Dia desses uma amiga me perguntou "como acreditar no amor depois dessa?", ao saber do fim de um relacionamento de dois grandes amigos que eram vistos como o casal vinte da turminha dela. 

"Mas a ideia é justamente não acreditar nele", lhe respondi com a cara de quem tem todas as certezas do mundo dentro da sacola. Eu já escrevi aqui sobre como o amor é superestimado, né, do medo que a gente tem dele por colocá-lo num patamar bem acima da realidade e, claro, acabar se frustrando por nunca alcançar aquele nível de singularidade, que nenhum namoro vai ser especial naquele tanto, jamais um casamento aturará a cobrança extraordinária para ter seu cotidiano igual a aquele cogitado por quem ama de forma exacerbada. Não dá.

Só que olha só a maluquice que a nossa cabeça nos enfia. Há quem chegue a essa pequenina conclusão, a de não superestimar o amor, em algum ponto da vida depois de mais uma decepção. E isso deveria ser ótimo, certo?

Ah, nada como sair de um extremo direto para o outro.

Quando passei meu conselho grátis, ela, a amiga desanimada com as recentes afeições amorosas me lançou "mas eu já estava nesse nível mesmo. Ele não existe, né? O amor. Não dá pra contar com ele". No que eu, olhando de volta pra ela, relutei, claro. "Prefiro o inferno amando".

Escuta, não acreditar no amor não é ser alguém frio e pessimista, descrente do que de bom essa relação mais próxima com alguém, se englobar sensualidade ou sexualidade, só pode ficar nisso de alguns momentos de putaria e depois cada um na sua pra não chocar a brincadeira, não embolorar o papo, "vamos embora enquanto tá tudo bem?". A gente não deixa de confiar no amor como se fosse um malandro no centro da cidade, mas a gente mantém relação com o amor como com um amigo que brinca com você o tempo todo e você acha ele bobo, mas gosta pra caralho dele. Manda o amigo à merda, mas chora com ele e curte com ele o que aparece de bom. 

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É tudo brincadeira, farra, piada, zombaria, é ziriguidum, balacobaco e telecoteco, exige entrega, mas não mergulho cego. Exige esperteza e análise, mas não ceticismo, sacou.

Se entrega, mergulha, se lambuza

O amor. Ele é bobo.

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados