Morreu no sábado (18) Chuck Berry, um dos fundadores do rock’n’roll, aos 90 anos, nos EUA. Seu corpo foi encontrado em casa, em St Charles, no Estado do Missouri.
Referência fundamental para ícones do rock como Keith Richards e John Lennon, o guitarrista norte-americano é figura crucial para entender a música do século 20.
Como guitarrista, compositor e cantor, ele inovou em diversas frentes — e assim consolidou uma linguagem musical e estética que abriu caminho para a definição do rock.
A importância musical e estética
Virtuose da guitarra, fundiu country e blues criando uma levada única. Nas canções que compôs, inaugurou uma temática descompromissada e rebelde ao falar de festas, carros, paixões e aventuras.
No palco, era um showman: inventou a Duck Walk (o passo do pato), dancinha icônica que todo mundo faz quando vai imitar um guitarrista.
Ao lado de Jerry Lee Lewis, Little Richard e Elvis Presley, formatou o gênero musical que falava diretamente aos jovens e adolescentes dos Estados Unidos — e do mundo — no pós-Segunda Guerra mundial.
Era um gênero sensual, descontraído e potente: o rock’n’roll — muito menos cerebral que o jazz, muito mais dançante que o blues.
Assim, Chuck Berry influenciou grandes nomes que viriam depois: Beatles, Rolling Stones, Beach Boys. Todos beberam, declaradamente, na fonte do guitarrista.
Um legado em 7 frases
Eleito como o quinto maior artista da história pela revista “Rolling Stone”, Chuck Berry teve uma carreira fundamental para entender a música do século 20. Leia abaixo frases de ícones do rock sobre o artista e ouça algumas das músicas que compõem o repertório básico do gênero.
“Se você quiser dar um outro nome ao rock’n’roll, você poderia chamá-lo de Chuck berry”
John Lennon — cantor e compositor americano, um dos integrantes dos Beatles
“Eu nem sei se Chuck tem ideia do que fez. Eu acho que não… Foi algo tão completo, um som incrível, um ritmo tão grande saindo da agulha de qualquer um dos discos de Chuck. Foi quando eu soube o que gostaria de fazer da minha vida”
Keith Richards — compositor e guitarrista dos Rolling Stones
“Ele era o Shakespeare do rock’n’roll”
Bob Dylan — cantor e compositor americano
“Ele me ensinou como escrever as melodias do rock, como os vocais deviam soar”
Brian Wilson — cantor e compositor, ex-integrante dos Beach Boys
“Se você quer tocar rock’n’roll ou qualquer outro número mais acelerado, você acaba soando como Chuck”
Eric Clapton — cantor, compositor e guitarrista
“Chuck Berry foi o maior representante e guitarrista do rock e o maior compositor do puro rock’n’roll que jamais exisitiu”
Bruce Springsteen — cantor, compositor e guitarrista
“As pessoas sempre fazem cover das músicas do Chuck Berry. Quando as bandas vão fazer sua lição de casa, vão ter que escutar Chuck Berry. Se você quer aprender sobre rock’n’roll, se quer tocar rock’n’roll, você tem começar por ele”
Joe Perry — guitarrista do Aerosmith
Chuck em 5 músicas
- ‘MAYBELLENE’, 1955
O primeiro single de Chuck Berry. A guitarra distorcida é uma novidade na época. É um dos marcos históricos do nascimento do rock.
- ‘ROLL OVER BEETHOVEN’, 1956
Chuck Berry chama a atenção para importância da música. Não se podia mais não levar a música e o rock a sério. A canção recebeu cover dos Beatles. Leonard Coheb a comparou ao grito primal do poeta Walt Whitman: “se não tivéssemos ‘rolado por cima’ de Beethoven, não haveria espaço para nenhum de nós”.
- ‘ROCK’N’ROLL MUSIC’, 1957
Os Beatles e os Beach Boys fizeram cover dessa canção, que é um tributo direto e simples ao rock, definindo o que era o gênero nascente.
‘JOHNNY B. GOODE’, 1958
A introdução é inconfundível. A canção é talvez o maior hit de Chuck Berry — e o hino rock, tanto pela sonoridade quanto pelo tema, um rapaz que se digladia com a ideia de ter sucesso e realizar o chamado sonho americano. A canção foi enviada ao espaço como mostra da música feita na Terra, ao lado de Mozart e Bach.
- ‘SWEET LITTLE SIXTEEN’, 1958
De levada leve e animada, é uma canção que fala do frescor da adolescência, e que foi influência determinante para Brian Wilson na composição de “Surfin’ USA”.
A questão racial e a violência contra mulheres
Ao longo da segunda metade dos anos 1950, Chuck Berry lançou uma série de canções que viraram hits. Isso fez com se tornasse um alvo do establishment, afinal, era um artista de sucesso em um país que ainda não reconhecia os direitos civis dos negros. Na canção “Brown Eyed Handsome Man”, de 1956, faz um comentário social sobre o orgulho de ser negro.
Foi perseguido pela polícia diversas vezes e chegou a ser preso por ter trazido uma menor de idade do México (ele recorreu da condenação por ter apontado motivações raciais na sentença, mas acabou perdendo).
Se a importância de seu legado musical é indiscutível, seu histórico de violência contra mulheres levanta discussão. Em 1987, Chuck Berry foi preso no hotel Gramercy Park em Nova York, acusado de ter agredido uma mulher. Ele confessou a culpa e pagou US$ 250 de multa para ser liberado. Já no começo dos anos 1990, Chuck Berry teve que pagar US$ 1,2 milhão para 59 mulheres, por ter instalado uma câmera escondida no banheiro de seu bar.
O site The Conversation questiona o legado do músico: até que ponto as grandes celebridades, em especial as da música, têm seus atos de agressão contra mulheres esquecidos? A matéria cita os exemplos de John Lennon, Ozzy Osbourne e Tommy Lee, todos acusados de violência doméstica — fato que é relativizado quando se fala da carreira desses músicos. E cita ainda o fato de que, quando os artistas são brancos, eles são ainda menos vistos como autores de um crime.
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