Provavelmente já aconteceu com você: em alguma boate, festa, ou ainda navegando pela internet, você se pega ouvindo uma música conhecida, ou melhor, duas ao mesmo tempo. Muitas vezes você não percebe que está diante de um mashup, um estilo bem específico de remix.

O que é um mashup?

Mashup (também conhecido como blend) significa mistura. Parecido com o que acontece em aplicações web híbridas (com a combinação de dois sistemas via API, por exemplo), na música, mashup é a mistura de duas ou mais faixas. A forma mais simples se se fazer um mashup é basicamente pegar toda a base de uma música e sobrepor com o vocal de outra.

Pra não ficar só com palavras explicando o dia todo como é, vamos ver uma fusão dessas na prática: o que acontece quando você mistura “We Will Rock You”, do Queen, com “Hey Ya!”, do Outkast?

E de onde vem isso?

Os mashups como conhecemos hoje surgiram no final nos anos 90, graças ao advento do MP3 e das ferramentas de edição de som caseiras. Isso permitiu que milhares de DJs pudessem trabalhar sem equipamentos profissionais para criar verdadeiras obras musicais.

Em 1999, o rapper Eminem lançou a música “My name is”, considerado um marco na história dos mashs por conter samples (pedaços) de músicas de outros artistas como AC/DC, The Smiths, Vanilla Ice etc.

Mesmo sendo algo novo para o público em geral, no rap isso já era uma prática comum, já que as batidas utilizadas pelos rappers não eram nada além do que um loop de batidas de outras músicas. Contudo, essa história é muito mais antiga do que parece.

Quodlibet

Voltando um pouco mais no tempo, no final do período clássico da música (fim do século XVIII, início do XIX), surgia o Quodlibet (em latim, “agradar a todos”), estilo de composição que mesclava outras obras da época, conhecidas ou não. Um exemplo se encontra no fim das famosas Variações Goldberg, de Bach. Existem ainda registros de precursores do Quodlibet bem antes, por volta do século XVI.

Voltando ao século XX, outros compositores utilizaram de técnicas parecidas pra fazer seus próprios mashs. Frank Zappa desenvolveu uma técnica chamada Xenocronia, em que você tira um solo de guitarra de um contexto e aplica em outra música, criando um ambientação radicalmente diferente. Um exemplo atual disso? “It’s Tricky” do Run DMC com o riff de “Sweet Child o’ Mine” do Guns n’ Roses por cima (eu sei, não é solo, mas a ideia é a mesma).

Pop Bastardo

Por volta dos anos 70 e 80, o músico John Oswald foi um dos primeiros a popularizar um gênero musical baseado nos mashups. Logo depois entram em cena grupos como Negativland, The JAMs and the KLF, Double Dee and Steinski que faziam esse excêntrico tipo de música – parte original, parte um Frankenstein de outras músicas.

Em especial a banda Negativland, utilizou certa vez a base de uma música do U2 para montar outra música por cima. Na época isso ainda não era muito bem visto pelas gravadoras (consideravam plágio) ou pela própria banda, já que a música critica o U2 bem numa época que estavam no auge do sucesso. A música só veio ao público muito depois com a internet.

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A música do Negativland com a base do U2 (infelizmente não tem vídeo, apenas o áudio)

Um marco dos anos 80 dos mashups foi a versão do RunDMC de “Walk this Way” (Aerosmith). Embora não considerado um mash, já que a releitura foi feita junto com Joe Perry e Steven Tyler, em estúdio, não deixa de ser um dos pontos importantes, ao misturar a batida do rap com as guitarras distorcidas do rock.

Nos anos 90, surgiram outros grupos, mas foi só em em 2001 que surgiu o nome Pop Bastardo (Bastard Pop em inglês) pra definir todo esse gênero de músicas misturadas. Nesse mesmo ano surgiam os sites Get your bootleg on e Boomselection (hoje inativo) que serviram para dar um up no movimento e criar uma comunidade de músicos, DJs e entusiastas ao redor da cena de bootlegs (outro nome dado aos mashups).

Nesses sites os membros podiam encontrar dicas, material, capellas, batidas, e principalmente, participar de vários desafios (com tom de concurso) que ajudaram a levantar vários DJs especializados nesse gênero. Algo que hoje se vê no MashupTown.


Performance do DJ Pantshead da Evolution Control Comittee num mashup de Led Zeppelin vs Britney Spears

Em 2005 também surgiu a Bootie em San Francisco, a primeira casa noturna especializada no gênero. Além disso, a Bootie mensalmente lança seu Top 10 de melhores mashups, considerado pela comunidade de mashups a melhor referência para o que há de bom rolando por aí.

Remix vs Mashup

Muitos consideram o remix uma forma de mashup. De fato, ele é um tipo de remixagem, utiliza o mesmo processo, mas para fins diferentes. Enquanto no remix a ideia é fazer uma releitura de uma música com elementos diferenciados (uma base de drum’n’bass, uma batida de house), no mashup a releitura é feita com duas músicas (em alguns casos mais).

Mesmo seguindo um processo parecido, no remix geralmente se muda a batida, alterando o vocal mudando apenas o tempo ou aplicando alguns efeitos. Em alguns casos a música fica levemente reconhecível, exceto por alguns elementos como capellas (pedaços de vocal que são marcantes), batida ou riffs.

Se você nunca ouviu um mashup, pode facilmente confundir com um remix em uma boate, porém, depois de entender um pouco mais do assunto, facilmente vai conseguir entender onde fica a linha que divide os dois.

No próximo texto, farei uma viagem por alguns mashups bem legais e indicarei uma banda que consegue misturar mais de 10 músicas diferentes em uma só, criando algo completamente novo e lúdico. Aguardem.

Gus Fune

Hacker de viagens, se tem wi-fi pode ter certeza que ele ainda chega lá se já não foi. Trabalha de qualquer canto cuidando da <a> Epic Awesome</a> e fazendo suas próprias regras."