Apesar de estarmos em 2019 e o acesso à informação ser muito mais fácil do que jamais foi, há diversos territórios que parecem ser terreno fértil para a confusão, vergonha e para a proliferação de ideias que podem se transformar em preconceitos bastante violentos.
A sexualidade, como parte importantíssima da vida, é um deles.
Quando isso se mistura à formação do que cada um compreende como quem é, essa conversa torna-se muito mais sensível, difícil de ser levada adiante.
Então, conceitos que poderiam ser bem mais difundidos, acabam se perdendo ou sendo envoltos em uma cortina de fumaça que deixa as pessoas ainda mais exaltadas ao levantar esses temas.
O Lam Matos é homem trans, militante, educador do [SSEX BBOX] e coordenador nacional do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades – IBRAT.
Ele falou pra nós por ocasião da entrevista para o nosso documentário feito em parceria com Natura e Reserva, "O silêncio dos homens", que você pode assistir no Youtube.
Aqui, ele deu uma explicação bastante simples e direta sobre o que é transsexualidade e identidade de gênero. Se você ainda não está familiarizado com o termo, vale bastante o play.
O que é transexualidade e identidade de gênero? (por Lam Matos)
“A gente tem essa transexualidade quando você cruza então, nasceu com vagina, se entende como homem, homem trans, nasceu com pênis, se entende como mulher, mulher trans ou travesti.
Quando você tem esse gênero, homem e mulher, masculino e feminino, alinhado numa linha reta aqui com o seu gênero, você tem uma pessoa cisgênera. Então você tem uma pessoa que nasceu com vagina, se entende, se percebe como uma mulher, você tem uma mulher cisgênera.
E quando você tem uma pessoa que nasceu com pênis, se entende como homem, vive como homem, enfim, tudo dentro desse espectro masculino, você tem um homem cisgênero.
Por que que a gente nomeia?
Primeiro porque o que não é dito, não é falado, não é lembrado e a gente nomeia pra quebrar uma ideia, uma suposta ideia de normalidade que a gente tem no mundo, com mais de sete bilhões de pessoas de que existe algo normal. Porque senão nós teríamos as pessoas trans e as pessoas normais, então as pessoas trans não seriam normais, só pra gente quebrar essa ideia.
O que seria normal num mundo com mais de sete bilhões de pessoas?
Nada é normal porque cada um, são sete bilhões, bilhões, de possibilidades de existência e de vida na terra.
Pra não ter essa ideia de normalidade, a gente tem as pessoas transsexuais e as pessoas cisgêneras.
Mas aí o que acontece é, a cisgeneridade, as pessoas cisgêneras não são questionadas desse identidade cisgênera delas, quando as pessoas trans são.
Foi uma… a mudança de comportamento, a mudança de olhares quando eu saio dessa vivência feminina, dessa socialização feminina e passo pro outro lado, digamos assim, pra essa socialização, essa vivência masculina, muita coisa muda. Porque eu deixo de ser cobrado de algumas coisas enquanto mulher e passo a ser cobrado muito mais vigorosamente, inclusive, quando eu tenho essa posição masculina. Eu acho que a transmasculinidade é a vivência, é a identidade, é o ser, é o estar da pessoa que se auto declara ser transmasculina.
Ser um homem trans, ser um transmasculino não binário, enfim, ou a identidade, ele que vai nomear, ele que vai viver, ele é que vai se definir.”
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