Escrevo agora para desmascarar uma terrível conspiração.
Adoro pão de queijo. Comi pão de queijo a vida toda. Passei sete anos fora do país e traficava polvilho azedo e doce como quem contrabandeava cocaína.
Esse tempo todo, sempre ouvi que o melhor, o verdadeiro, o pão de queijo moleque, o pão de queijo maroto, o pão de queijo de várzea, o pão de queijo de raiz, era o pão de queijo de Minas Gerais.
Pois bem. Esse carioca está em Minas Gerais. Livre, leve e solto. Aberto e disposto a comer o melhor pão de queijo do mundo.
E cadê ele?
O pão de queijo perfeito está sempre em outro lugar.
Ao meu lado, invariavelmente, um mineiro prova o mesmo pão de queijo que eu e diz:
“Uai, ess’trem tá bão, não. O pãodiqueiji bão mesmo é alipertim, (naquela loja/naquela cidade/naquela estrada).”
Ou então, pior, muito pior, dizem que sim, Minas tem o pão de queijo ideal, claro!, mas só se for feito em casa.
Na casa de quem?, eu pergunto, já desesperado. Onde? Qual o endereço? Lá passa ônibus?
O fato é: estou em Minas há seis dias. Já passei por quatro cidades (BH, Congonhas, São João del Rey, Tiradentes). comi todos os pães de queijo que vi pela frente.
E não encontrei nenhum que fosse significativamente melhor do que o pão de queijo bom que se come em qualquer lugar do Brasil.
(Comi a melhor empada de queijo do universo no Mercado Central de BH, mas aí já é outro salgadinho.)
Em suma, a conspiração já começa a ruir. As máscaras caem. As mentiras começam a aparecer. Dá pra enganar todo mundo por algum tempo, ou algumas pessoas por todo o tempo, ou cariocas que não cruzaram o estado degustando pão de queijo, mas tudo tem limite.
Estou sacando vocês, mineiros.
Estou em São João del Rey. Hoje, vou pra Bichinho. De lá, Mariana e Ouro Preto. Pra terminar, Inhotim e BH. Ainda dá tempo de salvar a honra de vocês. O Brasil inteiro está vendo.
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