Desde criança sou fanática por Barbies e sempre tive o privilégio de ganhar muitas. Eu tinha a Barbie negra (importada, que vinha com um cachorrinho de borracha), tinha também o Corvette rosa, o cavalo branco, o quarto da Barbie, a casa da Barbie e todos os móveis da boneca. Tinha todas as roupas, todos os sapatos diversos e as vidas das minhas Barbies eram bem agitadas. Só tinham um ponto negativo: o Ken.
Eu não gostava do Ken. Incomodava-me o fato dele ter cabelo de plástico e ter poucas versões com cabelos e olhos escuros. Também o achava extremamente afeminado, que nenhum deles combinavam com as minhas Barbies. Elas eram mulheres que trabalhavam em bons empregos, eram independentes, lindas, seguras e fashion.
Para mim, o Ken tinha uma imagem delicada demais. Mas como eu não tinha outra opção de namorado para a Barbie, tinha que ser ele mesmo. Até o dia em que fui na casa dos meus primos e vi dois bonecos G.I.Joe, os nossos Comandos em Ação, que tinham quase o tamanho de uma régua de trinta centímetros: Duke e Stalker. Esses sim tinham cara de que poderiam cuidar das coisas.
Duke é o “all american boy”, loiro, forte, alto e bonitão, com uma cicatriz no rosto para dar aquele charme. Ele parecia ser o cara ideal para namorar as minhas Barbies de vinte e poucos anos. Stalker é o negro fortão, com cara de bravo e ousado, mais velho que era o marido ideal para as Barbies que na minha cabeça tinham passado dos trinta anos.
Como os bonecos não eram meus, sempre dava um jeito de levar minhas Barbies quando ia na casa dos meus primos (que não gostavam nem um pouco quando viam os bonecos machões agarrados com Barbies peruas). Esqueci a existência do Ken. Ele virou um consolo para a Barbie, quando não tinha um G.I. Joe por perto.
Conforme fui ficando mais velha, percebi que esse estilo de homem mais machão, com vaidade quase zero e que transmitia segurança e poder, sem ter cara de mocinho bobo, era também o tipo de homem que me atraia. Nunca fui muito convencional em relação a homens. Sempre gostei dos homens com cara de bravo, que jogam os vilões de penhascos antes de dar um beijo na mocinha. Mas se caso a mocinha fosse sem graça, eu torcia para que o herói desse um fora sensacional nela.
Esses homens geralmente me atraem e me fascinam ao ponto de eu ficar fã do ator só por ter feito aquele personagem. Meus ídolos são G.I. Joes de carne e osso. Lembro bem de quando descobri a existência de três deles: Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren e Vin Diesel. Considero os dois primeiros péssimos atores, mas não consigo evitar assistir a um filme deles quando passa na televisão. Se eles forem os vilões então, esqueço-me do mundo durante o tempo do filme.
Link YouTube | O Vin Diesel protege o amigo, defende a Barbie e livra até a cara do próprio Ken, que não consegue nem se denfender
O Van Damme, em O Último Dragão Branco, é o mais influente personagem para a minha concepção de homem ideal, não fisicamente, mas pela coragem de entrar em um torneio de lutas clandestinas para honrar o seu mentor. Já o Dolph Lundgren é um cara que divide opiniões, principalmente as femininas: ele pode ser feio ou bonito, dependendo do ângulo que é visto. Alguns acham ele um astro de ação e, para outros, é só mais um fracasso que atua em filmes B. O que mais me atrai é que ele foge de estereótipos. É um cara versátil, que dirige, atua, escreve roteiros (ruins, mas pelo menos tenta), que dizem ter um Q.I. alto, campeão de karatê e que fala várias línguas. E nunca usa maquiagem em seus filmes.
O terceiro ator, o Vin Diesel, é o que consolidou o meu gosto por homens másculos e anti-heróis. Eu fiquei doida por aquele careca quando vi o Velozes e Furiosos. Quando o filme estreou, a expectativa era que lançasse ao estrelato o loiro sem graça Paul Walker. Muitas adolescentes da minha idade ficaram morrendo de amores por ele, que tinha um rostinho perfeito, cabelos claros e olhos azuis. Mulheres com mais de vinte e poucos anos sabem a sensação que a dupla Diesel-Walker causou há alguns anos: as certinhas queriam um Paul Walker e as mais doidinhas, o Vin Diesel.
Anos fugindo dos “coxinhas”
Passei os últimos dez anos da minha vida fugindo dos homens que possuem o “estilo do Ken”. O garoto bonitinho e popular do colégio não tinha jeito comigo, não me atraía em nada. Mas se o cara que jogava rugby no time da escola viesse falar comigo com a cara toda arrebentada, minhas pernas ficavam bambas.
Esse tipo de cara geralmente era tão seguro e autoconfiante que nem se importava em estar todo machucado ao chegar em uma garota, assim como os personagens de filmes de ação sempre fizeram: beijavam apaixonadamente as mocinhas nos momentos em que estavam mais arrebentados. Não interessava a beleza estética, mas sim as ações de macho que os deixavam muito mais bonitos que qualquer coxinha de suéter nas costas.
Alguns homens devia deixar os cuidados com a pele e mirar naqueles brucutus : O Dutch, John Rambo, Marv, John McCLane. Nem tanto pelo físico, apesar de ser, claro, parte integrante do tesão. Mas o que eu quero dizer mesmo é sobre o espírito de macho e fortão, mas trazidos pra vida real.
Um homem confiante, que resolve problemas, que faz o que tem que ser feito. Assim como os G.I. Joes faziam com as minhas Barbies, sempre lindas, inteligentes e precisadas de um homem que esteja ali para resolver as coisas, enquanto os Kens ficavam de canto, admirando os cabelos uns dos outros, com sorrisos extremamente brancos e uma completa incapacidade de sujar as mãos, de carregar peso, de cuidar das minhas bonecas como elas deveriam ser cuidadas.
Homens feios e durões levam um estigma de determinados e com personalidade forte enquanto os “Kens” de verdade passam a vida emanando uma preguiça de conversar, um cansaço de olhar aquela aparente perfeição toda. Minhas Barbies sempre souberam que oKen tem toda aquela pinta de galã mas, na verdade, nem pinto ele tinha.
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