Às vezes as coisas dão errado. O tempo fecha sobre a nossa cabeça e a gente tem certeza que algum tipo de carma, espiritualidade ou vingança dos céus existe – porque não há outra explicação pra tamanho aguaceiro na cuca.
Há quem saiba lidar com imprevistos, há quem não consiga fazer planos b e é comido pela frustração, há quem é pego de surpresa.
As coisas dão errado e, meu amigo, pode acontecer de elas piorarem. Merda total, sabe? E a vontade é de voltar aos dez anos e estender lençóis pela casa, montar uma cabaninha pra se abrigar sob, e não sair nunca mais.
A ficção pode ser, pra nós, uma cabaninha. Porque ela não precisa ser abstrata, não, pode ser muito é da concreta – ou pelo menos o é a nossa sensação de completo torpor quando uma história é tão boa que nos faz parar de ouvir a nossa mente e as panelas batendo na cozinha.
Se consumimos ficção vorazmente só pra experimentar a sensação de não se ser, melhor ainda quando a tela é capaz de alterar o conteúdo do que sentimos quase como um processo químico. Mais eficiente do que qualquer terapia comportamental pode ser uma cena piegas que nos lembra de pôr pregos na bunda – não é confortável se você ficar sentado no mesmo lugar, mas tudo vai ficar bem se você se mantiver em movimento.
Foi essa a sensação que tive quando, pela manhã, assisti o curta de animação Oh, Willy…, da dupla de cineastas Marc and Emma.
Sem diálogos, o filme fala muito. E está na dose certa de tempo pra que não nos deixemos vencer pela desolação – de repente, o completo estranho e fora dos planos nos abraça com carinho.
Por tudo isso, vale seu tempo.
E também porque as pessoas ficam peladas em situações corriqueiras e eu acho isso o máximo.
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