Essa época do ano é muito da ingrata. “Tô abismada com a minha inteligência de não trazer óculos escuros”, disse alguém atrás de mim. “Cacete, justo hoje eu vim com a minha calça mais quente” resmungou alguém pra outro conhecido. Aliás, todos basicamente se conheciam — algo que percebi assim que cheguei ao Jóquei Clube de São Paulo, onde vai acontecer, nesse final de semana, o Lollapalooza 2013. 

Os palcos já estão montados

Aquele sol de rachar que teimou e saiu só depois do almoço e que fez o vento gelado ficar sem graça e sumir. Era só aquele ardor que vinha de cima pra baixo. Cheguei quieto e queria observar o andamento da estrutura absurdamente grande que ocupava todo o Jóquei (que possui, aproximadamente, o tamanho de 5 campos do estádio do Morumbi).

De um palco principal a outro (chamados de “Palco Butantã” e “Palco Cidade Jardim”) são 2,5 km de distância, com grama e alguns lugares propícios a lama, caso chova no dia ou data próxima ao evento. Mas a cara é boa. Se no ano passado, filas e problemas com transporte (ida e volta) foram as principais reclamações, nesse ano foi diminuído o número de pessoas — só 60 mil por dia, e nada mais — e banheiros e pontos de compra de tickets e comida foram aumentados. Espera-se uma melhor fluidez nesse processo. Já a ida e volta pra casa podem ainda ser um perrengue, já que eles conseguiram segurar o metrô por apenas 15 minutos além do horário comum de fechamento, além de obras na região da Cidade Jardim que podem atrapalhar um pouco. Mas nada que se possa culpar os responsáveis pelo evento.

E tudo é grande e tudo é bonito. Os palcos são enormes e, ao passa por eles num carrinho daqueles de golfe, nota-se a grandiosidade do Lollapalooza (eu estava lá no ano passado, mas a quantidade de pessoas desvirtua um pouco essa percepção de ser algo bem bem grande).  Levanta–se a cabeça, ergue mais um pouco os olhos, a claridade do sol aumenta… aí. Nota-se o final da altura dos palcos principais.

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Grande também serão os outros palcos. O palco “alternativo”, que fica bem no meio, pode ter outro nome já que vai abraçar artistas de já bem conhecidos como o Hot Chip. O espaço Kidzapalooza também vai ter mais destaque para a molecada, lugar onde vai rolar uma oficina de bateria com o ex-Sepultura Iggor Cavalera.

O grande lance do Lollapalooza, que a organização vê como cerne profunda do festival, é a interação com música e artes em geral durante todo o dia. Não se trata de esperar algumas horas pra ver uma banda, mas sim circular por todo o espaço oferecido e aproveitar tudo, desde o fim da manhã até o oi da madrugada. Têm artista pedindo botes para a hora das apresentações, para poderem mergulhar no mar de gente, se olharmos para o festival original de Chicago, facilmente se vê imagens de grandes bolas de praia circulando de mão em mão, amigos sentados na toalha do gramado, conversando sem pressa, sem aquela escala de necessidade de ver os shows principais.

Em meio as estruturas metálicas ainda deitadas, surge uma roda gigante.

Claro que é praticamente obrigatório ver Pearl Jam, Black Keys, Queens of the Stone Age, a volta do Planet Hemp, mas cacete, do que eu vi lá no jóquei, do que o sol ardido me deixou ver, tem muito mais coisa pra se aproveitar.

E que venha mais um Lollapalooza e, já que o cenário de grandes shows e festivais parecem estar minguando aqui no Brasil  que esse seja bom e, mais, que seja entendido pela galera.

Quem comprou ingresso para quaisquer dos dias, por favor, aproveitem. Tudo.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados