Ele é bonito, inteligente e misterioso, o kit completo. Dinheiro, prestígio na profissão, bem casado, filhos lindos, desejado por belas mulheres não importa onde passe. Mesmo seus defeitos estão envoltos em algum tipo de glamour, reforçado pela cultura na qual vivemos: é alcoólatra e workaholic.
Don Draper, personagem principal da série Mad Men, é o que muitos homens gostariam de ser.
E, de fato, serve como modelo para muitas pessoas que, sem analisar com atenção, acabam se deixando distrair pelo charme do publicitário boa pinta, esquecendo até mesmo do detalhe de ele ser pura ficção. Pelo menos em parte.
O autor da série, Matthew Weiner, fez em Mad Men um trabalho único de pesquisa e imersão. E, como não é exatamente do tipo que deixa pontas soltas, tornou-se obcecado por uma figura da vida real, em quem se inspirou para construir o anti-herói da série. O nome dessa pessoa que inspirou o Don Draper é George Lois.
Ele, assim como Draper, era um publicitário da Madison Avenue, famoso por suas frases de impacto recheadas de ironia e sacadas inteligentes avançadíssimas pra época.
Se você é fã da série, a Vice fez um mini-documentário que vale ver. Caso seja um fã de publicidade, com certeza vai se divertir muito com a história.
Mas, como em todo drama, a história de Lois está imersa em contradições bem reais.
George Lois carrega similaridades mesmo nos aspectos menos agradáveis. Sua vida foi repleta de sucesso mas também de polêmica. Muitas das principais obras das quais se orgulha são alvos de controvérsia quanto à sua autoria. Algumas pessoas se ressentem muito de terem sido atropeladas pela sua voracidade egóica. Ainda que ele seja reconhecido como uma figura importante, a sombra da dúvida a respeito de seu legado paira sobre sua fama.
Don Draper vive uma grande farsa e o eterno conflito por ter roubado a
identidade de outro homem. Toda a busca por sucesso, afeto, estímulo,
energia e dinheiro, parece ser uma constante tentativa de contornar essa
falta inegável. Não há nada de verdadeiro nele.
O comportamento dos dois pode ser facilmente comparado ao de uma criança mimada. Luta para conseguir o que quer e, se não consegue, chora até ter seu desejo atendido. Um exemplo: há quem diga que Lois já chegou a agredir e ameaçar clientes e parceiros que não concordassem com suas ideias.
Em uma série, com a devida edição, correção de cores e direção de arte, pode ser que esse comportamento pareça interessante e um de nós até sonhe intimamente em ser bem sucedido nos mesmos desejos infantis.
Mas, na vida real, quanto mais cegos por sucesso e mais energia depositamos na tentativa de afirmar uma identidade, mais chances temos de terminar derrotados, lamentando pelas conexões perdidas com as pessoas que nos apoiaram pelo caminho.
Nós, que não podemos contar com todos os recursos narrativos que romanceam as histórias da televisão, sabemos que, ao final da noite, quando fecham as portas e as luzes se apagam, ainda temos que dormir com as consequências dos nossos atos.
Para ver mais da série de mini-documentários da Vice
Há outros personagens que a Vice também andou dissecando para ver se tinham referências históricas. Vale bastante ver mais vídeos da lista:
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