Não, não são tatuagens, cabelos compridos ou atitude rebelde – até pode ser, mas não é essa a questão. É uma vaga de emprego.
Calma, machos de plantão. Tampouco essa é a oportunidade de vocês virarem rockstar, então podem guardar de volta seus uniformes old school no baú do guerreiro.
O negócio é que esse papo de que “gosto não se discute, se lamenta” já é a mais pura realidade para algumas empresas. Pois é! Alguns empresários consideram o gosto musical critério para contratação. E se a moda pegar, pelo menos por hora, só vai privilegiar quem curte o bom e velho rock’n roll.
História e música dos diabos
O assunto todo começou na semana retrasada, quando um blog contou a jornada de um jovem contratado após ter seu iPod examinado e, para sorte do jovem, o gerente que o entrevistava tem uma teoria no mínimo curiosa sobre roqueiros. Para ele, pessoas que curtem a maior obra-prima dos anos 50 são mais antenadas, criativas e respondem melhor aos trabalhos.
A playlist do rapaz era praticamente uma retrospectiva da história do rock, passando pelos mais diferentes períodos e estilos, indo desde AC/DC até Miles Davis. O livro sobre a vida de Eric Clapton em mãos também contou pontos a favor.
E isso não é preconceito (ao menos na hora de contratar) quanto ao gosto musical. Como dito anteriormente, pode ser lamentado sim, tanto que o gerente fez uma revelação assustadora: disse não suportar rock – gosto sendo lamentado em 3, 2,1…
Apesar disso, ele garante nunca ter se arrependido de chamar para suas equipes jovens Bon Jovis, Axel Roses, Elvis Presleys e Tina Turners. O contratante enfatizou mais de uma vez ainda que pessoas que escutam rock são diferenciadas, não que para todas as pessoas no Brasil isso seja algo positivo, afinal.
Não há, hoje, nenhum estudo que mostre por A+B que isso é tendência mundial. O executivo disse apenas ter a impressão de que cada vez mais detectar essas questões culturais e valores pessoais serão decisivos na hora da contratação.
Faz todo sentido. Não estamos mais dentro do filme Tempos Modernos.
Ok, tem estudo pra tudo no mundo, até pra gosto musical.
Nota da autora: As informações a seguir podem ser chocantes, revoltantes, engraças e óbvias, portanto, só prossiga a leitura se tiver culhões para isso!
Vamos começar pelo estudo com 2,5 mil pessoas da Universidade de Leicester sobre o perfil dos fãs de diferentes estilos musicais na Grã-Bretanha.
Um dos resultados indica que 1 a cada 4 pessoas que curtem música clássica já fumaram maconha, mas os maiores usuários de drogas vem da música eletrônica e do hip hop. Espere que tem mais! A pesquisa revelou ainda que fãs de blues são os que mais recebem multas de trânsito e os fãs de musicais prestam mais trabalho voluntário.
Agora falando sério, como funciona estudo de consumo de drogas na Grã-Bretanha? E pelo estudo, tudo indica que ou você é drogado ou afeminado.
Outra Universidade, mas agora no Reino Unido, a de Cambridge, fez um estudo mostrando que ter gosto musical pode estereotipar as pessoas, ou seja, você diz que escuta música clássica e, segundo a pesquisa, será taxado de quieto, mas amigável responsável e inteligente, porém pouco atraente e tedioso.
Na contramão do gerente, que nesse estudo é feio e chato, os roqueiros são emocionalmente instáveis, rebeldes e irresponsáveis e os imaginativos, liberais, amigáveis e extrovertidos seriam os fãs de jazz.
Mas enfim, o que isso muda na nossa vida?
Se você gosta de rock, bom para você. Se você não gosta, ao menos informe-se sobre o assunto, pois, por mais que os RHs não se importem com isso, será bom para você como pessoa. Primeiro porque rock é bom, é um jeito de viver e pensar. Depois porque cultura geral nunca é demais e a história do rock é também história política, de revoluções culturais, de moda, de linguagem, de atitude e também de como mostrar peitos em público pode ser normal.
Ou ainda, quer dizer que você pode ganhar um emprego na versão do gerente ou perder amigos já que você é um problemático na versão dos estudos.
“Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual, eu do meu lado, aprendendo a ser louco, um maluco total, na loucura real”. (Raul Seixas – Maluco Beleza)
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.