É assim que começa o novo álbum do rapper mais saco-roxo do novo século. E é assim que Eminem quer mesmo ser conhecido – como um pesadelo.
‘Exilado’ na aposentadoria desde 2004 (ano de lançamento de seu último álbum), o branquelo mais odiado e marketeiro do rap se aventurou no mundo das produções, botou a vida em ordem (esse meio tempo foi marcado por uma recuperação de seu vício em remédios e outros problemas pessoais) e voltou pra mostrar que o hip-hop americano não está morto.
Porque nessas épocas turvas em que ganham as paradas artistas como Chris Brown, que juram ser machões batendo em suas Rihannas e juram também fazer hip-hop enchendo canções sintetizadas de açúcar, o mainstream do rap gringo precisava mesmo de uma válvula de escape pra não cair na diabetes.
Eminem é saco-roxo porque fala a verdade. Não que ele seja mesmo o garoto problemático que se mostra, mas porque assume logo de cara que o esquema é fazer uma grana e, se puder xingar uma meia-dúzia no caminho, que seja. E assim ele segue, com uma nova leva de canções novas, agressivas, dançantes e irônicas.
Relapse já escancara na capa a idéia central do álbum. Um mosaico feito de cápsulas de comprimidos que formam o rosto do rapper e ao lado, um adesivo que remete a receita médica prescrita pelo Dr. Dre (descobridor, parceiro e produtor desse álbum) dizendo “um comprimido diário às três da manhã”. São 20 sons que pegam em muitos estilos que funcionam bem entre si. Falam basicamente dos problemas que Eminem enfrentou com os remédios (como na engraçada ‘Deja Vu’), usa eterna treta com a própria mãe (na ácida ‘My Mom’ e distribuições de comentários sarcásticos sobre as celebridades de hoje em dia (os dois singles, ‘We Made You’ e ‘Crack a Bottle’, exemplificam bem a eterna veia contra os famosos de plantão).
Crack a Bottle
Algumas músicas têm a participação do mentor Dr. Dre e do pupilo 50 Cent, e há também algumas vinhetas muito boas que ligam algumas canções. Uma delas é justamente a faixa de abertura de Relapse, ‘Dr. West’, em que o civil Marshall Bruce Mathers III (o nome verdadeiro do rapper) sonha com um médico sádico que não o ajuda em nada na reabilitação do vício em álcool e pílulas. Em ‘Tonya’, temos uma garota que pega carona na chuva e se dá bem mal. ‘Steve Berman’ é certamente a vinheta mais legal, que mostra um médico ressentido com Eminem por uma situação bem inusitada (coçou pra contar o que é, mas prefiro deixar pra que vocês ouçam).
O mais legal sobre o lançamento desse álbum é novamente o escape que o mercado do hip-hop americano ganha com o sufocamento do R&B em cima do Rap (lá fora temos essas duas vertentes: a primeira, mais melódica e romântica. A segunda, mais agressiva e ‘protestante’).
Eminem vem com os dois pés no peito mostrando porque era o número um no começo dos anos 2000 e porque voltou como clássico e ainda número um entre os de hoje. É o saco-roxo das batidas gringas!
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