Eu já ouvi isso mais de uma vez. Geralmente acontece quando alguém vê algo que não lhe agrada nem um pouco. Ao se deparar com um item aborrecedor, a pessoa torce o nariz e diz: “se lá no futuro, uma escavação descobrir isso, o que vão achar da nossa civilização?”.
Pois bem. Se um dia, alguma pesquisa futurística encontrar os desenhos do francês Dran, vai fazer um péssimo juízo da gente.
Mas, nesse caso mais complexo, eles provavelmente adorariam os desenhos, em detrimento ao que eles evidenciam: uma sociedade violenta, consumista e esgotista de recursos e relações, como se o nosso tempo fosse uma bocarra a sugar tudo com máxima intensidade até restar apenas os ossos. Mentira. Se der, sugamos também o tutano e aí não nos resta nada.
O chamam de “Banksy francês”, em alusão ao artista de rua inglês que — também — incomoda muita gente.
Mas, enquanto o Banksy acossa com impacto e surpresa, o Bran nos pega de pouquinho, mostrando desenhos aparentemente fotos e bem humorados. Passados os segundos iniciais, aí sim a coisa toda vai ganhando peso, servindo de asco. Quando percebemos, já fomos sugados pelas obras e estamos tomados de sentimentos de repulsa ou culpa e até mesmo fraqueza, inutilidade.
E isso é bom. Muito benéfico olhar para dentro e se perceber nesse universo retratado que não é uma cópia fiel do nosso mundo, afinal, o que não nos falta também são coisas boas, mas que tem coisa errada para dar e vender.
Assumir e reaprender a olhar é o primeiro passo.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.