A hora de escolher um apê é uma das mais importantes da vida, né? Seja ele alugado ou comprado, temos um carinho especial na escolha, e claro, uma intuição daquelas quando entra no dito cujo, sentimos aquela sensação do “É ESSE, CARA!”.

Pois é, muita gente hoje sente isso, e depois acaba se decepcionando com algumas condições de pagamento, financiamentos abusivos, e percebendo que além de tudo isso, às vezes um apartamento novo ainda precisa de reforma.

Muitos apartamentos zerados são a maior caca já feita na face da terra. Não é por que é novo que isso é garantia de ter algo de qualidade.

Quartos do tamanho de um banheiro, banheiros do tamanho de geladeiras, essa é a realidade do século XXI, amigos. E é por aí que eu começo a destrinchar algumas coisas importantes na hora de você escolher o lar, seu espaço.

Por favor, leia com atenção para não acabar escolhendo um apê de hobbit.

O que é um microapartamento?

Bom, vamos lá.

Microapartamentos são aqueles minúsculos espaços que você necessita de um bruxo treinado nas mais profundas artes da wicca para conseguir encaixar a mobília, eletrodomésticos, armários, cama, TV etc. Normalmente esse bruxo é conhecido como “Arquiteto” ou “Designer de Interiores”.

Brincadeiras à parte, um microapartamento é aquele que chega no máximo a 30 m². Às vezes, os construtores chamam os mesmos de “sala living”, expressão bonita que não serve para nada, o apartamento vai continuar minúsculo.

Temos aqui em cima um ótimo exemplo, isso é praticamente um quarto de hotel. Nessa configuração, nada daria certo.

Existem configurações muito interessantes, como tentar deixar os ambientes divididos por armários que fazem o trabalho de prateleiras, biombos, ou mesmo aquelas portas de correr bem grandes que deixam o ambiente muito elegante.

Esse tipo de armário que está na planta é feito com tijolos, e no espaço entre eles, instalada uma porta. Um modo mais interessante seria retirar tudo e deixar aquele espaço reservado para a sala, e logo ao lado da cama alocar um armário embutido, levando a cama mais para a direita e deixando a porta do banheiro abrindo para dentro.

Existem infinitas formas interessantes de separar os espaços para deixar um apê desse tamanho mais confortável.

A pergunta é: “é possível, no longo prazo, viver em um apartamento desses?”

Claro que é, muita gente vive assim e até bem.

Mas o que seria desses apartamentos se todos nós pudéssemos ter um bem mais confortável?

Para quem aluga não há alternativa a não ser encaixar no preço que o bolso pode pagar, mas quando chegamos na esfera do “comprar” suponhamos que exista um valor grande em questão, é aí que o negócio pega.

Eu chego nessa parte para ajudar mais as pessoas que estão com vontade de comprar e encontram dificuldades na escolha.

Ok, mas do que eu tenho que fugir?

Se você pretende comprar um apartamento de verdade, tem possibilidade de dar entrada e financiar, tente optar por um apartamento mais antigo.

Todos os empreendimentos novos possuem uma pá de coisas que eu garanto que você irá usar somente 10% do tempo que viver lá.

Dentre essas coisas temos:

  • Piscinas (uns 12 tipos, cada uma com uma profundidade diferente e blablabla);
  • Academia (provavelmente com aparelhos péssimos); 
  • Cinema (cinema? Pra que cinema?); 
  • Quadra de esportes (uso raríssimo, isso só quando você consegue juntar uns 12 amigos pra fazer time, e isso só acontece 2 vezes por ano);
  • Espaço gourmet e churrasqueira (normalmente usado também umas 3 vezes ao ano, em aniversários etc, coisa que você pode fazer fora dali); 
  • Quadra de biribol (eu juro por tudo que é mais sagrado que eu já vi).
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Isso tudo e mais um monte de coisa que é só para atrair compradores a pagar 6 a 10 mil o metro quadrado em um apartamento mal projetado.

Então, vem a mensagem: fuja desses empreendimentos até ter o suficiente para se dar ao luxo de pagar caro, mas aí você pagará mais caro ainda, pois terá um apê novo e maior, mais confortável, e que garanta pelo menos 10 anos de paz para seu dedo mindinho, que vai parar de bater nas quinas.

Legal, cara, e daí? O que eu faço então?

Sabe aquela frase “panela velha é que faz comida boa”?

Leve ela com carinho no coração enquanto pensa nos apês mais antigos. Garanto como profissional da área algumas coisas, veja bem:

1. Quando você compra um apartamento novo, poucos se salvam de uma reforma. Normalmente o projeto é fraco e você acaba sempre por gastar para adequar o espaço.

2. Você vai pagar mais caro em um apartamento novo do que em um usado do mesmo tamanho.

3. O valor que você gastaria comprando um apartamento novo, mais a reforma, você reverte, e assim compra um apartamento usado bem maior e consegue renovar todo, trocando elétrica, hidráulica, pisos, paredes e tudo mais.

4. Garanto que em um empreendimento desses que tem até biribol, sua privacidade será afetada. A partir do momento que temos mais de 2 mil pessoas morando em um empreendimento, utilizando a piscina, parque interno, etc, há um sentimento parecido com o de ser vigiado. A construção desses novos empreendimentos também utilizam paredes mais finas ou até mesmo de drywall (gesso). Resumindo, você chega em casa e todos os vizinhos sabem.

5. Você vai ter mais estímulo pra tirar a bunda da cadeira e sair de casa. Garanto que é muito melhor do que ter o mundo cercado por muros.

Esse é o Azure Urban Resort Residences, que tem como dona, a Paris Hilton, herdeira dos hoteis Hilton. Mais uma bolha com 1 milhão de varandas assistindo você pular na piscina, jogar futebol, ajeitar a calcinha ou a cueca, etc. Privacidade perto do zero.

Um lugar que tem tudo, não necessariamente é o melhor lugar. Existe um complexo de prédios aqui onde eu moro, já antigo, construído em 2005 por aí, possui até padaria interna, além do tal cinema. Qual é o sentido de trazer a cidade para dentro de um complexo de edifícios murados? A cidade por si só é um “organismo”, você pode fazer muito mais do que sair para o trabalho, voltar e ficar dentro desse mundinho. Participe, faça parte dessa cidade de um jeito amplo.

Quero que você acredite em mim e entenda que ter esse “mundo” dentro do seu edifício é péssimo para a sua vivência. Nós, seres humanos (suponho que você também seja um) precisamos ver outras pessoas, conversar, caminhar, sentir a brisa da tarde e ter contato com o mundo exterior.

Sai fora dessa ideia de “prédio bolha” galera, vai com o velhinho, deixa ele nos trinques e viva com uma qualidade muito maior.

Walter Barroso

Arquiteto, Urbanista e Designer, fez primeiro engenharia, depois se formou em gastronomia e finalmente se encontrou como Arquiteto. Ama tudo que é minimalista. Mais sobre ele você pode ver no seu <a>website</a>