O universo da paquera é um balaio de artifícios por muitas vezes desleais. Lembro que quando eu era um adolescente, as meninas suspiravam pelos caras mais velhos da escola.
Eles sabiam dirigir, usavam barba e bebiam cerveja, enquanto eu – ainda longe desses hábitos – era como uma criança aos olhos das garotas que eu gostava, assim, a grama nunca foi tão verde do meu lado da cerca.
O jeito foi aprender algo diferente que me transformasse completamente de um guri magrelo e CDF, num sujeito interessante e cobiçado por elas. A minha idéia brilhante foi aprender a tocar guitarra.
O objetivo era atingir o ponto fraco das garotas, sensibilizá-las e (por que não?) mostrar como eu era mais evoluído intelectualmente que os grandalhões do 1º ano. Fazer aquelas meninas de aparelhos nos dentes perceberem através de meia dúzia de baladas românticas o quanto eu era melhor que aqueles caras escrotos que só queria come-las.
Eu estava tentando dizer: “Aqueles idiotas nunca vão conseguir fazer o que eu faço, bonecas…” e rezava para que funcionasse.
Essa prática de tocar músicas bonitas para atrair atenção tinha seus prós e contras. A parte positiva era ver que quando eu tocava Aerosmith, Bon Jovi e outros lugares-comuns, as meninas ficavam todas histéricas – nada que se pudesse dizer: “Oh, meu Deus! Quanta histeria!” – e diziam que eram as músicas mais linda do mundo e que eu tocava muito bem. Puxavam o meu saco e eu acreditava.
O problema acontecia quando eu estava lá tentando consolidar minha imagem de “cara que daria uma ótima ficada”, e as meninas apareciam com seus namorados para apreciar meu talento. Outro detalhe: elas adoravam ouvir Tears in Heaven mas não queriam saber de Welcome to The Jungle – algo que eu ouvia muito naquela época.
Isso poderia ser piorado caso surgisse do nada, outro cidadão com as mesmas intenções que as minhas, porém com mais habilidade. Nessas horas, o que eu fazia era fechar as expressões do meu rosto e demonstrar com todos os sinais que aquilo era um absurdo, um roubo, e esperar que as pobres coitadas se libertassem daquela sessão de hipnose barata.
Para encerrar, digo a você que os momentos bons superam, de longe, as horas ruins. Não que eu tivesse comido a escola toda por causa das baladas lugar-comum mas se você tiver um pouco(?) mais de feeling do que eu tive na hora de se exibir com um violão ou uma guitarra, verá que as mulheres realmente são sensíveis a este gesto romântico.
E digo mais: em alguns casos uma música tocada na hora certa pode funcionar melhor que carros, dinheiro e (por que não?) beleza*. Se ela gostar de reggae talvez você nem precise tomar banho!
*Mulher diz que alguns homens são atraentes por que têm charme. Eu ainda não acredito nisso.
Diego Matias é autor convidado da Papo de Homem e criador do blog rock´n´roll Riffs e Solos. Recomendo demais que visitem, tem trechos e explicações de cada riff mencionado.
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