Não adianta pentear, raspar, descolorir ou pagar 50 mangos para ter aquela barbona vistosa do Jake Gyllenhaal. 

Parece óbvio, mas se fosse tão fácil entender de cara as limitações impostas pela vida, não teria tanta maluquice por aí. Ou teria, mas seria uma mais plena, heterogênea e estaríamos todos brilhando de intensidade com uma enorme paz interna. 

No meio de tanta coisa, uma das causas universais da ansiedade nesses novos tempos é o difícil equilíbrio entre desejo e realidade, entre imagem produzida em estúdio e cotidiano. Tem um abismo enorme entre uma coisa e outra, certo? 

Falando especificamente do visual, boa parte de chegar num ponto satisfatório é entender o que a genética guardou para você. Portanto, não adianta ficar pirando no Instragram naqueles barbudões-lenhadores-coisa-ruim se sua barba é um fiapo feito a do Marcelo D2. Vai lá, encara o espelho e entenda onde pode ir com esses pelos que insistem em nascer pelo rosto. No Instagram todo mundo é rei, o bigode de Salvador Dali fica 100% paradinho, a barba tem formato que daria um vetor bonito e cores chapantes. Nada parece errado. Mas, na realidade, dá errado. 

Sabemos que sempre pode dar errado.

Tem um outro ingrediente nessa coisa toda que, na real, é uma baita armadilha. A barba foi por muito tempo motivo de segregação, olhares atravessados, sinônimo de gente sem futuro e todos esses sinônimos aplicados ao pessoalzinho de humanas (sim, sou um desses). 

Mas o jogo vira e eis que, agora, ter um barbão está na moda. É hype, hipster, chique, elegante, sincero e causa aquela fila estressante na barbearia. Os profissionais – nada bobos – estão jogando lá no alto os preços pela navalhada nos pelos. 

Bem, você já deve ter sentido na pele que estar na moda não é necessariamente proveitoso.

“Eu tava na moda antes de estar na moda”

O Giulio Arpin, do YouBeard, toca nesse tópico:

“Infelizmente (a barba) se tornou maior que uma escolha natural com algum valor para alguns caras. Agora a barba é como se fosse uma marca específica de tênis ou jaqueta que está em alta no momento.

Hoje em dia, para ser cool e estar na moda, você precisa cultivar uma barba. Sei que é triste. Óbvio que isso não se aplica a todos. Mas o vírus da barba tem se espalhado ao redor do mundo”.

Claro que com o modismo, vem o segundo passo: as barbas que você precisa ter para ser um barbudo real. E aí surgem essas listas esdrúxulas por sites masculinos apontando o dedo para isso ou aquilo. Também aparecem aqueles testes de personalidade que querem estigmatizar tudo, como se o cara que deixou a barba no modelão Abraham Lincoln acordasse todo dia com uma vontade incontrolável de libertar escravos, ou como se o cara que aderiu à bigodeira estilo Lemmy Kilmister amasse obrigatoriamente motos e baixos Rickenbacker. 

Duvida que há quem faça esse tipo de coisa? Então dá uma olhada neste artigo do The Huffington Post. É uma reinterpretação do horóscopo usando pelos faciais.

O Telegraph, da Inglaterra, lembra do psicólogo norte-americano Robert Pellegrini. Segundo ele, “a barba comunica uma imagem heroica do pioneiro independente, robusto e engenhoso, pronto, disposto e capaz de fazer coisas viris”. O doutor ainda arremata: 

“Dentro de cada homem bem barbeado há uma barba gritando para ser solta”. 

Soa atual, né? Mas na real é de estudo das tendências da barba de 1973.

Com todas essas coisas flutuando pela internet, achei que era uma boa recolher relatos reais de como essas relações entre expectativa e realidade, barba real e Instagram se desenvolvem na caixola. 

E é aquilo: barbas são reais e crescem de maneiras diversas, muitas vezes bem diferentes do que você gostaria de encarar no espelho logo pela manhã. Se apegar ao Tumblr só vai gerar frustração e angústia em níveis cavalares. Por trás disso tudo, tem uma porção de caras que simplesmente deixam a coisa a acontecer. A grande ideia é conhecer pessoas que possuem barbas reais e alavancar conversas reais sobre o tema. O que faz pra cuidar, como deixa crescer – aproximar homens desse papo. Porque já se foi o tempo em que macho não falava disso ou daquilo.

