Um pouquinho diferente do TED na Califórnia, o TEDGlobal, que este ano se mudou para Edimburgo, na Escócia, tem uma visão muito mais “macro”. Pessoas de vários países da Europa, da Ásia, da África e o Brasil trazem um caldo multicultural para a conferência. Como não poderia ser diferente, esta mistura fica espelhada na grade de palestrantes.
Rebeliões cotidianas
Uma das melhores palestras foi do egípcio Maajid Nawaz, um extremista islâmico que, aos 24 anos, foi preso e proibido de entrar em três países do mundo. Hoje, ele é ativista em favor da democracia. A visão dele é muito interessante, de quem estava dentro do sistema. Nawaz falou que a pior coisa que se pode fazer com a democracia é tentar empurrá-la goela abaixo – como é a política em países ocupados pelos americanos, por exemplo. Nawaz acha que a democracia precisa emergir como um movimento social, de base, e apresentou uma fórmula para isso: ideias + narrativas + símbolos + líderes = movimentos sociais.
Link TED |
“As pessoas devem votar em algum partido democrático e não pela democracia.”
A brasileira Julia Bacha mostrou seu trabalho com o documentário Budrus, que mostra o trabalho de um ativista unindo Fatah e Hamas e ativistas de Israel para salvar sua comunidade – Budrus – da destruição pela barreira de separação israelense. O ponto todo é que esta é uma manifestação pacífica, que ganhou uma dimensão importante, mas passou despercebida pela mídia. Guerra vende; paz não.
Por que temos este tipo de comportamento? O esforço de muitos palestrantes do TED é tentar mostrar como funciona nossa linha de pensamento, o que nos leva a tomar determinadas decisões. Não à toa, o cérebro é tema constante.
Um continente interno
No primeiro dia, quem falou sobre isso foi Allan Jones, do Instituto Allen (do cofundador da Microsoft Paul Allen). Ele apontou que
“O cérebro é verdadeiramente um continente inexplorado. É uma nova fronteira.”
Por isso, sua equipe está cortando o cérebro transversalmente em milhares de finas fatias para criar um atlas do órgão. O material está disponível para qualquer pessoa baixar e estudar.
Certamente, isso pode nos ajudar a entender sobre o processo de aprendizado. Sobre este ponto, uma das palestrantes que mais me impactou foi de Annie Murphy Paul. Ela falou sobre a nossa formação. Em diversos estudos, ela e sua equipe descobriram que as crianças já começam o aprendizado no próprio útero, dividindo as emoções com as mães. Quando nascem, os bebês gostam das mesmas músicas da novela que a mãe assistia e podem até ter sinais de estresse pós-trauma, como aconteceu com os bebês das mulheres que, de alguma maneira, sofreram os efeitos da queda das Torres Gêmeas.
Entre os momentos tech, tema sempre presente no TED, tivemos a palestra de Justin Tipping-Hall sobre nanoenergia. Ele estuda o controle do elétron para gerar energia. Trouxe ideias revolucionárias, como a de nós mesmos gerarmos a nossa própria energia, e frases de efeito, como
“A matriz energética do futuro será a não-matriz energética.”
Isso resolveria o problema de energia do mundo. A ideia é boa, mas fiquei com a impressão de que ainda está em um futuro distante, apesar de ele ter mostrado alguns trabalhos preliminares.
Não tão longe está a possibilidade de voarmos com nossas próprias asas! O francês Yves Rossi foi ao palco com sua engenhoca voadora. Chamado de Jetman, ele já voou quilômetros com as próprias asas, que são impulsionadas por quatro motores. Acho que fez a cabeça de centenas de pessoas que já se imaginaram voando por aí. A minha, pelo menos, ele fez.
Destaco por fim a palestra de Richard Wilkinson, que falou de algo recorrente nos posts do meu blog: só dinheiro não é o suficiente para medir o nível de felicidade de um planeta ou nação. Com diversos estudos, ele mostrou que países mais iguais sob o ponto de vista de distribuição de renda têm indicadores sociais muito melhores. Casos de doenças psicológicas, mobilidade social, crimes e outras questões têm números mais favoráveis em países com renda melhor distribuída. Segundo ele,
“A desigualdade é uma poluição social.”
No Brasil, evoluímos bastante nos últimos anos em função das políticas de distribuição de renda, que começaram no governo FHC e ganharam muita força no governo Lula. Um projeto de país, de longo prazo. O Brasil está evoluindo e se globalizando. O próprio fato de terem mais de 20 brasileiros no TEDGlobal é prova disso – no ano passado eram só seis. Estamos aprendendo rápido e o Brasil é sempre motivo de conversas positivas por aqui. É o nosso grande momento como nação. Precisamos aproveitar da melhor maneira possível.
Nota do Editor: As palestras do TEDGlobal 2011 acontecem entre os dias 12 e 15 de julho. A partir de hoje e até o fim do evento, Rodrigo Cunha vai trazer ao PdH um texto por dia com o melhor de cada sessão. Para acompanhar o TEDGlobal em tempo real, você pode seguir Rodrigo no Twitter.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.