Fogo-fátuo: (do latim i̅gnis fatuus), também chamado de Fogo tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

* * *

Faltava era o chamego. De frente um para o outro depois de meses se falando por computador, a paulada para desabar tudo em amor e saliva não acontecia. Na tela do celular, os verdes eram jogados aos dois vendos há meses, dele para ela e dela para ele. 

Se conheceram em um daqueles grupos de comida rápida e saudável que trocava receitas. Numa noite ele experimentou um ratatouille que ela recomendou e voltou para agradecer na página dela. Cebola, tomate, berinjela, ervas, pimentão. Coisas simples e baratas, só picar e botar para assar, ficou uma beleza. Ela pessoalmente pediu para ele não se esquecer da folha de louro. "Perfuma a casa inteira".

Era um tal de elogios e galanteios aos feitos um do outro, à atenção dada e recebida, às horas de conversas que passam de comidas para as séries e livros que viam e liam, aos pensamentos políticos, sociais e turísticos. Chegaram a marcar de, um dia, irem juntos para a Itália, Bolonha, Calábria, a porra toda.

Até que um dia ele pegou o carro, dirigiu três horas e foi tocar o interfone da casa dela. Num final de sexta ela comentou que estava assando aquele ratatouille e que tava cheirando o prédio todo. Ele disse que se ela continuasse fazendo inveja ele pegaria o carro e iria até lá correndo pra ajudar a comer. Brincadeira que vira aposta que vira verdade. Chegou com fome dela e, com o dedo tremelicando, apertou número do apartamento.

Subiu, porta aberta e um abraço meio desencontrado. Não é todo dia que se abraça alguém que conhece tão bem sem nunca ter visto. Ela não sabia direito se o chamava para a cozinha, ele não sabia muito bem se era para sentar-se no sofá ou permanecer em pé. A coisa foi tomando forma aos poucos, ela ofereceu uma bebida, ele fez uma piada e ambos riram, ela colocou as mãos no peito dele e o casal ficou se entreolhando. 

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Comeram, foram para o sofá. Ela colocou para tocar uma Céu bem baixinho, conversaram o mundo, trocaram suspiros, olharam para o chão e, no vinil, a Maria do Céu dizia que construiria a casa dela no cangote de alguém e indagava "como pode, no silêncio, tudo se explicar?".

Mas faltou o chamego. Ficaram num desarranjo, ela sem saber se ele partiria para cima, o cara não querendo parecer um maluco que saiu da cidade de onde saiu para agarrar uma menina em seu apartamento no começo da madrugada. Se encheram de dedos e um encheu do outro. Ela disse que estava com sono, que o vinho a derrubou. Ele se levantou, as pernas parecendo aquelas dobras de canudo, sanfonadas. Pegou nas mãos dela e beijou as duas. Ela sorriu.

E ficou nisso.

Ele agradeceu a comida e disse que queria voltar um dia. Mas nunca mais voltou. Desceu as escadas rumo ao arrependimento. Devia ter falado. Ela foi para a cama confusa, não sabia se deveria ter pedido para ele ficar.

Quando ele chegou na rua, olhou para o vidro da varanda dela. Uma luz verde azulada se fez notar. Era o maduro das chamas que se fizeram no tapete onde o tesão morreu.

Pena que acendeu o fogo errado.

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados