limpar meu próprio cu: me sinto infantilizado.
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o jeito cubano de fazer filas
em cuba, as filas não são concretas, são conceituais.
ou seja, em geral, as pessoas não ficam fisicamente enfileiradas uma atrás da outra.
você chega e pergunta:
“quem é o último?”
alguém levanta a mão e você passa a ficar de olho naquela pessoa: depois de ela ser atendida, será a sua vez.
naturalmente, em poucos minutos, alguém vai chegar e perguntar:
“quem é o último?”
e será a sua vez de se identificar.
eu acho brilhante: me permite ir para um canto, ler e fumar, e tudo o que tenho que fazer é observar uma única pessoa.
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uma cidade cultural
hoje, no meio da tarde de um dia de semana, passando pelo centro cultural bertold brecht (que fica no mesmo bairro que o teatro karl marx, como não amar?), tinha uma aglomeração na porta, só de pessoas com carinha de artista descolado, a maioria negras.
de repente, as pessoas começaram a entrar e eu nem hesitei, fui junto.
era uma apresentação de um grupo de dança negro de um instituto local.
(burramente, não anotei o nome.)
mas esse é um dos motivos que me faz amar havana, e que me faz amar o rio, e que, incrivelmente, me fez sair de nova orleans:
a sensação de que a cidade é uma capital cultural, onde, a cada esquina, tem um poeta alternativo, um grupo de dança inventando novas coreografias, um coletivo de teatro pirando montagens pós-tudo.
(o rio tem, em média, sessenta peças teatrais em cartaz por semana; nova orleans, tinha sete. havana deve estar no meio do caminho entre as duas.)
havana ainda tem uma coisa que, pelo que sei, nenhuma outra cidade do mundo tem:
é o único lugar onde ainda é possível ser poeta profissional, com grandes tiragens, promovidas com grande destaque, vendidas nas grandes seções de poesia nas livrarias, para grandes números de pessoas comuns que de fato consomem poesia.
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fumando em cuba
fumar é uma das minhas cinco coisas favoritas da vida (ler, escrever, fumar, transar, estar no mar), entre outras razões porque não fumo de maneira obsessiva.
(em 2015, devo ter fumado uns dez charutos e entrado no mar umas seis vezes, no máximo, e não deixaram de ser das minhas coisas favoritas da vida. praticamente qualquer coisa faria mal se fosse feita na quantidade obsessiva que a maioria das pessoas fumantes fuma. imagina se você gostasse tanto de canja de galinha que tivesse que comer assim que acorda, enquanto está engarrafada no trânsito, tivesse que sair do trabalho pra tomar uma canja de pé na frente do seu prédio, e ainda fizesse questão de tomar uma canja depois de transar!)
enfim, em cuba, não dá para não fumar. todo o clima do país é deliciosamente condizente ao fumo.
quando estou aqui, eu fumo os mesmos charutos que as pessoas cubanas fumam, os baratos e os vagabundos, aqueles que são vendidos em pacotes de papel, em moeda nacional, nas bodegas de esquina. cada pacote tem 24 charutos e custa 24 pesos cubanos: ou seja, seis reais pelo pacote, vinte e cinco centavos de real por charuto.
claro que não é o melhor charuto do mundo.
mas, se é bom o suficiente para as pessoas comuns do país que praticamente inventou e aperfeiçoou o charuto, então está bom o suficiente para mim.
(a marca de queijo mais vendida na frança, ou a marca de macarrão mais vendida na itália, com certeza não são as melhores produções de cada país nessa área, mas também passaram pelo mesmo rigorosíssimo teste de qualidade.)
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sutil ágio
ontem, eu estava procurando por charutos depois da hora que a maioria das bodegas fecha.
perguntei para o moço de um sebo, que também estava guardando seus livros e fechando a lojinha, e ele se ofereceu para me vender dois pacotes de 24 charutos, por 35 pesos cada.
e vejam: eu sei que esse pacote custa 24 pesos em todas as bodegas do país.
mas estava tarde e o negócio dele não era vender charutos: provavelmente, estava vendendo pacotes que tinha comprado para ele mesmo fumar.
então, fiz uma coisa que faço muito em cuba:
me fiz de bobo.
porque, sério, o ágio total que o moço me cobrou, por me vender 48 dos seus próprios charutos, em uma hora em que todas as lojas estavam fechadas, foi de 20 pesos cubanos, ou R$3,50. (o charuto brasileiro mais vagabundo, no brasil, é no mínimo o dobro disso, por unidade.)
