Filme sobre a vida de Bob Marley mostra como o grande astro da música mundial se mostrava um homem comum, com altos e baixos e vivenciando algumas contradições entre o que vivia e o que cantava
Este mês completam 43 anos desde a morte de Robert Nesta Marley, ou simplesmente, Bob Marley, maior expoente do reggae em todo o mundo. Na onda das cinebiografias, o filme “Bob Marley: One Love”, lançado em fevereiro deste ano, conta-se a história da vida dele, sua ascensão musical e de seu relacionamento com a sua única esposa, o que nos convida a uma série de reflexões sobre comportamentos masculinos, rupturas e tradições.
Bob morreu em 11 de maio de 1981, devido a um câncer raríssimo (melanoma lentiginoso acral), apesar disso, sua imagem continua viva até hoje, tanto por sua obra como pela forma como se relacionava com a vida.
Relações fora do casamento
Bob Marley teve 12 filhos com diferentes mulheres, mas Rita Marley, foi a única mulher com quem ele casou.
Alpharita Constatia Anderson, nasceu em Cuba, em 25 de julho de 1946. Após a separação dos pais, Rita passou a morar com uma tia paterna e cresceu na favela de Trenchtown, em Kingston, na capital jamaicana. Ela teve uma vida bastante humilde e rodeada de música. E, foi ao se tornar uma das vozes da banda The Wailing Wailers, que ela conheceu o Rei do Reggae.
Rita Marley
Foto: Michel Delsol/Getty Images
Bob valorizava a liberdade. Quando conheceu Rita, que já era mãe de uma menina, não se importou com os estigmas da época, se casando com Rita e adotando sua filha, Sharon. Da união dos dois, posteriormente nasceram Cedella e Ziggy Marley.
Na foto: Rita, Bob, Sharon, Ziggy, Cedella e Stephen
Relações extraconjugais
Nessa “tal liberdade” (e aqui não estamos defendo nenhuma forma específica de relação, tá?), Bob não escondia suas relações extraconjugais, das quais nasceram outros filhos e geraram momentos conturbados no relacionamento com a esposa. Em um dado momento, Rita também passa a se relacionar com outras pessoas. Apesar da “liberdade” no amorosa, a relação dos dois foi permeada por ciúmes.
Rita e Bob Marley
A história de Bob Marley nos convida a refletir sobre um paradoxo bastante curioso: de um lado, algumas atitudes machistas e, de outro, a compreensão sobre Rita ter a mesma liberdade que ele tinha.
A maioria dos depoimentos sobre a pessoa Bob Marley são positivos, porém, não podemos ignorar o fato dele reproduzir alguns comportamentos típicos de uma masculinidade tradicional. Um dos aspectos que o coloca nesse lugar é justamente a necessidade de se relacionar com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Aqui, podemos relembrar um conceito fundamental para se pensar masculinidades que é “a caixa dos homens”, que defende a ideia de que, para ser considerado homem de verdade, o cara precisa ser “pegador” e transar com o máximo de mulheres possível.
Por outro lado, Bob Marley se mostrava firme na defesa de aspecto bastante significativos para as pessoas como justiça social e uma sociedade mais igualitária, combate às violências e opressões por parte do governo, espiritualidade (simbolizada por sua fé rastafari), defesa dos direitos humanos e amor livre.
Essa ideia de liberdade amorosa estava presente em sua relação com Rita: ambos sabiam das relações extraconjugais do outro, durante um tempo fingiram não saber, mas em um dado momento o ciúme de ambos falou mais alto. Além disso, mesmo amando Bob intensamente, Rita optou por não ter mais relações sexuais com ele, pois sabia que ele tinha relações desprotegido com outras mulheres e a prova disso começou a chegar com o tempo…
A princípio, o amor livre poderia simbolizar um tipo de “passe” para que o cantor estivesse com outras. Quando Rita começa a usufruir da sua parcela de liberdade, os conflitos e ciúmes do astro do reggae aparecem.
Filhos
Bob teve mais quatro filhos com quatro mulheres diferentes, enquanto Rita, quase que paralelamente, teve mais dois filhos de outros parceiros Importante registrar que ambas as crianças foram adotadas por Bob Marley. Futuramente, Bob viria a ter mais três filhos (totalizando 12), novamente com diferentes mulheres. Ao mesmo tempo que aceita e adota os filhos de Rita que vem das outras relações dela, Bob levava os filhos que tinha com as outras mulheres para serem cuidados por Rita. Ela se dividia entre gratidão pela confiança e sofrimento por ter de cuidar dos filhos da pessoa que amava frutos de outras relações. Em determinado momento, a relação entre Rita e Bob se torna uma parceria familiar, já sem nenhum contato como marido e mulher.
Na foto, 9 dos 12 filhos de Bob Marley
Ser humano é ser contraditório
Ao levantar esses pontos da vida de Bob Marley, não estamos questionando sua genialidade e muito menos colocando em julgamento se ele foi ou não um bom companheiro e um bom pai. Nossos ídolos são apenas humanos e a história não precisa ser dividida entre heróis e vilões.
publicado em 15 de Maio de 2024, 09:12
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