Começo aqui nesta coluna do tão fodão portal Papodehomem falando justamente sobre um filme que dividiu opiniões: A árvore da vida, do diretor Terrence Malick. Essa película divide opiniões porque estamos sempre acostumados pelo formato hollywoodiano convencional de cinema que tem sempre um começo, meio e final feliz. estamos com uma espécie de “olhar viciado”.
Nem todos os cineastas optam por esse caminho. E justamente por trilhar como “criadores de cinema”, alguns deles fixam seu nome por obras que sentimos a diferença no formato. É desse jeito que podemos lembrar de nomes de alguns diretores como Tarantino, Guy Richie, Christopher Nolan e até os exagerados como Robert Rodriguez.
Malick não está longe dessa turma. A começar que ele, mesmo tendo apenas cinco filmes, é querido por todos os citados acima. Esse diretor começou fazendo um filme por geração e sua cinematografia vem diminuindo os intervalos. Muitos acreditam que o Árvore da vida é um filme pretensioso e eu discordo em chamá-lo assim. Prefiro usar o termo “mais ambicioso”, se colocarmos em consideração o fato de que ele sempre fez filmes com narrativas e formatos impactantes e esse, que era um dos trabalhos que ele mais tempo rodeou até se sentir preparado pra poder rodá-lo, acabou por ser o que mais leva a ambição do autor.
Alguns podem lembrar de seus filmes anteriores: Além da linha vermelha, de 1999, o qual retrata os conflitos internos do homem durante a guerra, ou o Novo Mundo (2005) que, em simples palavras, foi chamado de “o novo Pocahontas versão live action”. Seus trabalhos costumam demorar em produção e edição. Muitos atores gabaritados atuaram em seus filmes e depois chegam a descobrir que foram cortados na versão final do filme (pra ter ideia, no Além da linha vermelha, Billy Bob Thornton, Martin Sheen, Gary Oldman, Bill Pullman, Lukas Haas, Viggo Mortensen e Mickey Rourke tiveram todas as sequencias em que apareciam cortadas na edição final).
Mas chega de papo e vamos ao filme (ou melhor, às minhas impressões sobre ele). A história toda retrata a vida de Jack O Brien (as iniciais “Job” ou o Jó bíblico), filho mais velho interpretado por Sean Penn que, à partir de seu questionamento sobre a humanidade, nos leva a uma das elipses temporais mais longas da história do cinema, passando até pelo Big-Bang e fazendo uma visita ao mundo paleolítico dos dinossauros.
Alguns engraçadinhos chegaram a perguntar “porra, tem dinossauro no filme?????” – e a minha resposta foi direta: “tem, porra!”. E faz todo sentido. Todos filmes do diretor tem cunho existencialista e o que mais vejo é o tema “d’o maior que sobrepuja o menor” (alguém aqui lembra de Nietzsche?). Não seria diferente nesse filme, em que até mesmo um dinossauro maior sobrepuja o menor sem precisar esmagá-lo, mas que se passe percerbido pela lei do maior e nada mais.
Aí me perguntam, “mas o que diabos isso tem a ver com o filme?”. Calma criatura, estou montando o painel de fatos que fazem a magia do cinema ser o que é.
Flashback. A capacidade de voltar o tempo para poder contar, denotar e demonstrar aquilo que ficou no passado e o quanto isso pode ou não interferir no futuro.
De volta ao Sean Penn.
Suas memórias vêm como fragmentos soltos e, neles, o que mais nos impressiona é o tratamento rígido e severo que recebeu do pai na década de 50. Esse pai é vivido pelo Brad Pitt e a mamasita é a ruiva e estupenda Jessica Chastain.
A todo momento da história, que se passa num bairro tranquilo do Texas, vemos o quanto o pai pega no pé dos três filhos homens que sempre se sentem acuados com a presença do patriarca. Já a presença da mãe denota uma impressão de liberdade dos três pequenos e isso fica tão claro no filme, que o que mais vamos notar serão justamente as atuações das crianças de forma tão convincente. Muitos atores tem curiosidade de conhecer os métodos de trabalho desse diretor, mesmo que venha a ser cortado da edição final.
O que mais torna humano essa imposição do maior (pai) perante os menores (filhos) é justamente quando o personagem do pai, perto do momento de mudança da casa (uma fase de choque a todos membros da família) assume que seu jeito rude foi uma tentativa de acerto e postura para com os filhos, como quem mostra o quanto o mundo é difícil com quem não aprender a ser durão. A prova disso é quando o Sr O’Brien pede para os filhos tentarem dar um murro em sua cara. Momento simples, mas carregado de tensão nos olhares dos filhos assustados com o ato estranho que o pai pede.
Outro fator conclusivo pra se assistir o filme e notar a diferença são os excessos de voice over, ou seja, muitos pensamentos dos personagens falam alto durante as cenas, às vezes chegando a parecer orações (e o excesso de compositores polacos na trilha sonora ajudam a endossar o clima espiritual que o filme tem).
Se esse clima já permeava os trabalhos anteriores de Malick, nesse, a carga aumenta pois a morte de um dos filhos é o ponto principal dos questionamentos que nos levam a uma viagem temporal. A mãe figura dócil e portal da liberdade dos filhos é responsável por boa parte dos questionamentos relativos à morte, perda e redenção.
Isso tudo sem falar o que todos já falaram, sobre as imagens extremamente maravilhosas e toda a proposta sensorial que o filme passa.
Sem dúvida o filme dividiu e vai continuar dividindo as opiniões que, independente se é bom ou ruim para quem o assiste, pelo menos todos poderão contar num futuro que foi uma experiência sensorial que todos lembrarão ter passado.
Link YouTube | Um trailer que deve ser visto em HD, com todo o tempo do mundo
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