Esqueça as linhas desenhadas no deserto de Nazca, a construção de Stonehenge, o incidente em Roswell, a identidade do Dr. Love e a idade real da Glória Maria. O maior mistério da humanidade é o orgasmo feminino.

Não há trabalho científico que explique esta expressão

Estudiosos se debruçam sobre o ápice do tesão da mulher sem chegar a conclusão alguma. Há a teoria de que o clitóris, responsável por levar a mulher ao orgasmo se estimulado, é um subproduto masculino – ou seja, uma herança genética que replica parte do “maquinário” do macho. Mais detalhadamente, as mulheres têm tecidos e nervos que formam o clitóris porque dividem origens embriológicas com homens, cujos orgasmos, numa visão biológica, servem para fins reprodutivos.

Ou seja, clitóris levam mulheres ao orgasmo. E o orgasmo feminino não serve para porra nenhuma. Palavra da ciência.

Assim, o clitóris, de acordo com os cientistas, é tão inútil quanto um mamilo masculino, cuja função biológica é uma só: nos distinguir do Ken, o namorado efeminado da Barbie.

Eis que aparece um outro estudo e nega o anterior. Ele diz que, em gêmeos – ou seja, seres que compartilham a mesma quantidade de material genético –, a função do orgasmo foi geneticamente compartilhada apenas quando os dois indivíduos eram do mesmo sexo. Em gêmeos de sexos opostos isso não aconteceu. Assim, impossível afirmar que o clitóris é um derivado do pau.

Depois desse estudo com gêmeos, um outro refuta a ideia do segundo e apoia a teoria primeira. Nesse ir-e-vir infinito e sem respostas, percebemos como os estudiosos precisam deixar suas pranchetas de lado e foder mais.

Cientistas batem cabeça. Mulheres também

Conhecer o orgasmo feminino não é um fardo apenas para a ciência, mas também é um desafio para as próprias mulheres. Conversei com algumas para saber que raios é isso.

Julia Ropero, aqui do QG, diz:

“Não sei o que é, mas eu já tive. Achei que eu fosse morrer depois do primeiro orgasmo e, quando um acabou, começou outro. E quando outro acabou, começou outro!”

C., amiga minha, diz:

“Ele é. E ponto.”

A., outra amiga minha, diz:

“Acredito que o orgasmo feminino seja uma crescente. O prazer vai se intensificando até que se perde a noção da contração muscular, como se fosse involuntário. E no auge é como se você segurasse tudo, como se perdesse a respiração. E então, apesar de relaxar, você fica num estado de formigamento. Dá uma tremedeirinha.”

Talvez elas não saibam exatamente o que é. Mas sabem que querem tê-lo. Nem que seja para tê-lo sozinhas.

Sexo solo, ou “coisas que toda mulher sabe mas que os homens ignoram”

Jaque Barbosa, do Casal Sem Vergonha, aponta o orgasmo feminino como “uma experiência mais pessoal do que em dupla”. Como o ponto de prazer da mulher é o clítoris, a penetração não é tão relevante para que a mulher chegue ao orgasmo.

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Algumas das meninas com quem conversei também dizem que, sozinhas, têm mais sucesso para chegar ao ápice do prazer. Uma amiga minha, C., afirma que chega ao orgasmo 100% das vezes em que faz “sexo solo”; com homens, esse número cai para 70%. Ela explica o motivo da queda:

— Quando não existe uma intimidade maior, a mulher tem que mostrar alguns detalhes para facilitar a vida dos caras. Cada mulher tem um corpo diferente e deixar o cara às cegas, ali nas tentativas aleatórias, geralmente vira chatice. Mas a frequência vem aumentando, conforme eu venho respeitando minhas vontades no sexo.

C. diz ter três relações sexuais por mês e 20 orgasmos. Mas precisamos convir, contudo, que C. talvez não seja referência.Um estudo gringo realizado em 2009 aponta que entre 10% e 15% das mulheres nunca chegam ao orgasmo. Incompetência masculina? Nem sempre.

— Tem dias que meu corpo não está para isso. O sexo está bom, gostoso, mas eu simplesmente não tenho orgasmo – comenta Ana Victorazzi, aqui do QG. Esses casos em que o corpo se recusa a ter orgasmos não são constantes, mas acontecem em 10% de suas relações sexuais.

Exercício para os machos

O mundo já esperou das mulheres que fossem excelentes donas de casa. Hoje, a expectativa é que elas façam sexo como verdadeiras estrelas do universo pornô. Com isso, os homens desejam ser satisfeitos e se esquecem de que sexo é uma troca.

Aqui eu faço mea culpa. Tenho que aprender a satisfazer mais as mulheres. Creio que a maioria dos homens precisam disso também. Ainda que não entendam o que é um orgasmo feminino.

Talvez o orgasmo não seja algo para ser compreendido. Sua graça seja exatamente manter-se um mistério. Um enigma cuja beleza é não ser desvendado. O que não impede que os homens busquem uma resposta. Eis uma busca deliciosa, uma aprendizagem. E a resposta pode estar na ponta da língua, literalmente. Falta só a gente perceber isso.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.