Quantas vezes uma amiga já conversou com outra amiga sobre masturbação? Na puberdade, você (mulher, claro) comparava sua vagina com a das coleguinhas? Você competia com as vizinhas para ver quem gozava mais rápido? A não ser que você seja de um planeta bem distante e diferente do meu, provavelmente essa experiência tenha sido sempre coberta de tabus e segredinhos não compartilhados.
Ao invés de ignorar o assunto, as mulheres precisam transformá-lo em papo de banheiro. A masturbação é um caminho essencial para o prazer e não pode permanecer nas trevas, como simples ato-de-desespero para mulheres-em-falta.
O problema começa na relação que as mulheres têm com suas partes. Diferentemente dos homens, que estão sempre em contato com seus bagos, nós, donzelas, costumamos manter uma certa distância das nossas pererecas e, por mais absurdo que possa parecer, existem aquelas que ainda não conhecem o clitóris e muito menos as sensações que ele provoca. Falo (na verdade escrevo) com conhecimento de causa. Apesar de me considerar uma mulher bem liberta sexualmente, com a sorte de não ter tido uma educação repressiva, só fui me masturbar pela primeira vez aos 19 anos, muito depois de ter perdido a virgindade.
Antes disso, claro que o assunto já me despertava curiosidade, mas simplesmente não sabia o que fazer para me masturbar. Como mantinha relações sexuais com namoradinhos na época com certa regularidade, pensava erroneamente que, para gozar sozinha, também precisava introduzir objetos para provocar sensações similares à penetração. Felizmente, depois de um tempo de análise, sempre acabava desistindo dos artefatos que havia escolhido para a tarefa, nenhuma cenoura ou escova de cabelo pareciam suficiente adequadas.
Mas a vontade não passava.
Em determinada época do final da minha adolescência, resolvi procurar mais informações sobre o assunto. Como minhas amigas continuavam a não tocar no tema (e provavelmente em lugar nenhum), o jeito foi buscar nos livros algum auxílio. No meu tempo não tinha o Sr. Google pra ajudar. Não precisei ir muito longe. Nos armários da minha mãe, encontrei um exemplar do Relatório Hite, um dos primeiros estudos sobre a sexualidade feminina, publicado em 1976, ano em que nasci. Escrito por uma mulher, o livro traz depoimentos detalhados sobre vários aspectos da vida sexual feminina, inclusive a masturbação.
Mesmo lendo como diferentes mulheres se masturbavam, ainda não tinha coragem de experimentar. No chuveiro, cada vez que começava a me tocar logo abandonava a ideia. Por razões que não sei bem explicar, me sentia patética tentando fazer sexo sozinha. E como nenhuma amiga jamais dividiu comigo o mesmo anseio, pensava que estava realmente sozinha nessa “perversão”.
Somente anos mais tarde, aos 19 anos, em um momento de seca total, durante um período que morei fora do Brasil (e consequentemente longe do namorado), é que de tanto me esfregar na cama, com o travesseiro entre as pernas, em um frenesi desesperado e quase involuntário, acabei gozando, sem penetração nenhuma, só com o estímulo do clitóris e uma excitação gigantesca.
Foi meu primeiro orgasmo e o fim da ilusão. Descobri ali que o orgasmo das mulheres está mesmo no clitóris. E que o orgasmo feminino não é apenas uma onda indeterminada de prazer, como imaginava antes desse momento. É uma sensação bem específica e determinada, com começo, meio e fim. A mulher que não sabe se teve é um orgasmo simplesmente ainda não teve. Não há como não saber.
Nem preciso contar que depois desse êxtase epifânico me masturbei feito louca, feito adolescente. Pelo que me lembro desses tempos de glória, ficava testando quantas vezes conseguia gozar em um mesmo dia. Acho que cheguei em seis vezes, só com a estimulação do clitóris.
Assim como eu, tenho certeza que muitas mulheres, por causa de caraminholas na cabeça que nem sabem explicar muito menos como foram parar lá (seja por causa da religião, da criação ou de inceptions misteriosos), resistem à masturbação e perdem a chance de descobrir mais sobre seu próprio corpo, seus caminhos do prazer, as nuances e intensidades das sensações, os pontos mais estimulantes e tantas outras coisas que, além de proporcionar prazer, podem ajudar a tornar o sexo a dois muito melhor.
Para se ter uma ideia de como a masturbação ainda é fruto proibido entre as mulheres, em uma pesquisa do Datafolha, 78% das mulheres brasileiras afirmaram não se masturbar. Em outro estudo do Projeto Sexualidade (Prosex), 92,1% das mulheres disseram que não se masturbam frequentemente.
Nem é preciso fazer uma pesquisa com os homens para saber que entre eles o índice da prática certamente beira os 100%. O mundo evoluiu, as mulheres queimaram os sutiãs, conquistaram o direito de trabalhar, votar, mas, por razões culturais e antropológicas que demoram a se dissolver, ainda têm dificuldade em encarar o autoprazer.
A masturbação feminina ainda é tão rara – ou pouco falada – que faltam termos para designá-la. Não sei se por preconceito, tenho ojeriza a palavra “siririca”.
Precisamos tocar mais no assunto e em nossas vaginas, xoxotas, bucetas, seja lá como você preferir chamar. Quem sabe com a popularização do ato surja até um novo vocabulário para descrevê-lo. As mulheres falam pelos cotovelos, mas ainda evitam esse assunto. Passou da hora de levarmos a masturbação para as conversinhas de banheiro.
Talvez as leitoras do PapodeHomem, mais acostumadas a falar de sexo, não tenham tantos tabus acerca do tema. Mas como suas amigas tratam do assunto? Como foi a sua descoberta da masturbação? Você se masturba com frequência? Vamos logo começar esse papo de banheiro.
Nota do editor: o mesmo serve para os homens. Conversem com suas amigas, com suas pequenas, com as mulheres que os cercam sobre a masturbação feminina, essa coisa deliciosa que ajuda a desenvoltura delas – para tudo quanto é tipo de coisa, sexual ou não – e só nos deixa mais e mais felizes, se ver, se falar, de ouvir, de saber que existe.
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