Acontece sempre. Alguém pede pra você carregar algo pesado e diz: “Ué, você malha pra quê?”. Quase sempre, a resposta mais honesta deveria ser: “Estética”.
Por mais duro que seja reconhecer, os exercícios que fazemos na academia podem até nos fortalecer, mas de fato não preparam nosso corpo para tarefas funcionais – a não ser que seu treino seja especificamente voltado pra isso. O desenvolvimento do corpo acaba ficando pra trás, assim como outros valores morais que exigem um pouco mais que suor.
Em 1902, o marinheiro francês George Hébert servia na cidade de St.Pierre na Martinica quando a ilha sofreu uma grande erupção vulcânica. Hébert coordenou a fuga e o resgate de quase 700 pessoas. Tal experiência trouxe para ele a certeza de que atributos físicos devem ser combinados a coragem e altruísmo, surgindo assim o lema “Ser forte para ser útil”.
Link YouTube | Você pode até ser forte… mas consegue fazer isso?
Mais tarde, em 1905, Hébert desenvolveu o que seria chamado de “Educação Física e Moral pelo Método Natural“, ou simplesmente “Método Natural”, inspirado pela observação das tribos indígenas africanas, e de como seu seus corpos eram belos, flexíveis e resistentes apenas pela vida na natureza, sem nenhum tipo de ginástica ou forma artificial de treino.
As 10 capacidades de nosso corpo
George organizou seu método em dez habilidades naturais essenciais para a sobrevivência humana na natureza:
- marchar (longas caminhadas),
- correr (normalmente descalço),
- saltar (com ou sem peso extra),
- movimento quadrúpede (andar em quatro apoios por longas distancias),
- escalar (pedras, montanhas, árvores),
- equilibrar-se,
- carregar e arremessar pesos,
- levantar pesos,
- lutar e nadar.
Os pesos, simulando situações naturais, eram pedras, troncos, às vezes até pessoas.
Em seu sistema, todas essas habilidades deveriam ser treinadas em um período que poderia ir de vinte minutos até uma hora, sempre com ênfase em valores altruístas e na virilidade.
Exercício físico além da motivação estética
O Método Natural foi vastamente praticado no mundo todo, inclusive no Brasil, e agora está voltando, reinterpretado pelo francês Erwan Le Corre, criador do MovNat.
O método tenta resgatar um pouco da masculinidade do ser humano, criar a capacidade de suportar as mais diferentes situações, e incentivar a ideia de que o homem deve ser viril, esforçado, vigoroso, corajoso.
Em seus livros, Hébert vai mais longe e diz: “Sejamos fortes, os fracos são inúteis ou covardes”. Afirma também que o desenvolvimento físico sem uma base moral é completamente inútil. De que adiantariam músculos poderosos se não se consegue correr quinze quilômetros para buscar socorro ou salvar a própria vida? Do que adiantaria tanto esforço em máquinas de musculação se não se consegue salvar alguém que está se afogando, ou lutar pela própria vida ou de sua família?
Mesmo depois de 106 anos, o método natural se mostra cada vez mais atual, em uma época em que o desenvolvimento físico é dominado pela estética, e os valores morais associados a práticas atléticas foram completamente esquecidos.
Você já pensou se seria capaz de salvar um amigo se afogando? Ou talvez seu próprio filho? O que você conseguiria fazer? Teria forças para carregar alguém por várias quadras até um hospital para conseguir ajuda?
Pensar nessas necessidades extremas nos ajuda a exigir mais de nós mesmos.
Aos que gostam de atividade física, eu os desafio a organizar um treino nos moldes do método natural, a experimentar o que é ser forte de verdade.
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