Escrevo sobre minimalismo e desapego. Coloquei silicone nos peitos. Uma coisa tem a ver com a outra?
Quando decidi colocar silicone, pensei muito sobre a minha vontade repentina – nunca tinha pensado em fazer e, pelo contrário, sempre tinha sido meio avessa – e meus motivos. Assim como tatuagem, é algo definitivo e merece toda reflexão do mundo.
Mais ou menos na mesma época em que comecei a pensar em fazer a cirurgia, logo depois de abandonar uma carreira de 15 anos como advogada, comecei a escrever um blog sobre todas as mudanças que vinha fazendo na minha vida, com foco em desapego, auto-estima, minha relação com meu corpo, etc.
Quando escrevi sobre a cirurgia no blog, fiquei só esperando a pergunta aparecer. E eis que finalmente apareceu, enviada por uma leitora:
(…) colocar silicone não vai de encontro a todas essas idéias? Desapegar-se de bens materiais não inclui um livrar-se também de vaidades? Olha, não estou fazendo uma crítica, só queria mesmo entender. Compreendo perfeitamente o querer se cuidar, se alimentar bem, praticar esporte, porque só contribuem para nosso bem estar e saúde. Mas colocar peitos não seria algo supérfluo?
Olha. Primeiro, acho que a gente tem que rever o conceito de minimalismo. Minimalismo não significa não ter nada, ou ter pouca coisa, ou ter 33 peças de roupa ou cem itens ao todo. Minimalismo significa ter somente o necessário. E o necessário é um conceito bem subjetivo. O que é necessário pra mim pode não ser pra você e vice-versa.
Meu amigo Mister Minimalista e escritor Alex Castro tem dois pares de sapato. Eu, quando fiz uma contagem recente, descobri – estupefata – que tinha 31. Claro que não preciso de 31 pares e já comecei o desapego, mas tenho certeza mais que absoluta de que nunca nunquinha chegarei aos dois pares do Alex. Porque eu sou mulher, porque eu preciso de um pouco mais que isso pra me sentir bem vestida/calçada, porque eu gosto, me faz bem.
Cada um tem que encontrar o seu próprio equilíbrio, se entender, identificar suas necessidades – e seus supérfluos. Basta parar e se perguntar se realmente precisa ter aquilo.
A leitora me perguntou se colocar peitos não seria supérfluo. Mas e o que é supérfluo? De acordo com o dicionário, é aquilo que é desnecessário, dispensável, inútil. Então, se você me perguntar, é necessário, indispensável e útil ter peitos diferentes dos originais de fábrica, eu tenho que responder que não, claro. Os peitos são supérfluos, portanto.
(ponto pra minha leitora!)
Por que, então, no meio de todo esse movimento de transição, eu resolvi fazer uma cirurgia que nunca tinha me cativado?
(musiquinha de flashback e fumaça no ambiente, por favor)
No dia 31 de dezembro do ano passado, eu fui até a minha janela e gritei bem alto:
“MORRA 2011!!!”
Como você pode intuir, não tinha sido o melhor ano da minha vida. Mas, na virada do ano, ao mesmo tempo em que fiz o Reginaldo Faria no final de Vale Tudo e dei uma banana pra 2011, me dei conta do quão forte e corajosa eu tinha sido pra conseguir passar por tudo aquilo e estar ali, inteira e pronta pra próxima.
Por mais ridículo que possa soar – e eu sou a última das pessoas a me incomodar com soar ridícula – a verdade é que eu comecei 2012 me sentindo “uma mulher de peito”. Um monte de gente que me conhece só por foto acha que eu sou grandona, mas a verdade é que eu sou só uma oompa loompa, gente. Pouco mais de 1,60m de pele, osso e baconzitos. Eu nunca tinha me incomodado com isso até 2012. Sempre tinha me escondido um pouco, me encolhido um pouco, ficado confortavelmente invisível pro mundo.
Mas, de repente, eu tinha resolvido “peitar” o mundo (tá, tudo bem, prometo parar com os trocadilhos) e comecei a sentir que tinha alguma coisa faltando, fisicamente. Guardadas as devidas proporções, acho que fiquei me sentindo meio que como um transexual: o exterior não correspondia mais ao interior. Eu queria mudar por fora também.
Os peitos podem até ser supérfluos, numa avaliação literal. Mas estou feliz com eles, e não acho que contam como uma “coisa”, já que são uma parte do corpo. Não me sinto menos minimalista por causa deles e, aliás, nunca me propus modelo de minimalista pra ninguém.
Estou no meio de um período de transição e ainda tenho muito que aprender.
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