Nota da edição: Um dos principais propósitos do PapodeHomem ao trazer esse conteúdo é aproximar homens e mulheres de assuntos comuns a ambos. O uso da pílula, indicada por muitos profissionais como uma das primeiras opções de contracepção, vem sendo cada vez mais questionado, e na conta dessa discussão entram as mulheres e seus parceiros.
Nosso intuito, portanto, é compartilhar informações a respeito das diversas formas de evitar uma gravidez indesejada, para que homens possam não só conhecer melhor o assunto, mas também auxiliar e conversar com suas companheiras a respeito de outras alternativas, caso haja interesse.
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Comecei a tomar anticoncepcional aos 16 anos, três meses depois de ter a minha primeira relação sexual. Para a minha ginecologista, uma senhorinha que atendia somente adolescentes em um posto de saúde, era quase óbvio que essa era a única opção para que meninas como eu não engravidassem na adolescência.
Eu me lembro que no atendimento a ginecologista que atendia as adolescentes ficava no primeiro andar e das mulheres maiores de 18 anos, ficava no segundo. Ouvi de uma enfermeira que era importante não “misturar” as meninas com as mulheres, porque havia assunto que nós, adolescentes, não podíamos ouvir.
Minha primeira ginecologista foi também minha primeira terapeuta e, apesar das broncas que ela me dava a cada consulta, era bom ter uma mulher adulta para conversar sobre sexo, além das minhas amigas, que eram tão inexperientes quanto eu.
Minha mãe ficou louca quando achou o anticoncepcional nas minhas coisas. Para ela, isso era coisa de mulher. Em seu lançamento, o contraceptivo oral era vendido sob prescrição médica e somente para mulheres casadas.
Minha mãe viveu a primeira geração da pílula, que possuía uma dosagem muito maior de hormônios e muitos efeitos colaterais. Ela não podia tomar, pelo simples fato do seu corpo não suportar. “Geração” são as mudanças que as fórmulas dos anticoncepcionais sofreram ao longo do tempo, num intervalo médio de 10 anos entre uma geração e outra, desde os anos 1960, quando o medicamento foi lançado.
O método contraceptivo da minha mãe era a tabelinha e o coito interrompido, algo que eu, no auge da sabedoria dos 16 anos, achava absurdamente ultrapassado. Eu queria ser uma mulher moderna e independente. Sentir a inveja das colegas quando contava que estava tomando anticoncepcional valia as dores de cabeça absurdas e os enjoos.
É inegável que contracepção oral deu às mulheres mais controle sobre quando ter filhos, podendo planejar suas vidas antes da decisão ou não de se casarem. O pensamento sobre sexo também mudou, deixando de ser tratado apenas como reprodução. Agora um casal, casado ou não, podia ter a liberdade de manter relações sexuais somente por prazer.
Como acontece?
Segundo Ministério da Saúde a grande maioria das pílulas é constituída a partir de dois hormônios femininos sintéticos que “imitam” os hormônios femininos naturais estrógeno e progesterona. A gente então passa o ciclo inteiro tomando esses dois hormônios e, consequentemente, aumentando os níveis de estrógeno e progesterona no organismo. A partir daí o cérebro entende que não precisa produzir FSH (Folículo Hormônio Estimulante) nem LH (Hormônio Luteinizante), os dois hormônios que nos fazem ovular.
Apesar de estarmos na quarta geração de pílulas e as dosagens de hormônios sintéticos terem diminuído e, consequentemente, os efeitos colaterais, para muitas mulheres, essas alterações hormonais continuam causando dores de cabeça, inchaço, sangramentos fora do período menstrual (também chamados de escapes), ganho de peso, alterações de humor, diminuição da libido (a pílula inibe a produção de testosterona) e aumento do risco de trombose.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mulheres que usam anticoncepcionais contendo drospirenona, gestodeno ou desogestrel (a maior parte das pílulas contém dois desses hormônios) têm um risco de 4 a 6 vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso, em um ano, do que as mulheres que não usam contraceptivos hormonais combinados. O risco é ainda maior em mulheres fumantes, que não praticam atividades físicas e tem histórico familiar da doença.
Eu parei!
Aos 28 anos, já a mulher independente e moderna que sempre quis ser, eu entendi que as dores de cabeça e enjoos não valiam mais a pena.
Em breve faço um ano de “reabilitação hormonal” e um fator que não existia há 12 anos fez toda diferença: a internet. Cheguei ao grupo de Facebook “Adeus hormônios– contracepção não-hormonal”. Mais de 110 mil mulheres cis (o grupo tem a especificação de ser para mulheres com sistema reprodutor feminino) compartilhando suas experiências com a contracepção, seus males e seus benefícios.
E adivinhem? O grupo foi criado por uma menina de 16 anos! Há dois anos Luana Moreira, moradora de Vitória no Espírito Santo, sentiu falta de um lugar para trocas, conversas, dúvidas sobre algo que segundo ela, atingia a todas as mulheres de alguma forma. “Eu queria conhecer meu próprio corpo, falar mais abertamente de algo que todo mundo pensa, mas pouca gente fala”, conta Luana. Ela contou também que partiu para a pesquisa, foi estudar sozinha sobre métodos que não continham hormônios como a camisinha, o diafragma e o DIU de cobre. “Os médicos não falam direito com a gente, parece que você é uma criança e que se souber demais sobre o seu corpo, vai fazer besteira.” Outras mulheres foram chegando e hoje são dez administradoras do grupo, mulheres de várias partes do Brasil.
Assim, conheci também Jéssica Vida, administradora do grupo, 28 anos, paulista que mora em Brasília. Jéssica é terapeuta holística e casada. Contou que o grupo recebe por dia em média 600 solicitações de publicações, mas que as mais delicadas são “resolvidas” por inbox, para que as mulheres não precisem se expor.
“A gente recebe muitos relatos de traumas com ginecologistas e muitas neuroses geradas por isso. Outra coisa que aparece muito são mulheres desesperadas perguntando sobre como fazer abortos ou com medo de terem contraído DSTs (Doença Sexualmente Transmissível). E isso não tem idade, vai de meninas de 15 anos a mulheres de 50 anos.”
Jéssica chegou ao grupo por causa dos grupos do Sagrado Feminino e define sua profissão como o estudo do amor. “No consultório o perfil de mulheres é das que já pararam com o anticoncepcional e que estão à procura de entender como seus corpos funcionam. É preciso também dar responsabilidade para os homens. Meu marido tem a função de medir minha temperatura vaginal toda a manhã e anotar. É complicado criar essa rotina no início, mas depois é como escovar os dentes. E ele adora.”.
São muitas opções para prevenir a gravidez quando se decide deixar de usar o anticoncepcional. Entenda cada uma delas:
Camisinha
O mais conhecido dos métodos. Ela impede o contato direto entre a pele do pênis e a da vagina. Para além de segurar os espermatozoides e evitar que o óvulo seja fecundado, ela também é o único método 100% eficaz na prevenção de DSTs. A gente até acha que todo mundo sabe disso, mas é sempre bom lembrar.
Coito interrompido
Ato do homem tirar o pênis pouco antes de ejacular. É o menos recomendado. Primeiro porque os espermatozoides, mesmo saindo em maior quantidade na ejaculação, saem também durante a ereção e penetração e podem atingir o óvulo. “Além disso, a percepção da ejaculação pode ser tardia”, explica Afrânio Coelho de Oliveira, chefe do Hospital Universitário da UFRJ. Ele destaca também que o método traz risco de contrair DSTs no contato direto entre os órgãos sexuais.
Diafragma
O diafragma é uma cápsula feita de látex ou silicone que varia entre 6 e 8 cm de circunferência e faz uma barreira no colo do útero, impedindo que os espermatozoides fecundem o óvulo. Pode ser colocado até 6 horas antes do ato sexual e retirá-lo até 6 horas depois. Ele também requer o mínimo de conhecimento do corpo para a colocação e um consulta ao ginecologista para definir qual tamanho é mais indicado para o seu corpo. Para mulheres que usam absorventes internos ou o copinho (coletor menstrual), o processo é bem parecido. “Muito bom método quando associado ao treinamento adequado de inserção e uso de geléia espermicida, podendo chegar acima de 90 % de proteção”, diz doutor Afrânio.
DIU de Cobre
O DIU de cobre é um dispositivo em formato de T, colocado no útero por um médico ginecologista. Ele impede a passagem dos espermatozoides, não permitindo seu encontro com o óvulo. Segundo o Ministério da Saúde, a eficácia do DIU é de 99,3%. Este método também tem a vantagem de ter longo tempo de ação, de até 10 anos.
Se esse for seu método escolhido, procure um médico de confiança, a colocação costuma acontecer no consultório mesmo. Para quem nunca engravidou ou tem mais sensibilidade, a colocação pode ser um pouco dolorosa. A colocação também pode aumentar o fluxo menstrual e as cólicas, pelo menos nos primeiros meses, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Laura Rios usa o método há três anos e conta: “Eu já sabia bastante sobre métodos contraceptivos por ser de família de médicos e todo assunto relacionado à saúde ser frequentemente discutido em casa. Marquei uma consulta, e já cheguei na médica com este objetivo. Expliquei quais eram os meus motivos, que eu tinha parceiro fixo, que sabia da importância dos preservativos para evitar as DSTs. Acho que as médicas ficam preocupadas de colocar DIU em pessoas mais jovens que possam se expor a mais situações de risco ao se sentirem protegidas contra gestações indesejadas.”
A maioria dos planos de saúde não cobre a colocação do DIU, que tem média de preço de R$450 (colocação e dispositivo). O DIU é um dos métodos contraceptivos disponíveis pelo SUS, mas o tempo de espera pela consulta com o médico, somado ao tempo para receber o dispositivo gratuitamente leva algumas mulheres a compra-lo na farmácia e levar para a consulta, um gasto em torno de R$40.
Temperatura Basal
É o acompanhamento da fertilidade com base na temperatura do corpo. Nele, é preciso verificar a temperatura do seu corpo de manhã, logo que acorda, antes mesmo de levantar da cama e sem ingerir nenhum alimento. Usa-se um termômetro basal para medir a temperatura na vagina, na boca ou no reto.
A temperatura que você apresenta antes de fazer qualquer esforço, diz sobre o seu ciclo. Ela costuma ser mais baixa nos primeiros dias do seu ciclo menstrual, entre 36º e 36,5ºC. Após a ovulação essa temperatura sobe um pouquinho, por volta dos 37ºC, por conta da liberação da progesterona. E quando a mulher está finalmente ovulando, quando você está ovulando ela fica por volta dos 37,5º C e 38º C. Normalmente, ele é conjunto com a observação do muco vaginal.
Os termômetros basais são encontrados em algumas farmácias ou pela internet, em lojas de produtos médicos e hospitalares e variam de R$30 a R$50. Mas consulte um médico antes de utilizar qualquer método contraceptivo.
Observação do Muco Vaginal ou Método de Billings
Baseia-se em olhar na calcinha, nas mãos ou no papel higiênico o muco da vagina.“Logo após o fluxo menstrual é o período conhecido como seco e compreende do 1º ao 7º ou 10º dia do ciclo. É o período pré-ovulatório. Após este período, aparece o muco cervical, marcando o início do período úmido. O muco cervical no início é escasso, opaco e viscoso, aumentando progressivamente em quantidade e tornando-se claro, transparente e elástico, como a clara de ovo crua. No dia que corresponde ao pico de estrogênio, o muco alcança o máximo dessas características, sendo conhecido como o dia ápice do muco e corresponde à máxima fertilidade.
Segundo o Manual de anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, publicado em 2015, estes métodos tornam necessários que a mulher aprenda a reconhecer o início e o fim de sua janela fértil, além da responsabilidade compartilhada com seu parceiro, pois envolvem abstinência periódica e diálogo. “São métodos que não requerem investimentos financeiros e são aceitos pelos seguimentos religiosos que se opõem à contracepção, no entanto, os serviços de saúde precisam estar estruturados para realizar ações de educação em saúde”, diz a Federação.
O ginecologista Afrânio Coelho de Oliveira não indica os métodos de observação, pelas possíveis falhas na aferição e interpretação dos dados.Ainda assim, se bem executados, a Organização Mundial da Saúde no Departamento de Saúde Reprodutiva da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, estima que a média de gravidez é de 3 para cada 100 mulheres no primeiro ano utilizando esses métodos.
Tabelinha
A tabelinha, um método bem antigo, ganhou versão digital, com vários aplicativos que fazem o trabalho de acompanhar o ciclo menstrual de cada mulher, calculando os dias ovulação, os dias mais e menos férteis, a próxima menstruação, entre outras ferramentas. Não é a melhor opção se você quer uma eficiência 100% segura, mas me ajuda muito a observar o corpo, saber de outros sintomas do ciclo como cólicas durante a ovulação, inchaço nos seios, cansaço nas pernas, mal humor.
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O PdH republica, mensalmente, conteúdo elaborado pela Revista AzMina. Ela é online, gratuita e disponibiliza um jornalismo independente, com foco em redes sociais e interação constante com as leitoras e leitores.
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