Um dos principais cuidados que nós tivemos teve desde o início do projeto “O Silêncio dos Homens”, foi o de evitar palavras e termos considerados problemáticos no atual contexto da sociedade brasileira. 

Para quem assistiu o filme, tente lembrar (se não assistiu, repare quando assistir): evitamos a palavra gênero e a única vez que o termo "tóxica" apareceu no documentário foi em uma fala do Cláudio Serva, criador do Prazerele, quando ele faz a distinção entre o que chama de broderagem tóxica e broderagem saudável.

Assista a fala completa:

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Apesar de engraçada, essa história do mamão diz muito sobre como os grupos de amigos homens costumam operar (e quase todo mundo tem um amigo com um apelido cuja origem é uma piada, não é mesmo?). 

Desde a infância e adolescência, é comum perceber que, quando se juntam três ou quatro garotos, fica um esperando o deslize do outro para a próxima oportunidade de fazer bullying ou piada às custas do amigo.

Com isso, a pretensa cumplicidade que é terreno fértil para risadas deixa de lado a criação de um espaço seguro, em que é possível expor medos, dúvidas, problemas e anseios. Nas palavras do Cláudio:

Não é validado para o homem mostrar essa vulnerabilidade, então, ele prefere sacanear para ficar protegido no seu cantinho.”

Certa vez, quando eu conduzia uma dinâmica sobre masculinidades para um grupo de executivos de uma multinacional brasileira, um deles compartilhou uma história sobre essa prática. 

Parte de um mesmo grupo de amigos que se conhecem desde os 14 anos, ele disse que, embora todos sejam homens bem sucedidos, com família e tenham quase 40 anos, a cada encontro eles se comportam como se voltassem àquela mesma faixa etária.

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E, embora todos os cinco em algum momento tenham externado incômodo com assuntos que objetificam as mulheres ou fazem graça com a sexualidade um do outro, o comportamento continua. O que acontece é que, a cada vez que um problematiza uma questão, os outros quatro automaticamente se unem para fazer gracejos com quem se disse incomodado.

Quando se contrói relações por anos a fio em cima dessa dinâmica, é difícil romper esse ciclo. No meio do caminho em busca de relações mais saudável, certas amizades podem, inclusive, deixar de fazer sentido.

Gostaria de ouvir de vocês, nos comentários: entre os grupos de amigos que você têm, é possível perceber essas manifestações de broderagem tóxica ou broderagem saudável? Se sim, como elas te afetam? Você já tentou mudá-las alguma vez?

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Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."