Tive que kibar isso do Trabalho Sujo, que kibou do escritor e jornalista, Michel Laub.

10 conselhos de Carlos Drummond de Andrade a um escritor iniciante

Drummond, seu danado

1. Não acredite em originalidade, é claro. Mas não vá acreditar tampouco na banalidade, que é a originalidade de todo mundo.

2. Não fique baboso se lhe disserem que seu novo livro é melhor que o anterior. Quer dizer que o anterior não era bom. Mas se disserem que seu livro é pior que o anterior, pode ser que falem verdade.

3. Procure fazer com que seu talento não melindre o de seus companheiros. Todos têm direito à presunção de genialidade exclusiva.

4. Aplique-se a não sofrer com o êxito de seu companheiro, admitindo embora que ele sofra com o de você. Por egoísmo, poupe-se qualquer espécie de sofrimento.

5. Sua vaidade assume formas tão sutis que chega a confundir-se com modéstia. Faça um teste: proceda conscientemente como vaidoso, e verá como se sente à vontade.

6. Opinião duradoura é a que se mantém válida por três meses. Não exija maior coerência dos outros nem se sinta obrigado intelectualmente a tanto.

7. Procure não mentir, a não ser nos casos indicados pela polidez ou pela misericórdia. É arte que exige grande refinamento, e você será apanhado daqui a dez anos, se ficar famoso; se não ficar, não terá valido a pena.

8. Se sentir propensão para o gang literário, instale-se no seio de uma geração e ataque. Não há polícia para esse gênero de atividade. O castigo são os companheiros e depois o tédio.

9. Evite disputar prêmios literários. O pior que pode acontecer é você ganha-los, conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria.

10. Leia muito e esqueça o mais que puder. Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar.

Como escritor que me considero (se eu não me considerar, que há de fazer?), vejo essa singela lista como um poço de ideias e bons conselhos. Como pessoa, idem. Afinal, o danado aí em cima fala de sofrimento, vaidade, critério e amizade.

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É, Drummond, contigo eu tô sempre aprendendo. Danado.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados