E enquanto os americanos analisam a vida pessoal das irmãs Kardashian, os ingleses descobrem a Susan Boyle e nós discutimos em bares se o Big Brother é relevante pra alguma coisa além de revelar futuras capas de revista masculina, os chineses resolveram dar aquele passo adiante e levar o conceito de reality show para o próximo nível. E esse nível envolve pessoas no corredor da morte, claro.

O programa, chamado “Entrevistas antes da execução”, consiste em depoimentos que condenados à morte dão diante de uma simpática repórter – várias vezes também com a presença da família da vítima – em que confessam seus crimes, pedem perdão e tentam justificar seus erros para logo depois serem retirados da sala e levados para execução. Sim, execução, já que é um reality show e não temos finais felizes.

O objetivo? Informar e educar o público, segundo o governo, exibindo casos que possam servir de exemplo para a população, além de, nas palavras da entrevistadora Ding Yu, permitir que os condenados tenham uma última oportunidade de se expressar antes de… bem… antes de não poderem se expressar mais. Apesar do ocidente só ter ficado sabendo disso agora, por conta de um documentário da BBC, o programa entrou no ar em 2006 e desde então entrevistou um condenado por semana – o que também nós dá uma certa ideia de quantas pessoas foram executadas na China nesses últimos anos.

Uma dica: foram muitas.

5% Bial, 95% Datena

Mas mais do que um sintoma aterrorizante da escalada dos reality shows, o que mais a existência de um programa como esse diz sobre a era em que vivemos? Será que existe mesmo algo de educacional em ouvir as últimas palavras de um condenado? Ou será que estamos, em nossa modernidade, retornando aos costumes mais bárbaros, e a tTV se tornou a versão contemporânea da praça medieval onde toda a cidade se reunia para ver um enforcamento?

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Talvez estejamos nos aproximando muito perigosamente de um futuro bem menos Robert Zemeckis do que gostaríamos e muito mais George Orwell do que qualquer um de nós poderia imaginar. E que talvez a gente tenha que pensar duas vezes antes de reclamar de novo que A Fazenda é a pior coisa que poderia acontecer com a televisão brasileira.

João Baldi Jr.

João Baldi Jr. é jornalista, roteirista iniciante e o cara que separa as brigas da turma do deixa disso. Gosta de pão de queijo, futebol, comédia romântica. Não gosta de falsidade, gente que fica parada na porta do metrô, quando molha a barra da calça na poça d'água. Escreve no (<a>www.justwrapped.me/</a>) e discute diariamente os grandes temas - pagode