Comunismo vs. Capitalismo. Tema já discutido em todas as rodas de mentes pensantes, inclusive recentemente aqui no PdH. O segundo dia do TEDGlobal 2011 começou com este assunto.
O historiador Niall Ferguson pegou dois exemplos caricatos para comparar os regimes – afinal, a caricatura é um jeito de representar o mundo. O mais emblemático dos exemplos foi sobre o muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em duas nações, uma comunista e outra mais aberta ao mercado: a Alemanha Oriental, fabricante de Trabant, um dos piores carros do mundo segundo Ferguson, e a Alemanha Ocidental, fabricante da Mercedes-Benz. Ferguson conclui que o capitalismo é a base para a ascendência da Ásia e da América do Sul, e também para o declínio do poder da civilização ocidental. Ele trouxe números para ilustrar: atualmente, um coreano trabalha 1 mil horas a mais que um alemão e os Estados Unidos são apenas cinco vezes mais ricos que a China, ao passo que já foram vinte.
Há seis "aplicativos matadores" que separam o Ocidente do resto: competição, revolução científica, direitos de propriedade, medicina moderna, sociedade de consumo e ética trabalhista. Estes "aplicativos matadores" podem ser baixados – são open source. Qualquer sociedade pode adotar estas instituições.
O palestrante seguinte, Yasheng Huang, economista político do MIT, falou sobre as diferenças entre Índia e China para desconstruir um pouco do mito de que a Índia está muito atrasada. Segundo ele, a lacuna de desenvolvimentos entre os países se dá principalmente por causa da educação, mas apontou: a Índia está buscando esta diferença. "Comparar a Índia com a China é o mesmo que comparar qualquer outro jogador com Michael Jordan. É sempre injusto."
Ficou o ponto de que o capital humano faz uma grande diferença – e aqui fica a pergunta: como vai nosso investimento em educação no Brasil?
Uma das melhores palestras do dia foi a de Tim Harford, economista e autor do Financial Times.
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Com exemplos interessantes e uma narrativa envolvente, ele falou de tentativa e erro como caminho para o sucesso. "Até quando vamos ter que insistir na importância da tentativa e erro para acabar com o complexo de Deus? É difícil admitir nossas fraquezas." Segundo ele, a história está cheia de exemplos bem sucedidos que passaram pelo processo de tentativa e erro: "Mostre-me um sistema complexo que funciona e vou te mostrar que ele evoluiu pelo processo." Fiquem atentos, empreendedores principalmente, para quando esta palestra for ao ar. Um dos últimos aforismos da palestra foi genial:
"O importante é errar na direção certa. É muito difícil cometer bons erros."
Fome e outros choques de realidade
Josette Sheeran foi mais uma a falar do Brasil. Ela dirige o Programa Mundial da Fome da ONU. Os números que mostrou são preocupantes. Destaco dois:
- uma em cada sete pessoas do mundo passa fome;
- a cada 10 segundos, uma criança morre de fome no mundo. É mais do que matam tuberculose, malária e AIDS somadas.
Por outro lado, ela desenvolveu com sua equipe um pacote de comida que custa 17 centavos de dólar e evita a desnutrição. Sheeran falou do Brasil ao contar que visitou um programa do governo contra a fome. As fotos de crianças famintas (que são recorrentes, por sinal) me deixaram chocados. Aliás, por que a gente convive com este problema no mundo como se fosse algo normal?
O dia não foi de imagens visuais e mentais fáceis. Na verdade, houve um pouco de choque de realidade. A pesquisadora Elisabeth Murchison mostrou fotos de um câncer que está se disseminando como vírus entre diabos-da-tasmânia, a ponto de colocar em risco a espécie. Assustador é que a transmissão de câncer em humanos seria possível, ainda que jamais registrada. Na sequência, Cynthia Kenyon conseguiu dobrar a vida de uma espécie (verme C. Elegans) com um experimento envolvendo genes e hormônios. E falou na possibilidade de fazer isso com humanos. A eterna busca pela fonte da juventude me assusta um pouco.
Falando de imagens projetadas, Mark Pagel fez brilhante palestra sobre a linguagem – uma ferramenta capaz de ligar os cérebros das pessoas e proporcionar a evolução via colaboração. "É o que nos diferencia dos chimpanzés", apontou. Entretanto, Pagel lembrou que as línguas unem, mas separam: temos algo entre 7 mil e 8mil línguas pelo mundo. Ele veio com uma ideia maluca: é inescapável que um mundo interligado não tenha apenas uma só língua. Assustador.
Para acabar, chamo atenção para mais uma entre as falas que destaquei aqui: três estudantes na faixa dos 20 e poucos anos mostraram o incrível robô Rezero. Conheci estes caras em uma Whisky Tour que fiz na segunda-feira nas Highlands escocesas. Eles puxaram papo, disseram que eram estudantes e aí fui perguntando até descobrir que eles fariam uma das falas no TED. Brinquei com eles que já não teriam mais objetivo, afinal, fazer uma fala no TED aos 25 anos não é para qualquer um. Brincadeiras à parte, achei sensacional o que os caras fizeram com essa idade e fiquei pensando o quanto vale investir na pesquisa e empreendedorismo. Eles têm as duas coisas na mão, além de talento, o que os levou ao palco do TED. Você ainda vai ouvir falar deles.
Nota do Editor: As palestras do TEDGlobal 2011 acontecem entre os dias 12 e 15 de julho. Ontem, publicamos os melhores momentos do primeiro dia. Até o fim do evento, Rodrigo Cunha vai trazer ao PdH um texto diário com o melhor de cada sessão. Para acompanhar o TEDGlobal em tempo real, você pode seguir Rodrigo no Twitter.
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