é como quando o vendedor da praia, carregando vinte quilos de picolé debaixo do sol inclemente do verão carioca, quer cobrar dez reais pelo chicabon que, no mercadinho, vale três, e algum bacana estirado na areia ainda tem a cara-de-pau de pechinchar.
dá vontade de dizer:
“ô maluco, se você quer pagar três reais pelo chicabon, levanta da areia e anda até o mercado. se quer o chicabon trazido até você na conveniência da praia, deitado em berço esplêndido enquanto o mar lambe seus pés, paga a porra dos dez.”
muitas vezes, os cubanos mais malandros querem arrancar tão pouco de mim… que eu simplesmente prefiro me deixar depenar.
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mimetismo cubano
minhas três cidades favoritas no mundo, as três cidades que mais amo e que mais conheço, são todas cidades turísticas onde a malandragem é praticamente uma forma de arte: rio, nova orleans, havana.
(um texto meu sobre como é morar onde você passa férias.)
no rio, onde sempre saio de casa fantasiado de alex castro, é comum a ser abordado por todos os malandros de copacabana, mas basta responder em bom carioquês “vaza, merrmão” que me livro deles.
como visito e pesquiso cuba há quase dez anos, meu espanhol é completamente cubanizado: se abro a boca em qualquer lugar do mundo hispânico, pensam que sou cubano. aqui, entretanto, não dá pra enganar os próprios.
porém, como o meu biotipo étnico-misturado padrão do brasil também é o biotipo étnico-misturado padrão de cuba, teoricamente daria para eu passar por cubano se não abrisse a boca.
só que nunca consegui.
todo mundo sempre batia o olho em mim e já sabia que eu era estrangeiro.
estou literalmente há dez anos meditando essa questão:
o que posso fazer para ser confundido com um cubano?
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é porque sou gordo?
não podia ser só isso, existem cubanos gordos.
mas estou tentando emagrecer, juro, e não só para parecer mais cubano.
* * *
é porque estou com uma bolsa ou sandália, acessório ou roupa, que não existe em cuba?
não podia ser só isso, porque a maioria dos cubanos anda vestindo coisas que não existem em cuba e que foram deixadas, trazidas, presenteadas por estrangeiros.
na última viagem, eu andava fantasiado de alex castro (camiseta, calças largonas de algodão cru ou malha, e havaianas) e todo mundo sabia que eu não era dali.
dessa vez, estou vestindo apenas camiseta e outras duas peças de vestuário que nunca, nunca uso, se puder evitar: jeans e (deus me ajude) sapatênis.
além disso, como não está muito calor, estou deixando o chapéu amarelo-ovo em casa.
tudo isso ajuda, mas nada disso é a chave.
* * *
no finalzinho de minha última estadia em cuba, senti que tinha conseguido destrinchar o enigma e agora estou testando a teoria:
é a vaidade.
as pessoas cubanas, homens e mulheres, são as mais vaidosas do mundo: quase todas andam arrumadas e maquiadas, unhas feitas e cabelos modelados.
qualquer pessoa largadona que vejo pela rua provavelmente é estrangeira: homens cubanos não andam de chinelo de dedo e, quando andam, seus pés estão feitos. qualquer dedão do pé com unha preta que você veja em havana será antes de um belga ou de um canadense do que de um havaneiro.
também comecei a reparar na barba e no cabelo dos homens: quase sempre estão muito bem cuidadas, aparadas, modeladas.
eu, por outro lado, no rio, nem tenho espelho em casa pra acompanhar o progresso da minha barba em direção ao estado selvagem: vou ao barbeiro uma vez por mês, peço máquina zero na cabeça, dois na barba, e pronto.
claramente, terei que me adaptar.