O que eles fazem, como se sentiram, como cuidam ou deixam crescer os pelos na face você acompanha nas próximas linhas. 

Três são barbudões. 

Mas tem também um cara que gostaria muito de chegar lá, mas os genes insistem em não deixar. 

Saca só:

Danilo Gonçalves: a barba que nascer já serve para mim

A barba nunca foi um objeto de desejo para mim, na verdade. Quando ela apareceu – naquele período da puberdade, de virar homenzinho -, nem curtia muito. Achava a minha feia, falhada. Com uns 19 anos, arrisquei deixá-la crescer – um pouco por relaxo e menos por vaidade. Da mesma forma tenho deixado meus cabelos encaracolarem hoje em dia. É aquilo: não sei exatamente no que vai dar, mas vou curtindo o processo.

Mas nessa primeira tentativa de deixar a barba, quase 10 anos atrás, não tinha coragem de deixar o bigode, tinha medo de ele crescer estranho, só fiapos. Basicamente, até os 25, tinha todo aquele trabalho com aparelhos de barbear. Aos 26, a vontade de testar a barba surgiu novamente. Em pouco tempo, no máximo uma semana, estava de barba cheia, que mantenho até hoje. 

Se falar que a mantenho por algum motivo em especial, estaria mentindo, mas muita gente, quando vê minhas fotos sem barba, diz que fico com cara de mais velho quando estou barbado, o que é bom e ruim.

Hoje, mais do que nunca, gosto dela do jeito que ela cresce. Não tenho tanto apreço, não a deixo modelada. É como se fosse um recado meu para mim mesmo e ao mundo: “Deixa estar. É assim que é.” Digo isso porque hoje em dia, totalmente barbado e adaptado, mantê-la não está entre os meus afazeres diários, simplesmente deixo ela quieta.

Jader Pires: a síndrome do quase lá

Se eu pudesse colocar um nome na minha barba, seria “frustração”. Tenho pelos avermelhados, mas de tão tímidos, nunca saíram como deveriam. Sempre quis ter uma barba ruiva e vasta, só que tive que lidar com a constante ausência dela no meu rosto. No máximo, e a muito custo, um cavanhaque mequetrefe. 

Fiz minha primeira barba aos 18 anos e nunca tive barba pra além da ponta do queixo. Mas ainda assim levo tudo com o maior zelo, passo a tesourinha duas vezes por mês, alinho o bigode e tento deixar o formato do cavanhaque simétrico, tirando os rebeldes que espetam pra lá ou pra cá. Depois limpo as laterais do rosto, abaixo das orelhas, pra sumirem aqueles poucos pelos finos que teimam em não vingar. A gente faz o que pode.

Por mais que a barba seja pouca, acho que ela ainda me ajuda a tirar a meninice da cara, sujar um pouco o que poderia ser meio bebê. Engraçado que, mesmo por mais discreto que seja, me sinto muito diferente quando, sei lá, uma vez por ano resolvo tirar tudo e ficar de cara limpa uns dias. 

Mas ter uma cabeleira de fogo na cara ia ser bem legal.

Guilherme Valadares: um Ewok entre nós

“Uns dois ou três anos atrás, já andava confortavelmente barbado pra todo lado. Fazia tempos que não andava por aí como rostinho de bebê, sem pelo algum – até porque meu rosto é daqueles no qual as sobrancelhas, deixadas ao natural, logo se unem. Creio que se ficasse um ano sem uma navalha, passaria fácil por um Ewok. Ademais, não curto muito ficar falando ou pensando em estilo pessoal e estética. Tendo a preferir coisas práticas, que não deem tanto trabalho.

Digressões à parte, estava estagnado na barba malandra de duas semanas. Usava um aparador elétrico pra mantê-la na medida e tudo bem, não tinha maiores preocupações. Era suficiente pra não ter cara de menino e seguro o bastante pra não ficar com aspecto largado.

A confiança para o salto de barba veio por insistência de minha mulher. Tanto pediu uma barba espessa e messiânica, argumentando que ficaria lindo em meio a tantos pelos, que após alguns meses acabei cedendo.

O processo de crescimento é duro: há uma fase, após algumas semanas, na qual os pelos parecem ter desistido de crescer. Foi um processo até conquistar a barba de um mês.

