A menos que você seja estilista, modelo, estudante de moda, vendedor de loja de roupa ou algo do tipo, talvez você já tenha imaginado que "a moda" é um universo complexo e distante da sua realidade.

Acontece que, no momento em que escolhemos uma roupa para sair de casa de manhã – e pode ser qualquer uma –, já estamos fazendo algo que é parte do mundo da moda. 

"Estilo? Moda? Para que serve? Onde vive? O que come?" | Este é o Rodolfo no primeiro encontro sobre estilo, mas a fala é brincadeira nossa. Foto: Ismael dos Anjos 

O jeito como a gente se veste reflete uma parte de nós e vai ter um efeito na maneira como as pessoas ao nosso redor nos enxergam. Nossas roupas são uma forma de comunicação. Mesmo quando dizemos que não estamos nem aí para o que dizem, ainda há uma mensagem sendo passada, estampada nas nossas roupas, dos pés à cabeça.

Se é inevitável que nossas roupas falem algo por nós, por que não usar esta ferramenta de comunicação a nosso favor? 

Eu sei que muita gente já parou para pensar em questões sobre moda e estilo. A prova disso é que, quando lançamos o "Mas você vai de chinelo?" –curso básico de estilo que criamos em parceria com Havaianas – choveram inscrições! Foram mais de 650 candidatos, mais que o triplo do esperado para um projeto que estamos fazendo pela primeira vez.

Escolher os participantes deu trabalho! Depois de muito suor, conseguimos chegar a uma lista com 14 nomes.

Buscamos criar um grupo diverso, com pessoas de várias idades, cores, tamanhos e sexualidades. Apesar de todos serem residentes da região metropolitana de São Paulo, tinha gente de diversos lugares do Brasil, de Recife a Brasília. 

No último domingo (18/08), reunimos esse grupo de 14 homens para um encontro aqui em São Paulo com dois caras que são verdadeiras autoridades quando o assunto é estilo: o Rodolfo Kanematsu, que é nosso parceiro no projeto, e o Alberto Solon, um especialista convidado.

O plano era ouvir a galera que estava participando – suas dúvidas, dificuldades, aflições – e depois começar a bater um papo sincero e cheio de soluções com nossos gurus da moda.

E aí fomos surpreendidos pela segunda vez.

Aula em forma de roda de conversa é muito mais legal. Foto: Ismael dos Anjos

Criamos o "Mas você vai de chinelo?" para levar alguns conceitos de estilo e estética para homens de um jeito descomplicado e direto ao ponto. No entanto, só este primeiro encontro já nos mostrou que o curso traz muito mais que isso. 

Sim, conversamos sobre modelagem, combinações, peças de roupa do passado e do presente… Mas, além disso, também falamos de desafios da vida real: de obstáculos que nos impedem de nos vestir de um jeito original, dos medos de fazer feio na rua, no trabalho, com os amigos, parceiros ou parceiras.

Essa foi a parte mais legal do encontro: entendemos juntos que encontrar e aprimorar o próprio estilo é o mesmo que se comunicar melhor e, quando a gente se comunica bem, nossa relação com o mundo a nossa volta muda.

Coisas interessantes acontecem aos domingos

Fizemos o encontro no Espaço Havaianas – a loja conceito da marca que fica na Oscar Freire, uma rua famosa aqui em São Paulo. Recebemos o pessoal com um café da manhã reforçado, já que o dia seria longo. Numa rodada de apresentações, a gente já começou a se conhecer melhor e entender que caminhos levaram cada um até aquela roda de conversa.

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O Jonny, por exemplo, só descobriu aos 31 anos que calça 45 (e não 42) e que usou calçados menores que seu pé a vida toda. Também teve o Gael, um homem trans que se inscreveu no curso porque está em busca de uma masculinidade fora do padrão na qual ele se sinta mais confortável.

Aí já pudemos ver que tínhamos acertado ao selecionar um grupo tão diverso.

O papo com Rodolfo Kanematsu e Alberto Solon foi tanto para lados mais cabeçudos e filosóficos – discutindo a importância e a função da moda no cotidiano – como também deu conta de tirar dúvidas técnicas, afinal "qual a altura ideal da barra da calça quando se está usando chinelo?"

Algumas lições práticas mais profundas ainda vão surgir ao longo da jornada – esse foi apenas o primeiro de uma série de encontros presenciais sobre o tema com este grupo.

Além disso, para que outros homens também possam aproveitar o conteúdo, mesmo estando em diferentes cantos do Brasil, a partir de setembro vamos publicar vídeo aulas curtinhas e com dicas diretas de como se vestir melhor em qualquer ocasião. Ou seja: tem muito chão pela frente!

Dica: ajustar uma camisa para o seu tipo de corpo sai mais barato do que você imagina e pode transformar sua relação com aquela peça. Foto: Ismael dos Anjos.

Estar ali entre especialistas e outros homens com dúvidas parecidas no que diz respeito a roupas e estilo trouxe muitos aprendizados. A maior parte da turma nem imaginava que as pessoas ditas “bem vestidas” costumam ter o hábito de levar roupas novas para um costureiro ou costureira para que elas tenham um caimento melhor. 

Ao fim do encontro, distribuímos um vale-compras de R$ 750 que os alunos escolhidos poderiam usar em produtos Havaianas. Na hora de escolher, os alunos aplicados já correram para tirar dúvidas sobre caimento e combinações com Rodolfo e com Solon.

Não conto nada disso para fazer inveja em quem, infelizmente, não entrou para o time de escolhidos. Conto porque acredito que mais homens podem se abrir para a possibilidade de pensar um pouco mais em estilo, em como nosso visual pode deixar de ser um “problema” e passar a ser uma ferramenta que ajuda na nossa autoestima, confiança pessoal, imagem profissional, entre outras coisas. 

Alexandre, Ronaldo e Paulo, três dos nossos 14 escolhidos, curtiram a experiência. Foto: Ismael dos Anjos

Lembrando dos comentários que ouvi dos 14 caras depois da euforia do fim do primeiro encontro – vários disseram que já estão a fim de colocar em prática as primeiras lições, e todos se mostraram ansiosos pelo próximo encontro –, temos fortes indícios de que este curso, que vem cheio de reflexões, pode ser o primeiro passo para uma transformação profunda de dentro para fora.   

Em breve, teremos mais novidades sobre as aulas online do "Mas você vai de chinelo?".

Estamos preparando o conteúdo com bastante cuidado. Só precisamos que você se dê essa chance de “molhar o pézinho” e experimentar um pouco do mundo da moda, topa?

 

Otávio Cohen

Otavio Cohen aprendeu a contar histórias em Minas Gerais, mas vive em São Paulo há oito anos. Como escritor, lançou três livros de não-ficção pelas editoras Abril e Planeta. Como jornalista, passou pela redação digital da Superinteressante, colaborou com Viagem & Turismo, Mundo Estranho e Guia do Estudante, e foi editor de infografia para livros didáticos da Editora Moderna. Especializou-se em branded content e realizou projetos para marcas como HBO, Motorola e Medley.