Imagine a seguinte situação: sua namorada é uma jovem enfermeira e não muito contente em trabalhar em grandes hospitais do seu país e resolve agir no exterior. Até aí, tudo bem. Mas se o país escolhido fosse o Afeganistão – mais precisamente na cidade de Cabul – o que você faria?
Oliver Percovich não pensou duas vezes. E em 2007 foi para Cabul junto com sua amada. Junto com ele, levou três skates.
Infelizmente, como se fosse uma paixão de verão, seu relacionamento terminou. Mas acontece que isso ocorreu enquanto ele ainda estava no Afeganistão. E lá não tinha amigos para o levarem a um bar, desabafar, ou tentar colocá-lo pra cima. Aliás, Oliver estava sem grana também – tinha somente US$ 1.500,00 em sua conta.
Para arejar a mente ele foi fazer o que sempre faz desde pequeno quando está com a cabeça cheia. Pegou seu skate e foi dar uma volta pelas ruas de chão batido de Cabul. Nestas voltas de skate, Oliver – ou Ollie – notava que as crianças sempre o olhavam com um brilho no olho, perguntaram se podiam brincar com seu skate, e sempre o acompanhava.
Então ele percebeu que o skate era “uma forma incrível de interagir com as crianças nas ruas de Cabul”.
Não demorou muito e Ollie começou a ensinar as crianças de Cabul a andar de skate.
Surgia a Skateistan.
Com alguns skates para centenas de crianças e recusas de ajuda de diversas embaixadas e organizações, Oliver começou a ensinar as crianças a andar de skate na fonte Mekroyan, uma espécie de piscina gigante vazia, num subúrbio da capital afegã onde elas começaram a ter as primeiras experiências em rampas.
Após dois anos ensinando meninos e meninas de diferentes classes sociais, desde as crianças de rua até os filhos de generais, o reconhecimento veio em 2009, quando os governos do Canadá, Alemanha e Noruega contribuíram com cerca de €85 mil para ajudar a construir o primeiro skate park coberto da capital afegã.
O espaço foi dividido entre a zona de treino com rampas e obstáculos e várias salas de aulas nas quais elas aprendem inglês, artes, jornalismo, teatro e outras disciplinas. Hoje a escola conta com mais de 400 alunos por semana, meninos e meninas entre cinco e 18 anos, que antes passavam o tempo livre na rua e não tinham acesso a educação – no Afeganistão, esse direito é quase exclusivo das elites.
Em Setembro de 2012, a escola de Cabul foi atingida por um atentado suicida. Os instrutores do Skateistan Nawab (de 17 anos) e Korshid (de 14), perderam a vida, assim como a irmã de Korshid, Parwana (de 8 anos), Assad, primo deles, e Mohammed Eesa, (de 13) – todos alunos Skateistan. O terrorista suicida tinha a idade de Nawab.
“Este incidente trágico só torna mais clara a importância de dar às crianças de rua, que são nossos alunos e instrutores, um espaço seguro para se divertirem e terem acesso à educação.” – Rhianon Bader (porta-voz do Skateistan Cabul)
Foi inaugurado em Mazar-el-Sharif mais um skate park/escola três vezes maior que a de Cabul. O projeto já começa a atravessar fronteiras, o Skateistan abriu uma unidade no Camboja.
O Skate é uma das únicas atividades onde meninos e meninas dividem o mesmo espaço e interagem no Afeganistão. Sugiro bastante verem o documentário lindo e inspirador Skateistan: four wheels in a board in Kabul.
Link Youtube | Essa é a versão reduzida, a completa tem cerca de 1 hora, mas não encontramos online
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