Cheguei aqui depois de um encontro do lugar, onde reencontrei o Gustavo Gitti e conheci o Fábio Rodrigues. Eu e o Fábio nos identificamos por sermos desenhistas e no dia seguinte ele foi me visitar para ver meus trabalhos. Depois da visita, entre um assunto e outro, ele sugeriu que eu fizesse ilustrações para o PapodeHomem e também para o lugar. Curti a ideia: pensamos que poderiam ser ilustrações para textos, alguma história em quadrinhos ou tiras, como de fato está rolando…
Pouco tempo depois comecei a ler o livro Mente zen, mente de principiante, do grande Shunryu Suzuki (1905-1971). Suzuki expõe no livro, em um discurso bastante direto, uma visão de mundo que pode ser aplicada em diversas áreas da vida. Um dos ensinamentos centrais do livro é:
“Nossa “mente original” inclui em si todas as coisas. Ela é sempre rica e auto-suficiente. Você não deve perder esse estado mental auto-suficiente. Isto não significa uma mente fechada e sim, na verdade, uma mente vazia e alerta. Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito.”
Percebo um paralelo entre a visão zen e a prática artística e é algo que estou buscando incorporar no cotidiano e no meu trabalho. No budismo, “mente original” ou “natureza búdica” é o que se pretende acessar com a meditação. Como diz o David Lynch, diretor de cinema e praticante de meditação transcedental, no livro Em águas profundas, esta é a mesma fonte da criatividade e um dos caminhos para ter ideias e produzir arte, é acessando esta área de inteligência não condicionada.
Não tinha planejado adaptar textos desse livro. Mente zen, mente de principiante é altamente “ilustrável” porque os mestres zen geralmente contam muitas histórias e usam muitas imagens. O texto também tem um ritmo legal, que se encaixa numa narrativa. Durante a leitura, a tira surgiu naturalmente. Fiz as tiras num sketchbook, depois resolvi assumir a estética de caderno de rascunho e mantive da forma que saiu porque, pra mim, tem a ver com o conteúdo, como algo que está em processo, sempre um pouco inacabado, imperfeito, mudando.
O pessoal aqui do PdH gostou da ideia e estamos seguindo assim. Espero que vocês estejam gostando tanto quanto eu estou curtindo fazer.
Mais sobre arte além do entretenimento
Duas citações que a galera do lugar publicou no Facebook (facebook.com/olugar.org):
“Não importa qual trabalho você faz como artista, o mais importante é a partir de qual estado mental você faz o que faz.” —Marina Abramović
“Nós usualmente avaliamos o processo criativo em termos de quanto sentimento ou pensamento houve por trás do trabalho ou no quão bem executado foi o trabalho. Não há nenhum outro modo de apreciar o processo? E se o padrão de excelência fosse o quão plenamente presente estava o artista durante o processo?” —Kazuaki Tanahashi
E dois textos bem relacionados:
- “O método do Sr. Miyagi”, de Gustavo Gitti, sobre como nossa operação mental é o que define o poder de qualquer ato cotidiano.
- “Arte pela arte serve pra alguma coisa?”, de Fábio Rodrigues, sobre como a arte pode ser usada como veículo de transformação.
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