* * *
meu barbeiro, robertico, em línea com f, tem um cartaz na parede com mais de sessenta modelagens específicas para cabelo e barba. é só pedir: quero a barba 34 e o cabelo 46. todas, desnecessário dizer, bastante elaboradas.
nas minhas estadias em havana, eu chegava lá e pedia o mesmo que peço pro meu barbeiro do rio — e robertico, aliás, ficava igualmente frustrado.
agora, mudei o pedido:
“robertico, quero parecer cubano. faça o que você quiser. meu cabelo e minha barba são seus. pode pirar.”
o resultado está nas fotos — com uma foto antiga para servir de grupo de controle.
estou rindo até agora. se voltasse para o rio sem avisar, acho que nem eu mesmo me reconheceria.
* * *
todas as mulheres que já me tiveram eram muito vaidosas.
(naturalmente, nunca “tive” mulher alguma. todas as mulheres que já me tiveram são justamente o tipo de mulher que jamais admitiria ser “tida” por algo tão reles quanto um homem.)
mais naturalmente ainda, o fato de terem sido todas mulheres muito vaidosas também não é coincidência.
e, de todas as mulheres vaidosas por cujas mãos já passei, nenhuma é mais vaidosa que a Diva, com quem tenho andado atualmente.
minha teoria é que a Diva, apesar de ser loira e branca que nem leite, com seu visual chamativo e bem cuidado, cabelos coloridos e modelados, roupas de oncinha e unhas azuis, poderia andar por havana de alto a baixo e não ocorreria jamais a ninguém que ela não fosse cubana.
um dia, vamos testar essa teoria.
* * *
parece que funcionou.
finalmente, consegui.
já no mesmo dia, levei dois esporros totalmente inéditos (e merecidos) de seguranças de lojas.
quando pedi desculpa pela besteira que tinha feito, o segurança ouviu meu sotaque e respondeu:
“ah, é estrangeiro? então, tudo bem.”
como se dissesse, “tá, você é café-com-leite.”
mas, enfim, é uma vitória.
* * *
mas isso foi no vedado, um bairro largamente residencial.
o teste de fogo foi no dia seguinte: passei a manhã inteira andando em havana velha, a região mais turística da cidade, assombrada por hordas de turistas belgas e assolada por multidões ainda maiores de jineteiros (os malandros cubanos) tentando explorá-los.
(escrevi sobre os jineteiros cubanos aqui.)
antes, em uma caminhada de uma manhã, eu seria abordado, no mínimo, no barato, umas vinte vezes.
agora, foram somente duas abordagens, e todas enquanto eu estava fumando charuto, e bem especificamente perguntando se eu queria comprar cohibas — a melhor marca do país.
e nunca consegui me livrar tão fácil de jineteiros: bastou mostrar o anel do charuto que eu estava fumando e eles simplesmente sumiam.
afinal, quem fuma a marca mais vagabunda possível e imaginária com certeza é pobre demais para um cohiba.
melhor ainda: como nem precisei abrir a boca, ainda saíram achando que eu era cubano.
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observatório da publicidade
no aeroporto, vi um cartaz vendendo relógio. tirando isso, toda a publicidade que vi foi ou de bebida (rum, cerveja, refrigerante) ou de charuto.
até agora, nenhuma publicidade me chamou de feio ou inadequado.
mas estou de olho.
(textinho meu sobre o horror da publicidade.)
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decameron en cuba
está em cartaz, no teatro trianon, no vedado, uma adaptação teatral do decameron, de boccaccio, um dos clássicos mais sem-vergonha da literatura mundial e que acabei de reler.
(você pode conferir minhas notas de leitura aqui.)
abaixo, o belíssimo cartaz.
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jornais de cuba
nas manchetes de sexta-feira, 12 de fevereiro, destaque para a visita do patriarca ortodoxo e para a abertura da feira literária.
e, na revista bohemia, uma das minhas preferidas, uma análise da situação política brasileira que deixa muito jornalão brasileiro no chinelo.
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os livros cubanos expõem a cegueira brasileira
cuba tem uma grande população de pessoas leitoras e um mercado literário pujante para alimentá-las.
em geral, volto de cuba com malas e mais malas de livros que simplesmente não consigo encontrar em outros lugares.
não apenas livros sobre história e cultura de cuba, mas também, talvez mais importante, livros com novas perspectivas sobre velhos assuntos.
em minha última visita, por exemplo, comprei:
uma história da revolução iraniana de 1979… escrita por um iraniano revolucionário;
três histórias e testemunhos da guerra do vietnã… escritos por vietnamitas;
vários livros sobre o processo de independência da áfrica… escritos pelos próprios africanos, e muitos destacando a ajuda cubana;
e assim por diante.
na foto abaixo, alguns dos livros que comprei nos últimos dias:
uma versão cubana de paidea, um clássico sobre história cultural grega que li na universidade;
mais uma história vietnamita do vietnã (é sempre lindo ouvir alguém contando sua própria história);
um testemunho sobre o terremoto do haiti e a reconstrução posterior, escrito por uma médica cubana que fez parte da missão que o país enviou para lá;
um testemunho de uma brasileira que viveu em cuba por dez anos, na década de setenta, depois de ser exilada por nossa ditadura;
um livro sobre os macúa, o povo africano de onde vieram as últimas pessoas escravizadas que chegaram em cuba;
uma seleção dos melhores discursos de robespierre, parte de um esforço historiográfico para corrigir sua imagem de “tirano sanguinário”;
duas antologias com o melhor da literatura contemporânea indiana e chinesa;
uma história da filosofia, com viés marxista, escrita por um filósofo italiano, em três volumes;
um estudo sobre a comunidade de cubanos residentes em miami, incansáveis conspiradores para derrubar o governo de cuba;
por fim, uma tradução de gargantua e pantagruel, de rabelais, um dos livros mais importantes do ocidente, e que simplesmente não se encontra em português.
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no brasil, apesar de termos um mercado editorial muito maior, muito mais rico e muito mais livre, esse tipo de perspectiva simplesmente não se encontra.
dá para passar a vida inteira lendo livros editados no brasil e jurar que pessoas não-norte-americanas e não-europeias simplesmente não escrevem livros.
(ou, se escrevem, não são bons.)
na nossa imensa arrogância, não conseguimos olhar nem para os lados, e muito menos para baixo: somos vítimas da mais profunda auto-imposta eurofilia, que nos cega e nos empobrece.
daí a importância de iniciativas diplomáticas e culturais sul-sul, como iniciadas pelo presidente lula.
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pôr-do-sol no monumento calixto garcía, no malecón
pra não me acusarem de não fazer foto de turista.
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uma gigantesca feira literária
quando eu falo que a feira do livro de havana é um dos maiores eventos literários do mundo, acho que minhas pessoas literárias brasileiras não levam muita fé, porque, afinal, quase ninguém no brasil ouviu falar do evento.
mas isso diz mais sobre a cegueira constitutiva do brasil a TUDO que venha do mundo hispânico do que sobre a feira do livro em si.
aqui está o programa completo da feira internacional do livro de havana de 2016.
é tipo VINTE vezes maior que a flip. uma pessoa teria que viver VINTE vidas só para ir a todos os eventos desse ANO. só o esforço pra organizar tudo isso já é de fundir a cabeça.
benditos sejam os cubanos e sua paixão nacional por livros.
aí se perguntem: porque a imprensa brasileira não noticiou NADA disso?
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minha palestra “o escravo e a palavra”
para quem tiver curiosidade e souber ler espanhol, aqui está o texto completo da palestra que vou proferir na casa de las américas, na manhã de 17 de fevereiro:
juan francisco manzano, el esclavo y la palabra.
semana que vem, conto como foi.
leiam as pessoas cubanas
a imprensa brasileira nunca deu nenhuma linha verdadeira sobre cuba. para conhecer a realidade da ilha, é preciso ouvir os próprios cubanos, tanto pró- quanto anti-revolução.
para isso, criei uma lista no facebook com mais de 50 perfis cubanos, de todos os matizes políticos. acompanhe aqui.
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