O Instituto Promundo lançou seu novo relatório sobre envolvimento dos pais na criação de seus filhos e filhas: A Situação da Paternidade no Brasil 2019: Tempo de Agir. Este é o segundo relatório divulgado pela Promundo que analisa a situação do Brasil – o primeiro foi lançado em 2016.
Pra quem não conhece, o Instituto Promundo é uma ONG que busca envolver homens e mulheres na promoção da equidade de gênero, prevenção da violência e na transformação das masculinidades.
O relatório se debruçou sobre uma série de dados e pesquisas para criar um retrato da paternidade, pensando em como ela tem sido, na prática, para homens brasileiros. Este estudo também busca entender quais são as principais necessidades de pais e mãe para que seja possível dividir a criação dos filhos de maneira mais igualitária.
O Brasil é um dos países pioneiros e que serve como referência quando falamos em transformações de masculinidades. Ainda assim, vivemos um cenário cheio de desigualdades. De 2016 para 2018, o Brasil caiu 5 posições no Ranking de Igualdade de Gênero.
Conversamos com o Daniel Costa Lima, autor do relatório, psicólogo, mestre em Saúde Pública e consultor do Instituto Promundo. Para ele, é especialmente importante olhar para a paternidade, quando se pensa em promover mais equidade, porque a paternidade é tanto uma oportunidade para os pais se repensarem enquanto homens, como para educar as crianças a partir de ideais e relações mais respeitosos.
Um dos objetivos deste relatório é identificar não só a situação da paternidade, mas o que se pode fazer para impulsionar mudanças. Aqui vão algumas das possibilidade de ação apontadas:
1. Dividir cuidado com o filho
Garantir e ampliar a participação dos pais no cuidado com as crianças é uma prática que tem um benefício triplo em prol da equidade: é uma forma de incentivar a transformação dos homens que se tornaram pais, diminui a carga de responsabilidade das mulheres e cria um ambiente mais equilibrado para o crescimento das crianças.
Segundo dados do relatório, 83% dos pais brasileiros relatam brincar com seus filhos, 46% afirmam cozinhar e 55% se responsabilizam por dar banho.
2. Dividir o trabalho doméstico
Essa segunda medida se entrelaça com a primeira. Pensando além do cuidado direto com a cria, é importante que os homens dividam o trabalho doméstico de limpeza e de arrumação.
Como ressalta Daniel, quando o homem deixa os cuidados na mão da mulheres, ele está controlando o tempo desta mulher e tempo é poder. O autor do relatório também destaca que em muitos casos, após o nascimento do filho, a mãe passa a requisitar maior participação dos homens que não tinham este hábito. É justamente nesse momento de tensão, em que alguns pais precisam mudar sua forma de colaboração que muitos relacionamentos acabam.
3. Aumento da licença paternidade
Este é um dos pontos principais para mudar a cara da paternidade no Brasil. E ele é extremamente difícil de ser implementado, até porque, a licença só se aplica a profissionais registrados e a fatia da informalidade tem crescido.
Hoje, os homens têm direito a 5 dias de licença ou nenhuma licença. Daniel explica que os casos de 20 dias são raros e não refletem a população brasileira. Eles só se aplicam a funcionário públicos ou de empresas cidadãs (só 12% das empresas no Brasil podem ser cidadãs e uma fatia ainda menor é de fato).
O autor do relatório conta que uma possibilidade seria uma licença parental, compartilhada entre aqueles que iram criar as crianças. A licença parental seria uma licença de seis meses a ser dividida, conforme a escolha do casal: três meses para casa um ou quatro para um, dois para outro.
Outra vantagem da licença parental é que ela também se aplica a casais homoafetivos e diversos, não fazendo distinção entre as partes. Aumentar o tempo de licença parental permitiria que os pais desenvolvessem uma relação de cuidado e vínculo mais próximo com a criança nos primeiros meses. Uma das maiores dificuldades da licença parental é balancear as burocracias de duas empresas diferentes.
4. Atenção integral à saúde dos homens
As políticas públicas da segunda metade do séc XX passou a incorporar cuidados dedicados a saúde materno-infantil (entendendo que cuidar da mãe garantia saúde para os filhos) e, posteriormente, desenvolveram-se também políticas de atenção integral à saúde da mulher (indo para além da maternidade).
Nesse sentido é importante que também sejam disseminadas políticas de atenção integral à saúde dos homens. Um dos resultados de tais políticas, além de promover saúde pública, é trazer os homens para perto do mundo dos cuidados e precauções.
O relatório é uma rica pesquisa que entra detalhadamente em uma série de questões, dados e iniciativas que podem promover mais equidade.
Para ler o relatório completo, clique aqui.
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