Eu não a conheço, mas prefiro imaginar que ela fode bem. Não sei seu nome real – ela se denomina “Azul” – e nem a sua idade. Mas isso não importa: eu a encontrei disposta a sexo, e isso bastava. Mas não naquela madrugada de agosto: ela estava frustrada com outro cara.
— Saí com um desconhecido. Ele mora num bairro perto do meu. Me ligou três vezes me convidando. Eu não tinha nada planejado mesmo e fui. Combinamos no shopping. Cheguei lá, encontrei-o com seu carrão e sua pompa. Banca de playboy, mas bonitinho. A mulher dele estava no trabalho, e ele ficou me enrolando para não me levar para um bar ou algo assim. Ali no shopping ele disse que o casamento era bom, mas que procurava algo novo. Fez cara de culpa. Conversinha mole, sabe? Eu comecei a ficar indignada! Odeio homem sem iniciativa de propor um lugar certo para sair.
— Entendo.
— Aí ele olha para mim e diz: “Só tem drive-in.”
Puta da vida, ela resolveu não dar para o cara. Nem mesmo um beijinho de boa-noite. Nada. Aparentemente, não sou o único a imaginar que ela fode bem.
Assim como o Fulando do drive-in, encontrei “Azul” no Ashley Madison, uma rede de relacionamento cujos usuários têm um único objetivo: trair. São homens e mulheres de todos os cantos do País buscando desde mero sexo virtual até casos duradouros. Gente que topa tudo: sexo convencional, submissão, bondage, menáge à trois, usar roupa do sexo oposto…
É muita gente – enquanto escrevo estas linhas, dou uma espiada rápida e vejo que há 1142 usuários on-line – e, ao contrário do que meu preconceito me fazia imaginar, há mulheres lindas. Algumas eu apresentaria à minha mãe e pediria em casamento (para, em seguida, elas meterem um galho na minha cabeça.)
Mas a minha dúvida sempre foi: será que essa porra funciona mesmo?
Registrei o desenrolar da conversa com uma das 20 meninas com quem falei:
18:52 – Começo a bater papo com uma libriana de Taubaté. “Solteira a fim de qualquer coisa que lhe dê tesão”, segundo a descrição.
19:16 – Começo a falar com ela por MSN.
19:29 – Passamos para o Skype. Com webcam.
19:32 – Começo webcam com a menina de Taubaté.
19:34 – Marcamos um encontro na cidade dela. Lugar? Um motel.
Quarenta e dois minutos depois de iniciado um contato, a desconhecida e eu temos uma foda marcada para o próximo fim de semana. Com as outras 19, a coisa não foi muito diferente. (E, convenhamos, se eu que sou um esquisito não tive dificuldades, imagine o estrago que um cara bem apessoado como você, leitor, não faria.)
O casamento morreu ou foi só o sistema monogâmico mesmo?
Todas as mulheres com quem falei repetem o discurso:
“Meu casamento é feliz.”
Afinal, o que essas casadinhas buscam no Ashley Madison? Um levantamento interno aponta que 36% quer vingança. O marido é bom numa visão geral, mas deu uma escapadinha infeliz, foi pego e, se já não se tornou um puta de um corno, logo se tornará. Olho por olho, foda por foda.
Mas há mulheres que querem outra coisa. Uma menina de 32 anos chamada Atrevida está com o marido há 16 e nunca dormiu com outros homens.
— Eu só queria conhecer um pau diferente, ver como é sexo com outro cara.
Como argumentar contra isso? Quem de nós pode dizer a uma mulher casada e fiel desde a adolescência que ela não deve provar outros homens? Que deve se divorciar antes de fazer sexo com outro cara? “Atrevida”, se assim fizesse, apenas engrossaria a estatística de divórcios em São Paulo – que tem aumentado assustadoramente: no primeiro semestre de 2011, houve um aumento de 286% nos pedidos de divórcio na cidade, em comparação com o mesmo período de 2010.
“Atrevida” não se separa. “Eu amo meu marido”, diz.
Eu não duvido.
Nota do autor:Por questões éticas, eu não fiz sexo com nenhuma das mulheres por mim procuradas.
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