Mas, depois de chegar lá, tomei gosto pela coisa, e acabei adquirindo confiança pra ir até a barba que aparece nessa foto, que acredito ser resultado de uns bons três ou quatro meses de cultivo, no mínimo. E não uso produtos, só shampoo (o de cabelo mesmo) e um aparador elétrico – apesar de que toparia experimentar um óleo ou algo assim, a minha é muito seca.

Já faz um ano que ando por aí de barbão – tem sido uma experiência divertida e interessante. Todo mundo se refere a você como “o barbudo”, você ganha ares de mais velho e mais sério – ou bravo. Não me sinto necessariamente mais bonito nela, mas sinto, com o risco de soar bobo aqui, com mais personalidade, em termos de estilo. Até meu corte de cabelo também mudou pra acompanhar, passei a usar o raspado na lateral, indo nessas barberias pra homem que andam pipocando.

E assim tem sido. Mas confesso que ando pensando em fazer uma tosa e voltar aos tempos da barba curta. Veremos.”

Luciano Ribeiro: barba falhada não é falha de caráter

Eu ainda lembro do momento em que decidi deixar minha barba crescer pela primeira vez. Foi bem naquela época em que você resolve que não quer mais ser molecão, que está na hora de resolver as coisas, tomar as rédeas da vida e andar com as próprias pernas.

Mas eu, que tinha, basicamente, a mesma cara de quando estava com 15 anos, não conseguia me fazer respeitar em nenhum espaço “adulto” que adentrasse. Para combater esse preconceito por ser jovem, usei a barba. E sempre fui tranquilo com a barba que tinha, mesmo cheia de falhas, mais rala nas laterais e com um buraco embaixo do queixo.

Eu me sentia mais adulto, mesmo que às vezes ela não correspondesse às expectativas externas – perdi a conta de quantas vezes me pediram pra tirar a barba, por exemplo. Até começar a ver as imagens de Pinterest e Instagram com a moda lumberjack, eu nunca nem tinha pensado que havia algo de errado com ela. Aliás, nem acho que tenha. Pra mim, é uma barba como outra qualquer, diferente, mas nem por isso pior. Até tentei, mais recentemente, me adaptar e seguir a moda, mas acho que não é pra mim.

Realmente não há nada que eu possa fazer para mudar minha barba, deixar ela mais recheada, mais vistosa, mais parruda. Então, sigo bem do jeito que estou. Tenho a impressão de que dá muito mais trabalho e sofrimento tentar ser algo que não sou do que aprender a lidar com o que tenho em mãos.

Ou melhor, na cara.

Eduardo Amuri: a barba desarrumada, mas feliz

Já se passaram 3 anos desde que adotei a barba como padrão. Não sei explicar o motivo de maneira muito precisa, mas simplesmente passei a me sentir melhor com ela. 

Foi questão de dar uma chance. 

Na adolescência, me faltaram amigos sinceros e sem grandes pudores para avisar que tirar só o bigode e deixar crescer o resto não era algo lá muito legal (ao menos para mim). Fiquei um bom período de rosto liso, até que arrisquei deixar tudo, pela primeira vez. O primeiro mês é complicado, coça, fica cheia de falhas, não parece cair bem, mas passado o estranhamento inicial, criei simpatia pela versão alongada do meu queixo. 

O formato arredondado que meu rosto toma quando a barba fica muito grande gera um desconforto, mas nada que uma visita ao barbeiro a cada 20 dias não resolva. Os pelos meio bagunçados também incomodavam no começo, mas hoje convivemos bem. Um pouco porque criei apreço pelo visual mais bagunçado, outro pouco porque peguei a manha de ajeitar na tesoura. 

No geral, me identifico com personas barbadas. Acabam me passando uma imagem mais cheia de personalidade, mais completa. Gosto da ideia de me vestir de maneira básica, sem estampas, e da barba ajudar a compor um visual menos insosso”.

E você? Para onde vai essa barba toda? Qual é (ou era) o apavoro que o Pinterest te dava?

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Sobre barba

Como deixar a barba crescer: o passo-a-passo e o emocional

Mecenas: Philips 

Nos próximos meses, Philips será mecenas de um canal especial sobre barba e estilo: vamos abordar todos os caminhos da barba, desde quem está deixando os pelos crescer até a conservação de quem já tem tudo no lugar.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.

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