Precisei de 29 anos, centenas de roupas não disponíveis nas lojas, algumas dezenas de frustrações acumuladas, e uma boa surra de conscientização, para tomar coragem de admitir: sim, sou um homem gordo.

Não me venha com a delicadeza de que eu sou “apenas cheinho”, porque não convence. O mundo lá fora é muito mais desumano do que isso e esfrega na nossa cara diariamente o quanto pessoas como eu são fora do padrão de beleza imposto pela sociedade.

Lutei contra o fato (ao meu modo) uma vida inteira. De todas as dietas malucas, aos períodos de desilusão em que ganhei ainda mais peso, passei por todas as fases. Em comum entre todas elas, ficou a frustração de nunca conseguir ficar magro. Parei de me pesar há um tempo, mas uso GG e manequim 46. E, olha, uma coisa eu posso garantir: como é libertador admitir, neste texto, que me sinto bem do jeito que estou.

Até bem pouco tempo atrás, achava que jamais seria possível gostar do meu corpo. Minhas fotos eram todas do busto para cima. Fazia processos de emagrecimento radicais pra desinchar e aparecer mais magro em vídeos. Parava de postar fotos minhas durante meses quando ganhava alguns quilinhos – e tenho um problema sério de efeito sanfona, basta você acompanhar minhas redes sociais que vai ver como emagreço e engordo com facilidade. Que atire a primeira pedra aquele que nunca deixou de sair ou fazer algo porque estava se sentindo horrível dentro do próprio corpo.

Ora, com tanto esforço, onde diabos estava o visual perfeito que eu não alcançava nunca? Como ia me amar, se detestava aquilo que via no espelho?

Meu tipo físico sempre foi muito diferente do que eu sonhava. Some isso ao fato de ter passado quase 10 anos da minha vida trabalhando pra revistas que, como se sabe, até poucos anos pregavam a ditadura do corpo ideal.

Frequentava eventos VIPs quase diariamente, lidava com muitos artistas, conhecia tanta gente bacana do mundo da moda, mas só via caras magros e sarados por todos os lados. Além de detestar meu biotipo, esboçava preconceito com outras pessoas que, assim como eu, são fora do padrão. As piadinhas cruéis de gordo que eu soltava para descrever outros caras traziam mensagens subliminares sobre a aversão que eu sentia sobre minha própria imagem.

Felizmente, sempre fui muito aberto a novidades, a ler sobre comportamento, sobre pessoas inspiradoras, e acabei chegando ao body positivity, movimento de aceitação dos corpos reais. Conheci tantos casos nos últimos tempos, como o influenciador Arcadio Del Valle, de 30 anos, que desfilou na Semana de Moda de Nova York; o ator e comediante Zach Miko, que virou queridinho do mundo fashion; e o Josh Ostrovsky, mais conhecido como "Judeu Gordo", que é uma celebridade no Instagram, eleito pela revista Time como "uma das 30 pessoas mais influentes da Internet".

Eles são inspiradores e passam a mensagem do body positive, então, aos poucos, eu fui fazendo uma espécie de terapia interna e decidi compartilhar minha experiência para tentar ajudar outras pessoas.

Veja bem, precisamos deixar claro uma coisa: não quer dizer que você tem que se conformar e passar por cima da vontade de mudar algo que não goste, ok? A ideia é que você faça da sua vida o que quiser, mas decidi pensar de maneira diferente. Se antes eu deixava de sair de casa porque detestava algo no visual, agora eu tento entender porque detestava e penso em como mudar para me sentir bem comigo mesmo a médio e longo prazo. Obviamente, não me escondo mais, encontro algo que fica bacana pra vestir e saio de casa em seguida, confiante e satisfeito em como superei aquele detalhe. Ou seja, as características físicas que me incomodam, passavam a ser encaradas como detalhes, e não como algo que me define. Entendido?

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Não vou dizer que é fácil nem simples, até porque o mais desafiador é lidar com pessoas que pensam de maneira diferente e, com um olhar, conseguem trazer toda a nossa insegurança à tona. Se você pergunta nas lojas se tem uma seção plus size e os vendedores fazem ar de riso ou de piedade, a sua reação oscila do ódio ao sentimento de ser uma merda no mundo.

Precisamos falar sobre isso. Óbvio que existem alguns fatos inegáveis, que as mulheres sofrem muito mais com esses padrões, que se for negro e plus size, piora a situação, e se for plus size mulher e negra, nem se fala na opressão. Nada disso pode ficar de fora do debate. No entanto, minha proposta nesse espaço é falar da minha experiência e tentar, de certa forma, ajudar outras pessoas que passam pelos mesmos dilemas.

Por aqui, vamos bater um papo sobre autoestima, aceitação e autoconhecimento. Se você é um cara magro, sarado ou está se esforçando para chegar lá, vá em frente e seja feliz, não tenho nada contra você. Mas, se assim como eu, você não se sente representado, é fora dos padrões de beleza, e quer conversar sobre esse assunto, então senta aqui e seja bem-vindo, meu amigo.

De acordo com a BBC, 2018 é o ano do body positive. "Após anos sendo ignoradas, marginalizadas e depois simplesmente aceitas pelas indústrias de moda e entretenimento, as pessoas maiores estão finalmente conseguindo um lugar no mainstream", diz o artigo. Não sei se é verdade, embora ame a teoria. Também vale salientar que, como diz o jornal britânico Telegraph, o mercado plus size masculino ainda está em ascensão O que sei é que, neste ano, resolvi me cuidar, me aceitar e gostar de mim do jeito que sou.

Lá no meu Instagram vou mostrar cada passo nos stories. Em algumas ocasiões, serei mais resistente e focado. Em outras, não tanto, porque não sou de ferro nem tenho fórmulas.

Deixo esse post como um convite, pra gente se acompanhar e aprender juntos com essa jornada que estou me propondo a fazer. O caminho é sempre melhor quando seguimos em parceria, um fortalecendo o outro.

Assim, se tivermos paciência (uns com os outros), não tem padrão opressor que nos derrube. Touché!

Igor Zahir

Jornalista em suas diversas facetas: do editor de moda ao crítico literário. Body positive, compartilha suas inspirações e jornada de autoconhecimento no <a>Instagram</a>. "