I. Como esse silêncio se constrói?

As masculinidades hegemônicas são construídas a partir de dois fatores: domínio dos homens e repúdio a tudo o que é feminino.

Para essa estrutura se sustentar, nós vigiamos uns aos outros, e procuramos a aprovação um do outro. O silêncio é uma forma de apoio invisível: vai desde uma piada machista a casos em que, havendo abuso da parte de um amigo, por exemplo, ninguém chama atenção.

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II. Pacto narcísico da masculinidade:

Você deve estar se perguntando como a maioria dos homens fazem isso sem nunca terem planejado, como se tivessem aprendido por osmose. Esse pacto entre os homens acontece porque psicologicamente tendemos a defender quem é nosso semelhante, por isso pacto narcísico, assim como Narciso, apaixonado pelo seu reflexo, somos "apaixonados" por quem parece e tem as mesmas ideias que nós.

Pintura de Caravaggio sobre o mito de narciso.

III. Existem outros vários pactos.

Existem outros pactos, e talvez fique mais simples de entender. Existe o pacto narcísico da branquitude, o pacto narcísico da cisgeneridade, entre outros. Grupos oprimidos, como mulheres, e negros por exemplo, tem muita dificuldade de construir esses pactos, porque a opressão dos grupos dominantes serve para manter seus privilégios e promove estratégias para que isso aconteça em todo ambito cultural.

IV. O efeito nefasto do pacto masculino.

O pacto faz com que se mantenha diversas opressões, como a exigência do padrão corporal das mulheres, padrão afetivo. Mantém relações abusivas psicologicamente e fisicamente. Mantém a desigualdade no trabalho e a opressão sistêmica para com as mulheres e LGBTQIAP+.

V. Como o pacto afeta a nós.

Pelo pacto manter os privilégios da masculinidade, parece que só existem benefícios, mas na verdade tem malefícios para nós também,

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porque o silêncio dos homens também é a impossibilidade de falar dos próprios sentimentos, cuidar da sua saúde física e mental, falar de si e dos seus problemas e fragilidades, dificulta sair dessa lógica da masculinidade tóxica.

VI. Nossa responsabilidade é fazer barulho.

Se pretendemos ser homens melhores, precisamos ter iniciativa. Chame atenção do seu amigo que tem atitudes ruins, converse com seu irmão, seu pai, sobre masculinidades, saiba ouvir quando for você a pessoa que cometeu erro e mude, para melhor. Chega de silêncio.

Consegue pensar nas vezes que você defendeu ou não se opôs a alguém que era do seu grupo? Um amigo, um familiar? Conta pra gente aqui nos comentários e vamos pensar juntos em como quebrar o silêncio em situações difíceis.

 

João Marques

Escritor, pesquisador da psicologia das masculinidades e questões raciais.