Teoria do Big Bang ou existencialismo. Compasso 12/8 ou a diferença entre os 4 porquês. Tudo o que sabemos não aprendemos de uma fonte localizável, na escola ou de uma pessoa específica.
Primeiro ouvimos algo sobre a teoria do Big Bang num livro que alguém nos leu, depois aprendemos a ler e folheamos o fascículo sobre o universo da enciclopédia Conhecer que estava perdido na estante. Depois assistimos a um episódio da série The Twilight Zone. E então um professor, outro, um amigo, o planetário, um livro de ficção, mais filmes e recentemente um seriado americano.
Por um longo tempo, a escola ignorou e tentou esconder o verdadeiro processo de educação: nossos percursos de aprendizagem, o modo ativo pelo qual nos movimentamos no mundo. Em vez de explorar nossa autonomia no processo de construção dos saberes, fomos ensinados que educação é sinônimo de ensino, que aprendemos passivamente sentados em cadeiras, de acordo com currículos e programas aprovados pelo MEC.
Link YouTube | Nem mesmo nossos professores de física sabiam do que hoje aprendemos num só episódio de “The Big Bang Theory”
Transmissão de informações?
A visão senso comum sobre comunicação, linguagem e educação pressupõe que haja uma transmissão de informação de um ponto (fala de um professor, lousa, livro) aos nossos sentidos (ou melhor, a educação tradicional só trabalha com visão e audição), que é “processada” pelo nosso cérebro e então, de algum modo, armazenada. Depois checamos, por provas e avaliações, se os dados enviados foram retidos.
Tal imagem informatizada, como se a mente fosse um computador, se sustenta ainda hoje, especialmente no Brasil, porque a maioria das pessoas que cursam Pedagogia e se formam “educadores” não faz ideia das recentes descobertas das ciências cognitivas. Poucos conhecem o trabalho de Francisco Varela e Humberto Maturana, por exemplo, que mostram que não há tal transmissão de informação.
Sem entrar em detalhes (que você pode encontrar abaixo nos slides de uma palestra minha), podemos afirmar que aprender matemática ou francês, por exemplo, não significa receber informações e saber processar signos, mas adquirir olhos e entrar em mundos. É por isso que se aprende francês muito mais rápido se você mergulha em sua cultura ou, do mesmo modo, matemática, se você tiver um amigo apaixonado por proporções, cálculos e abstrações.
Para um professor de matemática, o mais importante não é ficar apontando objetos matemáticos (números, fórmulas, equações), mas saber compartilhar seu olhar matemático que inicia os alunos em um mundo matemático, numa esfera de significações e fenômenos tão real quanto o universo sensorial no qual vivemos.
Sempre que ocorre um processo de compartilhamento de olhares e construção de mundos (nada a ver com processamento de informações), estamos diante do fenômeno educativo.
Link Slideshare | Palestra “Biologia da Cognição: a teoria de Maturana e Varela e seus desdobramentos filosóficos e práticos”
Gerar certezas ou abrir perguntas?
“Nenhuma aprendizagem evita a viagem. Sob a orientação de um guia, a educação empurra para o exterior. Parte: sai. Sai do ventre de tua mãe, do berço, da sombra oferecida pela casa paterna e as paisagens juvenis. Ao vento e à chuva: lá fora, faltam todos os abrigos. As tuas ideias iniciais não repetem senão palavras antigas. Jovem: velho tagarela. A viagem dos filhos, eis o sentido despido da palavra grega pedagogia. Aprender provoca a errância.” –Michel Serres, em O Terceiro Instruído (1993)
Infelizmente, a educação atual ainda se faz com certezas, não perguntas. Nas aulas de ciência, mais do que ensinar teorias e conclusões, deveríamos ensinar o método científico, esse sim a base da verdadeira ciência. Nas aulas de história, em vez de falar de fatos, poderíamos mostrar a ausência de definição do passado (e do presente) comparando duas visões diferentes sobre um evento.
Tal inversão só é possível após o reconhecimento e a apreciação de nossa autonomia, de nosso próprio percurso de aprendizagem, cujo centro não é o professor nem a escola, nem outra coisa, tampouco nós mesmos. Nosso percurso de aprendizagem não tem referência, é pura abertura. Viagem. E o que mais estimula essa viagem? Não saber, ignorar, desconhecer.
Aprendemos pela dúvida, pelo erro, não pela segurança do acerto.
Educação para além da sala de aula
Se a escola quiser sobreviver como instituição, sua “tarefa de casa” é aproveitar e aprender com a educação que já acontece fora da escola, incorporando tais processos na vida escolar, contentando-se em ser apenas mais uma parada nos percursos de aprendizagem dos alunos. Se isso é possível ou se a solução será dinamitar a instituição como um todo (radicalizando as ideias de Ivan Illich), não sei. Cabe a nós experimentar.
Por enquanto, gosto de muito do que se tem feito em organizações paralelas (com a Palas Athena), em escolas de educação democrática (como a Politeia), na web como um todo (palestras do TED ou cursos gratuitos do MIT, por exemplo) e especificamente em cursos de educação a distância, como os do COC, certificados pelo MEC.
Reconhecendo a autonomia das pessoas e seus processos de aprendizagem, a Faculdade Interativa COC oferece cursos de graduação, pós e até MBA online. É possível se inscrever nesses links para receber mais informações.
Se vocês souberem de outras boas iniciativas de educação, compartilhem nos comentários.
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