"As pessoas falam obrigado antes de começar a tréplica, Guilherme. Isso é muito doido. Você não sabe quão raro é isso!"
Não sei quantas vezes eu disse ao Guilherme Valadares, amigo de longa data, quão incrível era a área de comentários do PapodeHomem. Conversas longas, construtivas na maior parte do tempo, gente inteligente, interessante, educada. Em um café em uma tarde aleatória com ele e o grande Luciano Ribeiro, pensamos sobre como seria possível quantificar a riqueza desses comentários e, com eles, tentar observar o impacto do que o PdH publica — e o impacto das contribuições da comunidade sobre ela mesma.
Então, eu e o Bernardo Vianna começamos a analisar tudo que foi publicado e comentado nessas páginas, desde dezembro de 2006. Com algumas ferramentas que criamos para o Impacto.jor, extraímos do Disqus 226 mil comentários.
"A cada 11 comentários, um agradecimento"
Para começar, encontramos frases de agradecimento em 19.796 comentários nesses últimos 12 anos. É um índice incrível.
Em outras 1.675 vezes, leitores e leitoras disseram que iriam utilizar o que leram aqui de alguma forma em sua vida (dizendo que iriam tentar, experimentar ou fazer algo indicado).
Em 852 dos comentários que analisamos, as pessoas diziam que de fato haviam lido ali algo que as havia ajudado (falando coisas como "Me ajudou muito", "Isso mudou minha vida", etc).
Estamos falando, importante ressaltar, os comentários feitos no site, e não os da página do PdH no Facebook (que são em maior quantidade, mas em menor qualidade, na média). Mesmo que muitas das nossas conversas online tenham saltado de fóruns e caixas de comentários para outras redes como WhatsApp, Facebook e Instagram nos últimos anos, o espaço aqui embaixo se manteve movimentado em 2018. Por quase 15 mil vezes (14.809 até o início de dezembro), vocês leitores do PapodeHomem agraciaram a caixa de comentários neste ano que passa.
É interessante notar uma peculiaridade dos artigos do PdH: muitos deles tem uma vida útil enorme porque, de novo, eles não são mero conteúdo, mas chamadas para conversa. Em vários sites de notícias, os comentários são fechados depois de dois ou três dias da publicação, o que faz algum sentido. Por aqui, há muito do que os gringos chamam de "evergreen content".
Neste artigo de outubro de 2017, pessoas trocavam suas experiências e conselhos depois de términos dolorosos de relacionamento meses depois da publicação. A maior parte dos comentários rolou já em 2018, em conversas muitas vezes espaçadas por semanas, em que era possível ver como as pessoas da comunidade aqui se preocupam umas com as outras.
Mesmo quando não rolam conversas mesmo, com réplicas e tréplicas, há uma sensação de que o espaço de conversa tem valor. Considere o mais longo comentário postado em 2018, também no texto sobre fins de relacionamento: uma longa história de quase 20.000 caracteres (quase o dobro da publicação original), que termina com "Obrigado pessoal. Foi bom desabafar aqui."
Mais do que uma caixa de comentários, uma comunidade
Outra vantagem de ter uma comunidade vibrante é que mesmo quando a parte editorial erra — ao menos aos olhos de muitos membros desta comunidade — as críticas são bem acima da média, e as discussões se mantém no tema, expandindo o tópico inicial.
O texto com mais comentários este ano teve 312 deles e foi — sem muita surpresa aqui — sobre como parte importante da comunidade LGBT se sentia sobre a eleição de Bolsonaro. O texto, publicado duas semanas antes do primeiro turno, atraiu muitas críticas e um respeito bastante razoável pelo voto alheio, se comparado com o cenário de terra arrasada que se viu em outros cantos da internet em 2018.
Uso "comentários" e "comentaristas" aqui, mas isso não faz exatamente jus ao que poderia ser melhor descrito como "contribuições" e "membros da comunidade". Ao criarmos visualizações dos dados, vimos muitas figurinhas repetidas. Há gente que escreve relativamente pouco, mas consistentemente, como o Camilo Vitorino, que há oito anos dava dicas sobre churrasco, há quatro copiava a ideia de uma mesa Do-It-Yourself e em 2018 falava sobre se relacionar com uma pessoa depressiva.
Fora dos gráficos, é bem legal ver ao longo do tempo a evolução dos comentários das pessoas, que dão sinais de amadurecimento e mais experiência na vida. Ver uma pessoa de 18 anos, com espírito "saco-roxo" nos comentários em 2008 dando conselhos sensíveis em uma das mentorias — grande destaque do site de 2018, em minha opinião — é algo a se admirar.
Os articulistas também contribuem fortemente para esse ambiente convidativo às conversas, e entre os top comentaristas há vários autores do PdH. Alguns escrevem em um volume bem fora da curva. Em 2010, por exemplo, Gustavo Gitti escreveu inacreditáveis 421.632 caracteres em comentários (é mais do que escrevi para o meu livro!).
Esses dados e recortes são apenas uma amostra fria de um universo pulsante.
Esperamos continuar a pesquisa para entender melhor o impacto do PdH na vida desta comunidade. E vocês podem nos ajudar aí embaixo contando uma história de como uma conversa aqui foi útil para sua vida. 😉
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.