Por trás de Facebook, Peixe Urbano, Buscapé e tantos outros cases de sucesso, reside o seleto e cobiçado grupo de empreendedores que, merecidamente, estampa capas de revista. De maneira indiscutivelmente louvável, trata-se de um perfil que largou a certeza do salário no fim do mês e que deu a cara a tapa para brigar por algo em que acreditou.

Já que histórias inspiradoras e bem sucedidas vendem que é uma beleza, atualmente os veículos de comunicação bombardeiam telespectadores, ouvintes e internautas com biografias detalhadas, planos de negócio e entrevista com os perfis que fizeram idéias acontecerem. E isso é ótimo. O know-how transborda após poucos cliques. O Google é nosso pastor e muitos dos empreendedores bem sucedidos deste ano não seriam o que são caso não tivessem tomado como exemplo a história dos empresários dos anos anteriores.

O problema é que somos extremistas e imediatistas. Precisamos desesperadamente de balas de prata, soluções que nos levem, sem falhas, e de preferência com atalhos, à realização profissional.

Repercutindo massivamente histórias de sucesso, muitas vezes cria-se a sensação de que o empreender é o estereótipo da felicidade e o único meio de “chegar lá”. Aquelas milhares de empresas que fecharam as portas antes de publicar ao menos um website e os tantos empreendedores despreparados que tentaram dançar rock como se fosse valsa não surgem frequentemente.

Até aí tudo bem. Um brinde aos otimistas e aos que enxergam a parte cheia do copo, grupo que integro com orgulho. O problema é outro.

Steve Jobs e Bill Gates. E se eles não tivessem arriscado?

O empreendedorismo como solução universal

Empreender é algo apaixonante. É como fazer germinar uma ideia por meio de metas que você mesmo traçou. Mas não é, nem de longe, a única possibilidade. E nem sempre é a que se encaixa com nosso perfil. Tem pessoas que simplesmente não gostam de lidar com determinadas situações que fazem parte da rotina de quem toca o próprio negócio. Por não gostarem, frequentemente não a desempenham de maneira competente.

Relações interpessoais difíceis de construir (e fáceis de destruir) e correria incessante para garantir uma carteira de clientes razoavelmente estável são bons exemplos. Outro exemplo? Não ter chefe pode parecer tentador para alguns, mas a maioria se perde ao viver uma realidade em que temos que responder a nós mesmos em primeiro lugar. O que você falará para seu chefe, – que no caso é você – quando perceber que não vai entregar o que se propôs? E para seu cliente? Qual seria a desculpa?

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A questão não é tirar o mérito nem desencorajar as iniciativas. A questão é encarar o ato de empreender como uma opção que vai demandar tanto esforço e dedicação quanto qualquer outra. Ou mais.

Sanar apatia com abertura de negócio próprio é tratar o sintoma e não a causa. E a causa geralmente está bem perto.

Portanto, cabe aqui uma dose de realismo e tapa na cara, para todos nós.

Encarando seu emprego como um empreendimento

Você não precisa de um empreendimento para agir como um empreendedor. As grandes empresas carecem de profissionais com as tais características empreendedoras. Preocupação com o produto final, criação de uma rede de relacionamentos sólida e abrangente, pró-atividade, foco no aperfeiçoamento pessoal e profissional. Isso não são características do empreendedor. São características do bom profissional.

Há tempos que o perfil procurado pelas empresas deixou de ser o engomadinho que segue ordens e bate o ponto 9h e 18h. Ainda bem.

Tive a oportunidade de trabalhar com diversos profissionais, e minha admiração sempre se destinou aos que encaravam os projetos que desenvolviam como se fossem donos.

Se no ambiente corporativo não encontramos esse prazer e disposição, o empreendedorismo é uma possibilidade válida. Porém, se em nosso negócio próprio agirmos de maneira inerte, tal qual algumas vezes agimos no ambiente corporativo convencional, o resultado será o mesmo. Aliás, será pior. Quem será o responsável pela apatia e fracasso?

É semelhante ao cara que administra mal o salário e culpa a quantidade de dinheiro que recebe. Se não sabemos administrar R$ 1mil, dificilmente saberemos lidar com R$ 10mil.

Postura, mentalidade e perspectiva. A mudança é muito mais em como você interage com o ambiente do que em como o ambiente interage com você, seja este ambiente um empreendimento próprio ou uma empresa na qual você é funcionário. É de dentro para fora. É uma questão de encontrar, numa busca constante e imparcial, o que te motiva.

Profissionais movidos por empolgação e brilho no olho em pról de testas menos franzidas.

A vida tá curta.

Porra.

 

Eduardo Amuri

Autor do livro <a>Dinheiro Sem Medo</a>. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças