Há cinco meses, o PdH publicou texto sobre a morte de um casal de camponeses brasileiros que entrou num jogo fatal contra homens anônimos. Sentaram-se à mesa de uma disputa da qual não pediram para participar, nem foram convidados, e aceitaram de bom grado as cartas que compraram do monte. Porém, como quando ganhamos de um veterano, eles marcaram muitos pontos e assustaram os adversários, que por reflexo acionaram o gatilho! Sem blefes, o casal de castanheiros se dispôs a seguir instruções de uma mente sã e abriu sua vida, sua desgraça e sua impotência diante das estripulias, máscaras e truques dos homens anônimos, sobre os quais só lhe foi possível falar a respeito.
Foi o que Zé Cláudio fez, com uma sorridente simplicidade, na palestra do TEDx Amazônia que você pode assistir acima. Junto com sua mulher, Maria, ele liderava a associação de camponeses no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, sul do Pará. Mesmo recebendo diversas ameaças de morte, e inutilmente solicitando proteção policial, eles denunciavam as madeireiras ilegais da região que lhes servia de sustento.
Como ainda não serraram as bolas de todos os machos, temos a sorte de desfrutar do trabalho (no melhor sentido desta palavra estupidificada) realizado pelo jornalista Felipe Milanez. Pertubando as noites de sono de outros profissionais do ramo que não tiram o cu do lugar, ele foi demitido do cargo de editor na National Geographic Brasil por falar o que pensa – mas isso não foi o suficiente para detê-lo. Ao contrário, Milanez persistiu e lançou o documentário Amazônia, na série Toxic, da Vice. Conhecendo como poucos a região onde morava Zé Cláudio e Maria, o jornalista retrata no filme alguns detalhes sobre a história da morte do casal, o crescente desmatamento e o depoimento fascista de um deputado que acha que as pessoas que defendem a floresta estão atrapalhando o desenvolvimento do Brasil.
No meu mero ponto de vista de bundão urbanóide, penso que não é a demanda nem a oferta de madeiras ilegais, ou a variação de qualquer índice, que está por trás dessa putaria generalizada. Vejo somente um grande véu esfumaçado de merda que cederia rapidamente diante de uma pergunta muito antiga formulada por Nietzsche – ele queria saber se a característica mais humana seria a preguiça ou o medo.
Encerro este post com as palavras de Bill Hicks, que para mim fizeram mais sentido depois que assisti ao documentário.
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